A azulada se encontrava reclusa na biblioteca, desta vez a da escola. Não era incomum para ela passar horas do seu dia lendo as teorias ninja, hoje estudava o Chakra, a energia elementar da vida que servia de base para o poder ninja em seu universo. Um suspiro fundo escapou de seus lábios enquanto passava os olhos pelo pergaminho, buscando de forma rápida o que realmente precisava. Sobre a mesa em que estudava, havia dez ou mais pergaminhos, alguns enrolados, outros abertos e jogados de lado, todos eles esquecidos uma vez que não continham a informação desejada.

Apesar de ter tido aulas na academia de Kiri sobre o conceito de Chakra, seu intuito naquela revisão não era reforçar a base de seu conhecimento, afinal o tema era algo bem simples e bastante comum para ela e qualquer um que almeja se tornar um grande ninja. Só um tolo se esqueceria da importância que era o Chakra.

Logo, o principal objetivo de Emília era melhorar seu controle no uso daquela energia.

Fosse por sua linhagem, ou pura sorte, até onde era de conhecimento da jovem estudante, Emília era possuidora de grandes reservas de chakra. Porém, ao contrário da irmã, intitulada pelos Hozuki como uma gênia entre a nova geração, a azulada não possuía um controle preciso, sendo rebaixada diversas vezes por essa "falha", como sua mãe insistia em chamar. Felizmente, ela descobriu que era algo que possuía solução através da prática.

Quando finalmente seus olhos encontraram o assunto que tanto procurava, Emília se levantou de súbito soltando um grito agudo que chamou a atenção do bibliotecário. Constrangida pelo olhar furioso do homem, a Hozuki se encolheu.

— M-me… Desculpa! — ela sussurrou se curvando em reverência, voltando a se sentar em seguida para analisar o conteúdo do pergaminho. Assim como ela havia percebido em seus treinos de ninjutsu, apesar de ser capaz de realizar alguns jutsus, havia certa instabilidade durante o uso, o problema estava na execução e o pergaminho lhe abria os olhos para aquele problema. Pelo que continha no papel, ela se encontrava na fase em que contava demais com a “sorte” para o sucesso de seus jutsus, pois não focava em dosar o chakra utilizado na habilidade, tendo um sucesso aceitável custo do uso de muito energia vital. — Isso explica porque minha fonte de Chakra maior não me dá vantagem contra quem tem um controle melhor… se eu sou uma torneira que põe tudo que tem para fora, chegará um momento em que aquele que dosou e atacou com paciência ficará com a vantagem e a mim restará a derrota…

Treino e Bônus:

Desenrolando o pergaminho, era possível notar que existiam formas diferenciadas de treino de controle de chakra. Desde a mais básica, para compreensão do princípio da coisa, até as mais complexas, focando num melhor desempenho na hora de conjurar jutsus mais complexos. A mais simples delas, por sua vez, era o processo de concentrar o chakra num único ponto para realização de uma atividade, como por exemplo: na sola dos pés, para escalada.

De acordo com o pergaminho, era preciso concentrar uma quantia fixa de chakra na sola dos pés, e usar isso para subir em uma superfície plana vertical sem utilizar as mãos. Caso o fluxo de chakra fosse muito fraco, o usuário viria a cair no chão sem nem mesmo chegar a escalar. Se fosse muito forte, o usuário seria empurrado para longe da superfície, danificando-a pela potência de chakra utilizada.

Logo, era preciso atingir o ponto de equilíbrio, em que seria possível escalar sem danificar ou ser empurrado da superfície vertical.

Motivada, Emília se levantou da cadeira e se dirigiu para a área de treinamento da escola. Não era muito longe do local em que se encontrava e em questão de segundos estava diante de uma árvore, cujo tronco era alongado, no pátio externo de treinos.

Inspirando fundo, Emília se concentrou fechando os olhos e unindo as mãos para canalizar a energia. A jovem Hozuki conseguia sentir o chakra fluindo por seu corpo.

Soltando o ar de seus pulmões, a azulada direcionou uma boa quantidade de chakra para a sola dos pés, conseguindo sentir o fluxo de energia percorrendo seu corpo como se fossem as próprias correntes de seu sangue.

Por alguns segundos, Emília fitou a parede com certa descrença. Conseguiria de fato subir? E se não conseguisse? A Hozuki já conseguia visualizar a mãe brotando do nada, pronta para humilhá-la e maldizer seu futuro. Um tremor se apossou de Emília que, imbuída pelo medo e a insegurança, não notou a instabilidade do próprio chakra, que oscilava entre grandes quantias e poucas no próprio pé.

E, como sempre fazia quando esse sentimento começava a tomar conta dela, a ponto de interferir em seu próprio raciocínio, Emília bateu as palmas contras as próprias bochechas fazendo com que, através da dor e do choque, voltasse a si. Estabilizando, aos poucos, o chakra concentrado nos pés.

Esse breve momento serviu para que ela compreendesse que, pelo fato de o controle dela sobre o chakra ser pouco, ele estava sujeito às alterações da vontade dela e, quando a vontade dela perdia consistência o chakra o fazia em igual, resultando na instabilidade sofrida.

Treino e Bônus:

Sentindo que a energia se encontrava mais estável na sola de seus pés, Emília tomou uma distância de três metros da árvore e começou a correr, para pegar impulso. Sem deixar muita margem para pensamentos sobre lógica, como o fato inegável de que a força gravitacional a faria cair de bunda no chão, ela confiou em sua própria capacidade para realizar aquela atividade. Afinal, se deixasse as emoções confusas tomarem conta de si, não conseguiria controlar o chakra de forma devida dando margem para que o que tanto temia acontecer, sua queda.

Quando a sola dos pés da Hozuki tocaram o tronco da árvore, ela se sentiu estranha. Era como estar em uma das pinturas de Escher onde a parte de cima dependia do ponto de perspectiva em que você se encontrava. Sendo o tronco lateral da árvore o seu “chão”, agora, o horizonte de Emília era preenchido por folhas verdes e um grande fundo azul, o céu, enquanto ela escalava a árvore como se estivesse caminhando no chão.

Graças ao impulso inicial, Emília ainda corria, tentando alcançar o ponto mais alto que poderia ser capaz naquele momento, a adrenalina pulsava pelas veias da menina que se encontrava num misto de êxtase e descrença com a situação que vivenciava. Seus passos eram largos e em questão de segundos, quase dois minutos, ela percebeu que havia passado da metade da altura da árvore e faltavam não mais que uns poucos passos para conseguir chegar ao topo, ofegante não por cansaço, mas pela nova experiência, Emília olhou para trás, percebendo que se encontrava há quase quatro metros do chão.

Com receio, a genin saltou na superfície do tronco e observou, com espanto, os pés voltarem a “grudar” na superfície graças a fina camada de chakra visível em sua sola. Visando testar todas as possibilidades daquela nova realidade, a de andar em paredes ou superfícies verticais, Emília fitou à árvore mais próxima, como se calculasse a distância entre a cerejeira na qual se encontrava e a grande árvore de folhas verdes ao lado.

Por sorte havia um galho de cerejeira que diminuía a distância entre as duas árvores. Correndo sobre a superfície do galho de folhas rosadas, Emília tomou impulso para alcançar a árvore de pigmentação verde. Um frio tomou conta de sua barriga enquanto passava por aquela nova experiência. Por isso, talvez, ela tenha se desconcentrado, e quando os pés de Emília tocaram a superfície do tronco, eles não se fixaram e a gravidade fez seu serviço.

Treino e Bônus:

As íris azul escuro fitavam com intensidade a pequena arma em suas mãos. Era uma kunai de não mais que dez centímetros de lâmina e cabo de mesma medida. A garota girou o item metálico em seu dedo, como se testasse seu peso, apesar do tamanho, era bem leve se comparado com outros itens usados pelos ninjas. O interesse de Emília na arma em questão não era repentino, além de ser uma de suas armas preferidas, recentemente, em uma das aulas da academia, os professores tinham informado que era comum que os ninjas imbuíssem suas utensílios de combate com a energia físico-espiritual, segundo sua professora a energia imposta na lâmina aumentava a sua precisão, o seu poder de corte e em certos casos, até mesmo seu potencial destrutivo.

Sem executar a técnica, a genin se aproximou de um tronco de árvore e desferiu um golpe limpo horizontal, da direita para a esquerda. A intenção era clara, deixar um registro de como eram seus ataques com e sem o auxílio do chakra. Por último, fez uma marca de “1” com a arma ao lado do corte realizado. Evitando analisar muito o corte, isto ela o faria após o teste com a arma imbuída em chakra onde teria resultados que poderiam ser comparados. A Hozuki, então, se afastou um pouco do alvo e se pôs a concentrar-se. Por ainda ser uma iniciante, era necessário um pouco de tempo para executar a técnica, fazia sentido, seu controle de chakra ainda era baixo e irregular.

De olhos fechados, a azulada regulou a respiração e aos poucos foi sentindo a corrente de chakra fluindo por seu corpo. Com um pouco mais de concentração, direcionou parte dessa energia para a mão que empunhava a kunai que, aos poucos, foi envolvendo a lâmina com uma aura azulada, seu chakra. Com os olhos abertos, Emília executou o mesmo golpe sem mudar nada, nem mesmo a intensidade de força aplicada. Quando a lâmina imbuída em chakra tocou a superfície do tronco, foi como passar uma faca na manteiga. A diferença era perceptível durante o golpe, a Hozuki não precisaria analisar os cortes separadamente, já estava ali a resposta. Enquanto o primeiro tinha sido superficial, o segundo golpe era completamente diferente, devido a pouca força imposta, não tinha sido tão profundo quanto poderia, mas ao contrário do primeiro, uma fenda da espessura da lâmina havia sido aberta no tronco. Em êxtase, Emília continuou o treinamento, executando a técnica de imbuir a arma em chakra a cada novo golpe, cada um diferente do outro, testando as possibilidades. Às vezes aplicava mais força, em outras ocasiões concentrava mais chakra. A maior das vantagens do uso daquela técnica era o fato de garantir de forma mais eficaz a integridade da arma. Apesar dos diversos golpes, sua Kunai não estava dentada da forma que deveria ter ficado, mesmo sua ponta estava firme.

Treino e Bônus:

O sentimento de fraqueza era algo recorrente para Emília. Enquanto Emma, sua irmã mais nova, já tinha recursos e acessos a conhecimentos ninjutsus mais avançados, a azulada sequer conseguia realizar um simples jutsu de henge. Era surpreendente até que ela soubesse realizar o suika, o jutsu familiar. Porém, mesmo que conseguisse realizá-lo, nem sempre o fazia com maestria.

Sempre visando ter o melhor desempenho, Emília tirava horas do dia para simplesmente treinar a técnica da família, mesmo que já a soubesse. Afinal, quanto mais treinasse, mais rápido a executaria e, em uma batalha de vida e morte, tempo era algo precioso demais para se perder com a execução de um simples jutsu. Visando marcar o tempo, a genin ativou um cronômetro, preso ao pescoço por um cordão, antes de começar a executar a técnica

Por hábito, Emília se encontrava de olhos fechados, aquilo a ajudava a sentir com mais propriedade a energia espiritual, sua respiração era tranquila. Com maestria ela realizou os selos correspondentes ao suika, canalizando a energia para que fosse combustível a sua vontade, apesar de rápidos, seus movimentos eram suaves e não havia erros naquela já tão conhecida sequência.

— Suika no Jutsu! — Emília exclamou em alto e bom tom e no mesmo segundo sentiu as próprias moléculas mudando. Em tempo real viu as próprias mãos deixando de ser sólidas e virando algo líquido que, por mais incrível que parecesse, ainda tinha certa consistência, como uma gelatina. Apesar de ser algo comum, afinal era um jutsu familiar que treinava desde a mais tenra idade, aquela era uma sensação estranha, ver seu corpo mudar de matéria de uma forma tão surreal, sempre que realizava a técnica se encontrava absorta com aquelas peculiariedades.

Assim que o jutsu foi completado, ela se moveu para apertar o cronômetro, analisando o tempo de execução decorrido. Exatos cinquenta e cinco segundos se passaram, era tempo demais. Emília sabia que tinha que ser mais precisa, mais eficaz, cada segundo no campo de batalha seria como ouro para ladrões, precioso.

Outro grande problema daquele jutsu era o fato de consumir uma boa quantidade de chakra. Logo, além de ser obrigada a usá-lo somente uma, no máximo duas vezes, se tivesse sorte até mesmo três graças a sua atual condição de portadora de grandes reservas de chakra, ela tinha que ser esperta para escolher o momento oportuno. Até mesmo treinar aquilo era… complicado, provavelmente teria apenas mais duas chances para melhorar a velocidade de ativação antes que seu chakra se esgotasse completamente.

Mesmo com essas limitações, a genin continuou, afinal, somente praticando é que conseguiria evoluir. Mais uma vez ativou o cronômetro, como de praxe, Emília lançou a sequência de selos mais uma vez, tão enraizada em sua mente que era quase como um movimento robótico. Tentou executar com a melhor precisão e velocidade que lhe era possível e, quando soltou em alto e bom tom “Suika no Jutsu”, observou, mais uma vez, a própria estrutura molecular se alterar. De súbito agarrou o cronômetro em seu pescoço, parando o timer e, com felicidade, observou que tinha conseguido realizar a técnica com exatos cinquenta e quatro segundos. Um segundo poderia não ser uma mudança significativa mas, demonstrava evolução.

Instigada por esse mísero segundo, Emília tentou mais uma vez.

Treino e Bônus:

Não era sempre que ela tinha um parceiro de treino. Quando Gin, um rapaz alto de cabelos alaranjados, a chamou para um combate corpo a corpo, Emília não sabia o que esperar, era a pessoa com menos experiência no ramo, na realidade, havia muitos aspectos do próprio conhecimento que ela acreditava estarem em menor grau comparado aos de seus colegas de classe. No entanto, ao contrário do que qualquer pessoa normal faria, obviamente recusar a oferta visto que Gin era um dos melhores combatentes da classe, Emília exibiu seu melhor sorriso quando decidiu aceitar a oferta, afinal, mesmo uma surra iminente poderia ser usada como forma de evoluir e, se tivesse muita sorte, talvez Uraraka Gin tivesse alguma piedade para com ela.

As mãos se cumprimentaram antes do início da batalha e ambos tomaram postura, era um combate simplório e ambos tinham acordado que não fariam uso de jutsus ou armas. Emília sentia o corpo tremer de antecipação enquanto aguardava por algum avanço da parte de Uraraka. E como previsto, ele avançou e mesmo que a Hozuki já esperasse por ele, ela travou, incapaz de fugir. O soco veio certeiro em sua face e pontos negros surgiram em sua visão fazendo com que a ficha caísse, Gin não facilitaria para ela. Entretanto, receber aquele golpe havia sido, de certa forma, bom, afinal, ela tinha visto cada passo do golpe executado pelo rapaz e tentaria executar da mesma forma, caso sua tontura permitisse.

Ainda cambaleando, Emília percebeu que ele se preparava para mais um soco e provavelmente viria mais outro em sequência. Ao seu redor conseguia ver o amontoado de coleguinhas da mesma idade observando com euforia o inusitado combate. “GIN! GIN! GIN! GIN!”, as vozes infantis ecoavam. Fazendo um “não” com a cabeça, ela tentou afastar da própria mente aquele coro, tinha que se concentrar ou levaria mais um daqueles fortes socos que só Uraraka era capaz de realizar. E, como esperado, o segundo soco não tardou a chegar.

Desta vez ela estava preparada, conseguiu ver de longe a trajetória do movimento que ele executaria e Gin ainda não era tão veloz para mudar o golpe a meio caminho da execução. Com um passo para trás inclinado para esquerda, a Hozuki desviou do golpe. Ela conseguiu ver o punho do alaranjado passar por um triz rente ao nariz dele, porém, a genin não se demorou muito para reagir, aquele era o momento para revidar. Tal qual Gin havia feito no primeiro, Emília imitou. Punhos cerrados, base firme, impulso. Foi a vez do Uraraka de desviar e contra atacar com as pernas dando um golpe bem executado no lado esquerdo da barrigada da azulada.

Emília sentiu o ar lhe faltar por conta do golpe sofrido, mas tentou não se deixar abalar. Precisava de uma tática, só assim conseguiria evoluir. Enquanto sua mente trabalhava em meio a toda aquela ação, os gritos dos colegas aclamando pela vitória do oponente da menina, Gin se estabilizou em pé e executou mais dois golpes em sequência, um na barriga de Emília seguido por outro no rosto.

O cheiro de sangue inundava as narinas da menina que sentia uma dor aguda percorrer sua face além de, claro, ser tomada por uma falta de ar momentânea. Passando as costas das mãos no próprio nariz, Emília confirmou nada mais que o óbvio: estava sangrando, decerto também deveria estar cheia de hematomas pelo corpo mas nada deveras preocupante, era normal que sangrassem em combate, era comum que tivessem hematomas pelos treinos.

Mas Gin não era um monstro, estava pronto para parar. Entretanto, Emília queria, na realidade, ela sentia que precisava continuar, ainda tinha adrenalina correndo em suas veias e ela deveria aproveitar. Com uma cambalhota para trás, a azulada se reergueu. Sua respiração estava rasa e o sangue ainda escorria por seu nariz mas, ela sabia, apesar das dores, que podia continuar. Uraraka a fitou com descrença, mas decidiu acatar a decisão da garota.

Mais uma vez ele avançou e quando ele tentou atingi-la na face, ela desviou inclinando o corpo para trás, levemente mais para a direita. Aproveitou-se da proximidade e do fato de ele estar inclinado para agarrar os ombros de Gin e desferir duas joelhadas contra a barriga dele fazendo com que Uraraka soltasse um gemido de dor. Sem dar tempo para que ele se restabelecesse, Emília desferiu um golpe contra a face dele, mirando diretamente no maxilar.

O rapaz de madeixas laranjas cambaleou para trás, aquele era um evento inesperado, a tímida Hozuki Emília tinha feito Uraraka Gin recuar. “EMÍLIA! EMÍLIA! EMÍLIA! EMÍLIA!”, colegas gritavam afoitos. Foi com essa visão satisfatória aliada pelo coro dos colegas que Emília se rendeu ao cansaço e caiu no chão desmaiada

Treino e Bônus: