Naquele dia as manifestações da vida e da morte travaram um duelo que parecia durar horas, a morte implorava para levar a vida daquela jovial mulher, enquanto a vida tentava poupar uma perda tão jovem. Ambos os espectros não queriam ceder, mas jamais podiam se derrotar, a única verdadeira forma de encerrar aquele confronto era selando um acordo, e assim se fez, a morte permitiria que a mulher concebesse sua prole, e então tomaria a vida dela, enquanto a vida se contentaria com o nascimento da criança, saudável e com um longo futuro garantido. A mulher em questão era Ariel, mãe de Sariel, que com apenas dezenoves anos concebeu uma criança Uchiha e morreu segundos depois, sendo seu filho sua última visão, que lhe trouxe um sorriso que seu amado jamais antes tinha visto em seu rosto em tantos anos juntos.

Uriel, seu pai, mesmo com a perca da amada, lutou fortemente contra a própria amargura e tristeza que tomava seu peito durante os anos, tentando sempre trazer o melhor para seu filho, de maneira doce. E até conseguiu manter assim até a criança completar dez anos. Sariel, mesmo que nunca tivesse conhecido sua mãe, era o reflexo dela em todas suas características físicas e psicológicas, com seu jeito calmo e comunicativo, era uma lembrança constante a Uriel, que com o tempo não conseguiu manter sua sanidade, afundando na escuridão da própria mente, numa perpetua depressão.

Com dez anos de idade, Sariel já tinha aprendido muito. Demorou para ingressar na escola shinobi, então ainda teria alguns anos nela, não era o aluno com maior aptidão física, mas era um dos mais inteligente da sala, chamando sempre um pouco da atenção para si, principalmente por culpa de sua beleza e de seus olhos chamativos. Foi por culpa disso que adotou aos óculos escuros, tentando amenizar a situação.

Kumogakure nunca foi um vilarejo onde se havia paz, pelo contrário, era constante os acontecimentos caóticos do vilarejo, o que de certa maneira irritava Sariel, a bagunça e baderna causada pelos mais jovens e até mesmo a imprudência dos mais velhos criava um espaço onde a ordem e paz viviam longe. No ano de 1225, Kumo começou um movimento inesperado no mundo shinobi, montando uma base no país do redemoinho. Não havia muito o que esperar do ato, mas logo os boatos surgiram, que o movimento tinha segundas intenções contra os demais países.

Aqueles dez anos de conflito foram satisfatórios para Sariel, no sentido de entretenimento. Ele conseguia ignorar todo o conflito de seu pai se perdendo na própria mente, apenas prestando atenção nos boatos e tentando sempre entender o passo-a-passo do que estava acontecendo nos países vizinhos. Mesmo diante da guerra, nunca temeu a própria morte, pelo contrário, queria estar mais próxima a ela, queria sentir a reação humana diante daquela desgraça.

Em Kumogakure, o povo equilibrava o medo com o próprio nacionalismo e fé de que o vilarejo sairia vencedor, disfarçando um pouco do desespero humano diante do caos. Mas, a ilusão não se manteve por muito tempo. O colapso engoliu a terra de forma inesperada, afetando até mesmo Kumo, que vivia longe do confronto principal. Dali em diante, o caos realmente se fazia presente na nuvem, demostrando todo o medo e pavor da população. O desespero tomava conta, a desesperança de aceitar a derrota, além do caos e morte provocado naquele acontecimento. Muitos familiares perderam filhos e parentes queridos e uma revolta popular surgia no vilarejo.

O fim da guerra trouxe muito impacto ao vilarejo. A cena da chegada de A., Raikage de Kumogakure, trouxe um abalo surreal a população, além da revolta popular que ascendeu naquele momento. Sariel estava presente naquele momento e parecia ignorar totalmente a presença da autoridade derrotada, apenas prestando atenção nas inúmeras reações e faces que surgiam em meio à multidão, de desaprovo, decepção, raiva, medo e as raras de conforto que surgiam quando algum parente surgia vivo. Era uma espécie de deleite, observar e tentar compreender tantos sentimentos diferentes em um espaço tão pequeno, Sariel se sentia vivo diante aquele momento.

O fim da guerra trouxe inúmeros pesos ao redor do mundo, mas para Kumogakure o pior havia sido o tratado de paz. Todos sabiam o que ele realmente deveria significar, não passava de uma forma de controlar o andamento do vilarejo, mas ninguém queria que ele fosse desfeito e o temor de que A. fosse capaz de explodir outra guerra assombrava a todos, trazendo o fim tardio, mas necessário ao seu governo, meramente através da pressão popular. Um novo líder ascendeu, servindo como uma marionete perfeita da voz do povo, mantendo a paz.

Sariel se tornou mais curioso que o comum com o fim da guerra, investigando sempre que possíveis pequenos fatos sobre o acontecido, compreendendo todo o caos e dor trazido por ela, mas vendo com os próprios olhos o nascimento da falsa paz no mundo. Mas ele nunca acreditou nela, era fácil manter a paz com a fragilidade dos vilarejos, sem que houvesse uma ambição maior no momento. Kirigakure foi o primeiro a quebrar esse acordo, fechando suas portas e fronteiras, ali Sariel finalmente tinha comprovado sua crença, a paz não existia e seu fim estava mais próximo que nunca.

Sariel elaborou seu plano através daquele ponto, a necessidade de caos no mundo obrigava que a ordem surgisse, pois, ordem não passava da execução dos humanos mediante as leis naturais e inaturais, e o medo obrigava a isso. Kirigakure talvez fosse o próximo caos capaz de unificar os vilarejos, mas ainda sim seria irreal, pois novamente um vilarejo não iria cooperar com os demais, então, para os três grandes vilarejos se unificarem, só faltava que algo superior surgisse no mundo.

Foi então, depois de tanto tempo, que finalmente compreendeu sua convocação ao mundo. Sariel talvez não alcançasse poder suficiente para enfrentar as três grandes nações, mas ele sabia como uni-las, e buscaria isso. Os meios ainda eram nebulosos. Antes a isso, Kumogakure tinha que compreender e viver em ordem, a banalidade daquele lugar era uma falha inaceitável no renascimento shinobi. Planos surgiram, e juntamente a eles o entendimento do próprio chamado, pela primeira vez em tanto tempo Sariel entendeu a necessidade das próprias forças, caminhando em direção ao seu primeiro passo: o poder.