As luzes da enfermaria vibravam de forma desconfortável, latejando as têmporas da Genin. Esforçava-se para não deixar o cansaço transparecer, continuar com o rosto neutro e não permitir que olhassem por entre as rachaduras da mentira que tecera tão cuidadosamente. Sobre quem era, sobre porque estava ali… Era crucial, difícil e perigoso a sombra em que estava se deixando. Até agora, a trêmula presença do medo permeava seu ser, o estado de pânico que estava desde que colocou os pés naquele lugar horrível. Deixou os olhos seguirem os movimentos da médica silenciosamente. As feridas da nukenin eram tratadas com cuidado, e a pequena lutou contra o rapto dos seus nervos em pular quando a mesma grunhiu de dor um pouco mais alto.

Mais um minuto encarando seus dedos avermelhados contra o lençol desbotado, e um pequeno pedaço de algodão estava limpando a ferida em seu rosto. Forçou sua língua e seu corpo a permanecer imóveis durante o processo, engolindo a ardência da pomada aplicada na escoriação. Sorriu fraco para a enfermeira, sua frase repleta de dor e deixando as palavras perderem força. Propositalmente, dançando no papel que desempenhava ali dentro.

“Obrigada, Senhorita Estella… Por tudo.”

Por não ter perguntado como chegamos ali, por ter oferecido um abraço a uma criança desesperada sem hesitar. Suzue não conseguia não se sentir mal em não contar a verdade para ela, mas mesmo assim… Não sabia e não era seguro assumir como a ANBU trataria a gentil alma que lhe apoiou caso ela soubesse a verdade sobre a missão. Não, era melhor que ela não soubesse.

“Não agradeça, pequena, esse é o meu trabalho. Agora vamos, descanse.”

O sorriso era caloroso, como raios de sol após uma noite de tempestade. Yoko olhou para a garota e para a enfermeira, Suzue percebeu em sua visão periférica, mas dessa vez permaneceu quieta em vez de questionar a Senju. Virou-se e deitou na maca, movimento espelhado pela outra paciente. As duas permaneceram assim, e com um murmúrio quieto, Suzue perguntou:

“Como é o nome de seu filho?”

Minutos silenciosos se passaram, e Suzue quase dormia quando uma resposta chegou em seus ouvidos.

“Kawaki.”

Acordou com uma forte dor de cabeça, e percebeu então o longo período de jejum que havia permanecido. Desde que chegou, seu medo gritava tão alto que nem ao menos lembrava do estômago, e agora as consequências haviam chegado. Para sua sorte, o relógio batia o horário do café da manhã. Alguns guardas bateram na porta, e Estella deixou que entrassem ao que eles estavam incumbidos de escoltar ambas as prisioneiras para o refeitório. Yoko abriu os olhos com os passos pesados e o barulho metálico da armadura, e estava provavelmente cansada demais para pestanejar nessas circunstâncias.

Comida era mais importante.

Andaram até o refeitório, onde Suzue reparou no número dobrado de guardas. Aparentemente, a infiltração de ontem havia deixado todos ansiosos sobre segurança. As prisioneiras se aquietaram sob o olhar atento das guardas, e comiam silenciosamente, e Suzue procurou um lugar próximo de sua protegida para se sentar. A comida, sinceramente, tinha o pior gosto que Suzue já havia experimentado. Apenas mentalizando persistentemente os nutrientes úteis em cada porção que levava a boca, conseguia engolir a massa cinzenta em seu prato. A dor de cabeça se acalmava aos poucos, e logo o refeitório começou a se esvaziar. Contou os guardas acompanhando a nukenin serem mais que o dobro do comum, e decidiu que estaria segura até o cair da noite. Agora, ela só precisaria esperar.

Dessa vez, ao entrar em sua cela, nem ao menos olhos em direção sua colega de prisão. Não que ela se importasse, nem ao menos levantando os olhos do livro que segurava como um tesouro nas mãos. Subiu na beliche de forma dolorosa, e deitou encarando o teto. Agora, no silêncio, era difícil ignorar as palavras que havia ouvido durante a noite.

É claro que Suzue entendia que a vila não era perfeita, mas… ela não havia encarado esse fato, não até hoje. A pequena criança, Kawaki, como estaria ele agora? Perdido? Sem sua mãe, como ele sobreviveria nesse mundo ninja? Sentia-se perdida, atordoada pela crueldade do mundo. Por que um Hokage concordaria e agiria dessa forma?

Se parou nesse pensamento, não tendo forças para descobrir onde esse raciocínio a levaria. Preferiu perder seu tempo contando as marcas da parede, imaginando as histórias que já passaram por aquelas paredes. Abominando a roupa que estava usando, implorando mentalmente por um banho. Suas indagações sem sentido levaram-lhe segundos, minutos, horas, e finalmente o dia. O pôr do sol veio como uma promessa da primeira flor da primavera, trouxe consigo esperança.

Manteve os olhos abertos quando a Hyuuga começou a roncar, até que uma sombra corpórea pousou na frente de suas grades, abrindo-as devagar. A genin desceu da cama com cuidado, caminhando silenciosamente com o ninja. Se encontraram com a outra parte do grupo quase imediatamente, a guarda da prisão com os olhos enevoados e confusos. Não parecia entender o que estava acontecendo ali, conforme levavam a Yoko um pouco a frente de mim. Seguimos até a saída, passando por alguns guardas em estado semelhante.

Fora da prisão, os caminhos se bifurcam, provavelmente para evitar rastros. Uma única vez, Suzue olhou para trás, vendo a figura que havia abalado seu mundo desaparecer rapidamente.

Rápido, e sem uma palavra.

Enquanto andavam, o ninja mais velho parou repentinamente. Apontando para o leste, movimentou para que Suzue andasse até lá. A garota achou um pequeno rio, batendo até sua cintura. Não conseguia atravessar sem manipular chakra, então olhou confusa para o homem, que insistiu.
Suspirou, pisando na água.

Olhou em questionamento para o ninja, que movimentou para que fosse mais fundo.

Andou até o centro do rio, quando sentiu um formigamento em sua barriga. Seria…?
Mergulhou no rio, e sentiu a correnteza levar o selamento para longe. Era como tirar um peso das suas costas, e quando levantou-se novamente, sentiu-se uma pessoa diferente ao olhar para o mundo.