O clima úmido sempre foi uma característica ardente daquela nação, afinal a quantidade hídrica de reservatórios e nascentes ao seu redor faziam jus ao país da água, mas não é como se toda a arquitetura e construção de Kirigakure caminhasse contra isso, a presença de água era visível em quase toda a extinção urbana. Claro, tudo era tão diferente dos climas secos inundados pela relva verde na qual o garoto passou vagando durante seus primeiros anos de vida, mas apesar de tudo ainda conseguia nutrir um forte apreço pelo local na qual pode chamar de lar.

Os punhos de Suyoshi estavam fechados, vermelhos e rígidos feito um pedaço de granito, o suor marcava pequenas linhas que visivelmente escorriam pelas maçãs de seu rosto. Estava fadigado, o mínimo que esperava para qualquer outro treino habitual que ousasse fazer. Todas as tardes a sua única preocupação era com a desenvoltura de seus traços físicos, trabalhar a estabilidade corporal ao colocar-se em sequências estressantes de pura tensão, desta vez não estava ali para progredir com sua força ou agilidade, mas sim trabalhar em sua chance de acerto quando em condições desfavorecidas.

Sempre foi de seu entendimento que lutar com qualquer outro gennin não seria problema algum em questão de um combate físico, conseguiria lidar com golpes, pancadas e qualquer outra movimentação que ousassem usar, porém, sempre houve um ponto no qual nunca havia trabalhado, quais seriam os resultados caso estivesse cansado? A precisão de seus golpes diminuiria? Caso precisasse focar em uma concentração maior de força, sofreria algum retardo na agilidade? Todas perguntas tão simples, com respostas prontas que pouco conseguiam convencer alguém tão cabeça dura como aquele garoto.

— Se o gasto energético for contínuo, obviamente qualquer humano comum vai sofrer com o cansaço. — Subiu o ombro destro enquanto ia de encontro com a própria testa sobre o mesmo, limpando o suor que escorria sem que perdesse a guarda que mantinha com as mãos. 

Logo á sua frente encontrava-se uma pilastra velha de madeira, sobre o seu centro havia um pequeno ponto avermelhado que continha pequenos relevos do desgaste ao seu redor, permaneceu socando aquilo por um bom tempo, sempre mantendo a intensidade de força nos golpes e focando o centro como seu único alvo. A ideia era não perder o ritmo e conseguir manter a precisão independente do cansaço.

— Mas eu não sou um humano comum, então não posso ter as mesmas mordomias de qualquer outro shinobi. — Gesticulou de forma sincronizada ambos os ossos das escápulas, enfatizou o uso da própria massa muscular para que conseguisse desferir outro golpe disponibilizando de toda a força que tinha. Era cuidadoso com a forma que travava os músculos superiores, desde o começo de seu bíceps e até mesmo com a pressão que aplicava nos deltoides; isso era o essencial para evitar qualquer lesão. — Sou Suyoshi, o mais forte de todos! — Esbanjou um pequeno sorriso de canto.

Continuadamente prosseguiu com os golpes, mantendo uma abertura de 50º nos braços, deixando os punhos na altura do próprio rosto e constantemente recuando os mesmos assim que tocavam o ponto avermelhado sobre a madeira. "Toc, toc, toc" era o barulho que ecoava pelo local vazio, não havia mais ninguém ali como de costume, afinal era justo que ninguém permanecesse ao redor enquanto Suyoshi se colocava em situações estressantes.

A dor não incomodava, mas a respiração era algo que atrapalhava, seu corpo se tornava pesado conforme tentasse continuar com as movimentações repetitivas, vez ou outros seus punhos escapavam do centro e atingiam regiões aleatórias do tronco, isso tudo devido à própria visão que se tornava turva em resposta a fadiga corporal. Falhar em uma situação crítica não era aceitável, independente de como for, lutar em um deserto, em altitudes elevadas ou até mesmo em baixo da água, precisava estar preparado para dar tudo de si e não ser fraco.

"Sempre que um shinobi morre, muitas vidas se tornam incertas, então não morra de jeito nenhum!". Essas eram as palavras da mulher que te adotou, sempre sentiu o peso delas em sua mente e por conta disso resolveu se tornar alguém que visa ser o arauto da glória e não da desgraça como um dia costumou ser.

Recuando o cotovelo destro conseguiu trazer o punho para a posição inicial, sua mão esquerda atingiu a madeira no mesmo instante, mas era nítida a falta de precisão que tinha. Não iria ceder ainda, aquele era somente o treino dos membros superiores, ainda tinha o resto do dia para também colocar a precisão das pernas à prova. O garoto de madeixas salmão mordeu o lábio inferior, semicerrou os olhos e então reuniu toda a força de vontade para preparar o próximo soco. Poderia ficar sem ar, mas não erraria nenhum golpe enquanto ainda estivesse treinando.


- Treino de destreza (+1)
- 4.829 caracteres, 806 palavras.

O dia era propício para entender de vez os impactos que algumas situações poderiam causar em seu corpo, consequentemente aprender os próprios limites e ocasionalmente quebrá-los conforme a própria progressão física. O trabalho que mais cedo havia feito com os socos era gratificante; mesmo que seus punhos agora estavam inchados e a dor havia se tornado insuportável. Para a graça de Suyoshi, os deuses - ou qualquer outro ser metafórico que seja - lhe beneficiaram com um belo bar de pernas, então o seu treinamento ainda não tinha chegado ao fim.

Precisou de alguns minutos para recuperar o fôlego, o suficiente para que a própria umidade do ar trabalhasse para esfriar seu corpo ainda mais rápido, junto a isso o ar pesado ainda era um incômodo, por mais que fosse habituado ao clima que envolvia Kirigakure. A tendência é que assim que o corpo esfriar, o peso caia sobre o corpo, toda a energia gasta atinge como um rebote que vez uma única vez e então a pressão sanguínea tende a cair, mas ainda havia trabalho a ser feito e uma dor de cabeça ou tontura não seria o suficiente para derrubar o gennin.

Apoiou ambas as mãos sobre os joelhos, enquanto deixou que todo seu peso ficasse a mercê dos próprios pés e usou disto para se levantar. Iria utilizar o mesmo método de acerto sobre o tronco, mas desta vez utilizando as pernas e não trabalhando com revezamento entre um golpe ou outro, tinha uma ideia melhor para desenvolver a região. A musculatura que envolve às duas pernas é grande, o que garante uma maior concentração de força na região, assim como o fato de ser músculos que são utilizados com frequência e por conta disso o desenvolvimento tende a ser mais demorado, quando que o descanso para a construção de fibras e reposição de proteínas é relativamente curto.

— Serão dez chutes seguidos em um intervalo de cinco segundos, não posso tocar o pé no chão até conseguir atingir a meta. — Disse para si mesmo enquanto se aprontava frente ao tronco. — Assim que completar a série eu posso trocar de perna, fazendo o mesmo movimento novamente. Preciso fechar mil séries, caso eu falhe em alguma, a contagem é zerada. — Inclinou o corpo e então levantou a perna esquerda, sustentando-se apenas com o auxílio da perna direita. Não seria somente os chutes, mas sim que não descansaria a perna em momento algum, já que enquanto não estivesse usando-a para chutar, precisaria dela para sustentar o resto do corpo. — Então é só isso, Suyoshi? Desafio aceito. — Deixou que um sorriso nascesse em seu rosto mais uma vez e então deu início.

Deixando os músculos superiores da perna parados e fixos, somente movia o joelho, de modo que acertasse o centro avermelhado sobre o tronco com o peito do pé. Seria um movimento bem trabalhado caso tivesse tempo e foco para executá-lo, mas nesse caso tinha que ser rápido e deixar os dez chutes em sequência para completar a série. De início não sofreria muito, porém conforme o tempo o seu corpo iria se sentir o baque, mas ceder seria desistir, seria como aceitar a morte.

"Toc, toc, toc, toc, toc, toc, toc, toc, toc, toc!!!". Contabilizou mentalmente os chutes e então rapidamente armou a base para que trocasse de perna, nem ao menos deixou um intervalo de tempo para descanso, simplesmente começou a gesticular a perna para concluir os próximos golpes. "Toc, toc, toc, toc, toc, toc, toc, toc, toc, toc!!!", havia completado uma vez, faltavam somente mais novecentos e noventa e nove vezes. Estava perto, não tinha muito do que reclamar.


A tarde estava próxima do fim, pelo menos era o que podia observar ao ver a luz do sol de distanciar. Regiões com climas mais densos tendem a anoitecer mais rápido, variando em relação as estações do ano ou algo do tipo, porém a forte presença hídrica que se estende por todo o país torna o clima um pouco mais "estável" ao longo dos anos, possuindo alterações rasas nas temperaturas, mas nunca causando fortes mudanças como em climas tropicais. Um shinobi de Kiri facilmente teria problemas para lutar em outros países, assim como os mesmos teriam dificuldade em manter a intensidade em condições climáticas mais brandas.

Os lábios de Suyoshi estavam secos por conta de sua respiração contínua para controlar o desgaste de corpo, mantendo assim uma forte oxigenação que até então era a única coisa que lhe impedia de cair como um boneco de pano no chão. Conseguir mediar o corpo era parte do processo para desenvolver a resistência, assim como manter a mente alerta para que a progressão não se perca em momento algum, o objetivo principal sempre foi manter a linha de acerto e a intensidade, é para isso que estava treinando.

A dor se dividia um pouco para baixo do quadril, centralizando no joelho e também no pé que constantemente estava sob pressão ao entrar em contato com a madeira. Ceder para a dor era inaceitável para o jovem gennin, sua motivação lhe impedia de desistir apenas por conta disso, mesmo que desmaiasse, ficasse com insuficiência de nutrientes ou quebrasse um membro, não perderia para algo tão banal assim. Tinha que ser forte, por conta disso tinha que manter.

"Toc, toc, toc, toc, toc, toc, toc, toc, toc, toc!!!", mais uma série se encerrou e certamente emendou na próxima. — Setecentos e quarenta e dois... — Deixou que as palavras escorressem por seus lábios como se estivesse vomitando-as. O som da madeira sendo atingida já ecoava em sua cabeça como um metrônomo, os golpes haviam perdido um pouco de velocidade, apesar de ainda conseguir manter o padrão e as regras que impôs para si mesmo. Iria concluir aquilo, nem que ao menos precisasse recomeçar e virar a noite.


Um bom tempo se passou e junto a ele a própria noção do tempo, aliás, nessa altura do campeonato o garoto já não tinha nem mesmo a noção de quem ele era. Sua perna subia, mas já nem ao menos conseguia contabilizar se completava as repetições e se elas estavam sendo feitas dentro do intervalo de tempo correto.

— Novecentos e noventa e oito... — Trocou para a perna destra e começou novamente a próxima sequência. Estava exausto, tão fraco que parecia estar em um ritmo totalmente diferente. Não sentia o próprio pé, então nem conseguia sentir a intensidade da força que colocava sobre os chutes, assim como também não tinha mais tato para saber se eles estavam mesmo atingindo o tronco, mesmo assim forçou-se a contabilizar e terminar o que ainda restava.

Seu último chute soou como um último suspiro, seu pé alcançou o tronco e, ao mesmo tempo seu corpo cedeu de vez, não conseguiu nem ao menos comemorar as mil séries e já se atirou para trás, caiu sobre o chão de braços abertos e com os olhos pregados. Estava exausto e a própria inconsciência era fruto de toda a motivação.


- Treino de destreza (+1)
- 6.766 caracteres, 1.178 palavras

Já haviam se passado alguns dias desde que conhecera seus companheiros de equipe, ambos eram um pouco peculiares em questão de personalidade, mas até então havia interpretado que apenas estavam meio tímidos e demoraria um tempo para se soltarem de verdade. Havia tido um rápido combate para que então pudesse reconhecer um pouco mais sobre as habilidades de cada um, não que isso fosse totalmente junto, afinal eles não tinham a mesma disposição para combate corpo a corpo.

É claro, os shinobis tendem a depender de uma série de técnicas, sejam estas pendentes para a arte do Ninjutsu, assim como também para o Genjutsu; mais uma série de artes perdidas por aí. É importante ter uma base sobre cada, mas de que adianta ter o conhecimento de algo e não conseguir sustentar isso? Pelo menos essa era a sua forma de pensar sobre as coisas, não tinha como aprender outra arte antes que finalmente atingisse seu ápice em uma.

— Queria que eles tivessem aqui, é muito mais divertido treinar em grupo... — Comentou consigo mesmo ao chegar no mesmo lugar de sempre.

A última vez havia saído um pouco do controle, se não tivesse sido forte o suficiente a “criatura” interior teria saído, podendo comprometer a segurança de seus companheiros e até mesmo de outras pessoas da aldeia. Não queria presentear Misato com mais mortes, estava sob responsabilidade dela e qualquer problema que acontecesse cairia sobre suas costas.

Não queria perder tempo, sendo assim caminhou rumo ao primeiro tronco que surgisse, parando frendo ao mesmo e então retirando o casaco. A bandana ainda estava presa em seu pescoço, sempre ressaltando o símbolo de Kirigakure, em um ponto estratégico, garantindo a sustentação de sua cabeça, quem ousasse retirá-la precisaria lhe matar primeiro.

— Da última vez aprendi que quantidade não equivale à intensidade, então não vai adiantar disparar mil golpes se eu simplesmente não consigo aplicar força neles. — Abriu ambas as mãos e então começou a executar movimentos repetitivos de abre e fecha. Estava pensando em como melhorar a taxa de acertos, mas sem que precisasse ceder a velocidade em troca de força, queria manter os dois.

As alternativas para a própria evolução sempre é um pouco complicadas, ainda mais em questões físicas onde cada característica sempre tem um pouco de impacto dentro de um combate. Ainda perdido sobre os próprios pensamentos, ousou começar com o treino, cada segundo parado era experiência a menos. Deixou os dois pés próximos, garantiu que boa parte de seu peso fosse distribuído sobre as panturrilhas, onde com movimentações consecutivas ao jogar o quadril de um lado para ou outro conseguia estabilizar a postura, os punhos agora fechados subiam frente ao seu rosto, deixando apenas os olhos livres para que tivesse o campo de visão livre.

— Não posso ser surpreso por nenhum ataque se tiver domínio do que se encontra dentro do meu espaço... — Agora começou a mover os ombros, de modo que estes também fizessem o mesmo trabalho que seus quadris tinham em suas pernas, distribuir o peso e tornar o movimento da região mais estável. — Então todo idiota que for idiota o bastante para atacar Suyoshi... — Deu um ríspido passo para frente, onde então subiu o joelho de forma brusca e o inclinou de modo que atingisse em cheio ao tronco de árvore, sem que houvesse intervalo algum também desferiu um soco único em direção ao mesmo alvo utilizando a mão direita. — Vai ser atingido por todas as direções possíveis. — Com rapidez retornou os membros, deixando-os na mesma base de origem.

Mesmo que tivesse total domínio do alvo dentro de seu campo de visão, como ficariam aqueles que talvez tentassem lhe pegar desprevenido? Bom, é óbvio que não teria piedade alguma com covardes. Em um gesto único garantiu que distribuísse outro soco, agora com o braço esquerdo, sua velocidade e precisão foram certeiras, mas emendou uma movimentação rápida, na qual se virou para trás ao girar os calcanhares junto ao tronco, sequenciando um rápido chute no qual cortou o ar horizontalmente. A intensidade que aplicou sobre as pernas fora tão grande que seu corpo girou 360.º sobre o próprio eixo, fazendo com que o golpe tivesse seu fim sobre a mesma árvore que antes estava a sua frente. Ao atingi-la deixou escapar um pequeno rosnado.

— Não... Eu não mirei ali. — Estava descontente com o resultado, não era desse jeito que via seu golpe, queria executá-lo de forma perfeita, onde jamais variasse na questão do acerto, precisava estar ciente do ponto antes mesmo de começar a atacar. A incerteza nos golpes garante que o adversário é mais forte, sendo assim ele pode bloquear e até mesmo conseguir armar qualquer outro contra-ataque, o shinobi mais forte de todos não queria que isso acontecesse em momento algum. Tinha que ser absoluto, ser confiante e direto.

Por mais vinte vezes prosseguiu com a mesma movimentação, os chutes nunca seguiam o mesmo ponto de origem, vez ou outra beiravam a perfeição ao saírem exatamente sobre a altura na qual Suyoshi havia premeditado, mas ainda havia um ponto que precisava melhorar. Tinha certeza que não faltava força, nem mesmo velocidade, a precisão era algo a ser trabalhado, porém, alguma coisa ainda lhe atrapalhava no complemento.

Dessa vez parou por alguns segundos, analisou a árvore e logo após levou a atenção para as pernas. Estava tentando executar o movimento com um membro não dominante, mas estava próximo de chegar a perfeição, o que faltava para conseguir isso? Estava incomodado consigo mesmo, queria ser bom em tudo, mas aquilo lhe impedia.

— Que seja! — Aprontou a base para que então realizasse o giro mais uma vez, idealizou o soco sobre o centro do tronco, utilizando agora unicamente o lado destro do corpo. Agilmente já aprontou a perna, desferindo o chute com a lateral do pé e juntamente traçando um campo de visão que acompanhava o giro realizado pelo próprio tronco. Poderia tratar como se fosse um “risco”, caso o corpo se estabilizasse durante esse movimento e não sofresse ação externa, poderia ser preciso de acordo com o ponto de referência que tinha desde o início. Precisamente conseguiu executar o golpe. — Então eu tenho um pouco de dificuldade com a perna esquerda... Que saco! — Pestanejou.

Claramente deveria existir uma forma de superar a ineficiência de um membro, não tinha certeza de como, mas sabia como conseguiria melhorar nesse quesito: prática. Dessa vez a quantidade faria a diferença, chutaria dez mil vezes se fosse preciso, até que finalmente conseguisse atingir precisamente um ponto cego, tinha o dia todo pela frente, a semana ou até mesmo um mês.

Suyoshi: 100/100 - HP: 325/325 - CH: 200/200

Treino de destreza (+1)
6.602 caracteres, 1.112 palavras

Ainda mordiscava uma grande fatia de pão enquanto saltava da janela de casa e corria rumo as construções da vizinhança, estava empolgado e ocasionalmente em dias eufóricos assim era justo que queimasse um pouco de energia pelas manhãs. Debatia o solado contra o chão, até que finalmente conseguisse chegar sobre o canto ao encontro de duas paredes, escalando ambas com impulsos sequenciados ao revezar as pernas. Possuía uma força justificável nas para executar tal feito.

— Desculpa!— Tentava gritar ainda de boca cheia, isso em resposta aos gritos e xingamentos que Misato preferia de dentro da casa. Suyoshi era um pouco cabeça fraca, então vez ou outra se esquecia das regras que a iryō-nin havia estabelecido.

O vento em Kirigakure era fraco, talvez por conta do clima seco ou a localização específica da aldeia; mesmo que fosse pertinente que brisas marítimas alcançassem o país em certas regiões. Apesar disto, não havia interferência alguma para alguém que já residia ali por muitos anos, o corpo simplesmente se habitua às condições e passa a se caracterizar, tornando tudo um processo menos desgastante, então nesse caso as pequenas maratonas sempre são uma boa ideia se realizadas em seu local de vivência. Conseguia entender um pouco dessas coisas por conta do que sua mãe adotiva comentava, ela era um pouco neurótica com termos técnicos e qualquer ser desprovido de inteligência iria aprender pelo menos o básico ao passar um mês na mesma casa que aquela mulher.

Transitar pelas construções sempre foi um exercício intuitivo, isso por conta do formato dos telhados e de toda a arquitetura, onde toda a aparência "exótica" tornava a vida de qualquer outro entusiasta um pouco complicada.

O Garoto precisava saber posicionar os próprios pés como se fosse um gato, tinha que tomar cuidado para não pisar em falso em meio aos telhados abobadados e aos azulejos lisos que enfeitavam as fachadas. Vez ou outra era divertido escorregar, mas o risco de cair e se espatifar sobre o chão é sempre maior, então sempre foi algo a se evitar.

— Bom dia moradores de Kirigakure! — Aproximou-se de um parapeito de uma casa que já dava de encontro para um dos centros da aldeia, a movimentação de pessoas por ali era maior, mesmo que ainda estivesse cedo para um fluxo concentrado de pessoas. — SUYOSHI, O SHINOBI MAIS FORTE ESTÁ AQUI PARA PROTEGER VOCÊS!!! — Precisou estufar os peitos para que conseguisse deixar o grito mais poderoso que conseguia solto sobre o ar. Algumas pessoas paravam para lhe contemplar, enquanto outros apenas ignoravam e seguiam com suas vidas; boa parte da vizinhança já estava acostumado com a mesma cena quase diariamente.

Mantendo um sorriso estonteante sobre o rosco o garoto então ajoelhou-se sobre o mesmo parapeito em que estava, reuniu forças sobre os joelhos e então se alavancou como se fosse um pistão rumo ao ar; a construção mais próxima estava a três metros de distância. Como se um guaxinim fosse atirado de uma árvore o garoto seguiu, com os braços e pernas abertos foi direto o telhado da construção a frente, caindo próximo ao beiral e por questão de centímetros conseguindo se agarrar sobre a beira. Se tivesse sido um pouco mais fraco, teria se esborrachado no chão.

— Ops.. — Se ajeitou sobre o mesmo telhado e então começou novamente a correr sobre as laterais do mesmo. — VOCÊS ACHAM MESMO QUE UM TELHADINHO DESSES CONSEGUE DERROTAR O PODEROSO SUYOSHI!? HAHAHAHAHAHAHA!!!! — Gargalhava enquanto soltava em meio as construções que eram emendadas uma sobre a outra. Ainda não tinha experiência o suficiente para transitar sem o auxílio de técnicas sobre os grandiosos prédios que contornavam a aldeia, porém a intenção era conseguir saltá-los sem qualquer outro problema, então finalmente poderia chegar ao local mais alto, onde iria conseguir vigiar a todos e protegê-los. 

Suyoshi: 100/100 - HP: 325/325 - CH: 200/200

Treino de Perícia: Acrobacia
3.827 caracteres, 640 palavras

Se equilibrar pelos beirais era uma tarefa complicada, mesmo que permanecesse um tempão parado e com a atenção voltada somente para isso, o próprio corpo sempre pendia para um lado ou outro, criando assim uma certa dificuldade no processo. Fora que também não era uma boa ideia em tentar testar o equilíbrio em fios de eletricidade, já havia aprendido essa lição em eventos passados, quando seguindo alguns pardais que saltitavam pelos fios, simplesmente foi recepcionado com uma forte carga elétrica que lhe deixou inconsciente por algumas horas.

Tudo o que restava até então era continuar se esgueirando em meio aos telhados das vizinhanças próximas ao interior da vila, saltitando sobre as pequenas vielas e vez ou outra precisando escalar um parapeito. É claro, correr é uma forma de estimular o próprio corpo, aquecê-lo e consequentemente se acostumar com o ambiente em específico para então lidar com alguma inconveniência em alguma situação de combate. Conforme conseguisse percorrer todo o trajeto com perfeição, não perderia tempo ou se atrasaria caso precisasse chegar rápido de um ponto ao outro, assim como também poderia utilizar do aprendizado para conseguir se mover de forma coordenada dentro de um combate.

— Seria muito mais fácil aprender como me comportar se eu tivesse um gato... — Chegou até a beira de uma construção e então parou, olhou para o chão e seguidamente começou a observar a pequena praça com um chafariz ao centro que havia logo a frente. — Mas que tipo de gato gostaria de viver em um lugar assim? Nem mesmo eles iriam gostar de um lugar com telhados arredondados, não tem como se mover direito nisso aqui. — Contorceu os lábios ao mesmo tempo, em que repousou ambas as mãos sobre a cintura. Queria um desafio novo, algo que fosse além de se equilibrar nas abóbodas das construções e escorregar pelos ladrilhos.


Tudo o que havia ao redor eram mais construções pequenas, postes de alta tensão que deveriam ser evitados e um monte de cidadãos que trafegavam pelas ruas. Por uns instante pensou que seria divertido saltar sobre a cabeça das pessoas, mas com certeza eles não gostariam que alguém pisasse sobre eles apenas para conseguir se aperfeiçoar. As pessoas um pouco egoísta as vezes...

Sem muitas alternativas, precisava arriscar os grandes prédios luxuosos no centro, eles eram um pouco complexos, mas com certeza conseguiria se enfiar em suas varandas e saltando de um sobre outro chegar ao topo. Aceitou o próprio destino e deixou que, em simultâneo, os ombros despencassem, firmou o próprio peso sobre os calcanhares e então delicadamente se atirou para frente, deixando que o corpo caísse da construção em que estava como se estivesse pronto para dar um mergulho. Com leveza fez um rápido contorno sobre o próprio eixo durante a queda, onde quando estava prestes a esbarrar sobre o chão, simplesmente deixou que os pés sustentassem toda sua estrutura e friamente flexionasse os joelhos para se amortecer e quebrar o impacto. Havia treinado isso no próprio quintal de casa, se esborrachando umas cem vezes sobre o chão até que finalmente conseguisse pegar o jeito.

— O TOPO QUE ME AGUARDE, POIS, EU VOU CONQUISTAR ELE! — Rapidamente ajeitou a postura e direcionou o indicador rumo ao longo prédio que poderia ser visto mesmo de fora  - se não fosse a densa névoa - da aldeia. Mais alguns olhares tortos caírem sobre Suyoshi, cochichos e murmúrios das pessoas que ali transitavam, mas isso não lhe incomodava de modo algum.

Sem cerimônia disparou para frente com os braços atirados para trás, inclinou o tronco para que tivesse maior aerodinâmica e então partiu em meio a longa rua que guiava para o centro. Precisou desviar das pessoas que entravam em seu caminho para que conseguisse enfim se aproximar de uma estrutura um pouco mais que as outras, onde então saltou sobre um dos postes e utilizando deste impulsionou-se para uma das janelas, onde então apoiou os pés sobre a pequena saliência que havia entre a beira da mesma contra a parede e mais uma vez saltou, atirando-se rumo ao telhado. Sem dificuldade alguma agarrou sobre o material e se pendurou, encolheu as pernas de modo que alocasse os pés sobre a parede na mesma altura da cintura, aplicando de uma única vez força o suficiente para que o próprio tronco fosse atirado para trás e consequentemente em um giro de 180º. conseguisse chegar ao topo.

Apoiado de ponta cabeça, rotacionou e então executou com os cotovelos o mesmo movimento que havia feito com as pernas, ficando mais uma vez em pé. Agora estava em um terreno elevado e tinha uma vista melhor de onde pretendia chegar, o caminho até lá era longo, mas não isso não fazia nem mesmo parte do desafio que pretendia enfrentar.

— Éhhh... Talvez eu me atrase um pouco pra janta, Misato. — Esfregou a testa com as costas da mão destra, limpando as poucas gotas de suor que tinham origem ali.

Suyoshi: 100/100 - HP: 325/325 - CH: 200/200

Treino de Perícia: Acrobacia
4.966 caracteres, 838 palavras

O aspecto urbano mudava cada vez mais conforme o jovem gennin avançava rumo aos grandiosos prédios de Kirigakure, antes as pequenas construções são quem dominavam a paisagem, porém agora tudo era um pouco incerto, já não havia um padrão, as formas eram distintas, paredes eram levantadas de forma grotesca em proximidade de pequenas casas, enquanto torres e letreiros se dividiam ao longo das ruas. O fluxo de transeuntes era maior, haviam mais pessoas vagando entre os estabelecimentos e também uma presença significativa de shinobis que se moviam por cima dos prédios.

— Aqui é bem movimentado mesmo... — Corria sobre o topo de um prédio, seu telhado não era abobadado como os demais, de modo que houvesse uma cobertura onde haviam uma série de varais com roupas penduras sobre estes. Suyoshi não mediu esforço algum para saltar para cima da fina linha de metal e rapidamente andejou para cima da estrutura de madeira que dava suporte ao varal. — Apesar que isso é problemático. — A sua situação era óbvia, não podia em momento algum perder o controle, havia muitos alvos e era de sua responsabilidade que trabalhasse para evitar que qualquer situação inconveniente ocorresse. 

Apesar dos pesares, ainda havia tamanha imaturidade na mente do garoto, o tal não deixaria de cumprir com sua meta simplesmente por algo banal que certamente conseguia controlar em momentos comuns. Misato havia dito que sempre que sentisse estar prestes a "detonar", precisava fechar os olhos e respirar, até que finalmente conseguisse exalar e liberar toda a energia que se concentrava em volta de seu corpo. Os ataques de fúrias já haviam diminuído um pouco  em relação com alguns anos atrás. Havia prometido para si mesmo que não seria colocado em uma cela novamente. 

Se abaixou sobre o local em que estava, apoiou as mãos sobre a madeira e com o auxílio delas e dos pés atirou-se para fora do varal, rumo a beira do prédio, onde simplesmente utilizou mais uma vez de apoio para que se lançasse em direção ao próximo. A altura da construção ao lado tinha pelo menos uns cinco andares a mais, várias janelas lisas adornavam a sua faixada, enquanto pequenos relevos estavam ali para auxiliar em uma escalada ou coisa do tipo.

— Fiiiiiiiiu!! — Deixou que uma pequena porção de ar escapasse de uma pequena fenda em sua boca, fazendo um breve assovio. Inclinou o corpo ainda sobre o ar, levando os pés à frente e posicionando-os frente a janela. Sem perder tempo impulsionou-se para trás, atirando-se rumo ao prédio anterior, girando verticalmente e então conseguindo alcançar algum parapeito. Não era o momento de testar sua escalada, então o certo era evitar e continuar com o caminho ainda por baixo.

Analisou a situação que se encontrava e estipulou estar há quatro metros do chão, não era uma altura tão grande, mas mesmo assim era o suficiente para causar algum ferimento caso caísse do mau jeito. Era óbvio que tinha força para resistir, mas não queria ir embora com um tornozelo torcido ou coisa assim, ainda tinha que subir o maior prédio de Kirigakure.

Mantendo o tronco reto, deu um simples pulo para fora da pequena sacada onde estava, seu corpo iria para baixo e do mesmo jeito em que estava chegaria ao chão, mas na metade do trajeto usou da sacada do andar de baixo para se apoiar, utilizando somente as mãos para se segurar e seguidamente saltar novamente. Agora em meio as pedestres seguiriam correndo, fintando entre as pessoas e desviando de seus corpos, o suficiente para que encontrasse outro lugar onde poderia saltar e mais uma vez voltar para os terrenos mais altos.


Em meio a cambalhotas, saltos - tombos - e firulas, o gennin finalmente conseguiu contornar o grande centro de Kirigakure. Se colocou em frente ao prédio que lhe chamava a atenção esse tempo todo e se viu próximo de conquistar seu maior triunfo. Ele era ainda mais magnífico que o farol que iluminava as águas que beiravam o porto, nem mesmo havia a presença de qualquer luz ali, mas mesmo assim era cintilante e adornado com vidros e cores frias. Se frustrou um pouco consigo mesmo, afinal poderia riscar ou estragar algo daquele prédio, isso seria um problema e com certeza levaria mais um sermão de Misato se ela descobrisse. Deveria dar as costas e seguir o racional? Aaaah, não!

Suyoshi mais uma vez abriu o imenso sorriso em seu rosto, seus olhos apenas conseguiam alcançar o topo e consequentemente ignorava todos que ainda transitavam ao seu redor. Era o momento, então arregaçou as mangas e começou a alongar os braços em seguida.

Disparou antes que qualquer ser ou coisa viesse tentar lhe impedir. Correndo de forma coordenada seguiu rumo as pilastras transparentes que cobriam uma pequena cascata que beirava a faixada do prédio, era escorregadio e um pouco íngreme, afinal elas eram minimamente inclinadas, mas isso não conseguiu lhe atrasar. Correu até se aproximar de um letreiro que estampava o nome do lugar ou algo do tipo, nem ao menos deu importância para aquilo.

— De longe parecia ser difícil... — Saltou de modo que conseguisse alcançar um apoiou melhor para conseguir subir, onde então começou a transitar de forma alternada pelo pequeno vão que havia entre uma janela de outra, o espaço era curto, mas ainda com a ponta do pé conseguia sustentar o próprio corpo e se manter equilibrado. Vigas metálicas sustentavam a estrutura pelas laterais, onde pequenas "rampas" eram feitas para que houvesse mais seguridade, no caso em específico, apenas serviram como apoio para que o gennin conseguisse atravessar os andares da estrutura com um pouco mais de facilidade.

Atravessando horizontalmente os andares do prédio, conseguiu subir até uma boa distância, porém a estrutura sofria uma boa mudança assim que se aproximava mais do topo. O número de janelas era menor, então a pequena porção da área que tinha para se equilibrar diminuiu, passando agora a ter uma distância de dois metros uma sobre a outra, dificultando ainda mais o caminho até o último andar.

Suyoshi evitava olhar para baixo, assim como precisou diminuir o número de "manobras" para conseguir atalhos, qualquer descuido lhe faria cair em uma queda gigantesca, nem ao menos conseguia estipular a altura, mas tinha certeza que as chances de sobreviver eram quase nulas. Até o momento a única coisa que conseguia fazer era continuar focado em subir, olhar para baixo apenas serviria para que tivesse um ataque de vertigem e consequentemente perdesse a concentração.

Tinha que manter o equilíbrio, assim como ser preciso com os saltos, seguindo lateralmente de janela em janela, até que conseguisse chegar até as vigas de metal sobre as laterais e subir o andar. Se houvesse alguns apoios para que pudesse se alavancar para cima teria menos dificuldade, porém por algum motivo o gosto por estruturas lisas e infestadas por vidros era algo recorrente nos arquitetos de Kiri.


Já havia se passado um bom tempo que estava focado em terminar de subir, com o tempo conseguiu ganhar confiança para fazer movimentos mais ousados e conseguir cortar andares inteiros com saltos e auxílio de alguns apoios extras pelas paredes. Agora não havia mais do que dois andares para o topo, estava eufórico para terminar e com isso resolveu se adiantar.

Segurou com firmeza uma das vigas sobre a lateral, onde então impulsionou-se de modo que com rapidez começou a correr sobre a mesma, desafiando a própria gravidade de modo que apenas desfrutando do próprio equilíbrio e velocidade sustentassem sua massa. Assim que conseguiu entender o limite da coisa, flexionou os joelhos e se impulsionou para o lado, atirando rumo ao centro do prédio, onde conseguiu se pendurar sobre uma de suas laterais.

— Eu quero saber como vou descer daqui. — Fez um pouco de força para alavancar o próprio corpo para cima e enfim subir de vez a cobertura. Nem ao menos parou para analisar a paisagem ou coisa do tipo, simplesmente despencou sobre o chão e tentou se acalmar.

Tudo o que conseguiu ouvir ao fundo foram algumas pessoas gritando, não entendia o motivo ou coisa do tipo, até que finalmente se virou e conseguiu ter o vislumbre de várias pessoas lhe observando, alguns estavam dentro de uma piscina, outros comiam e bebiam em um pequeno quiosque. Não havia entendido, até que um homem trajado em roupas formais pretas lhe agarrou pela gola.

— O senhor está em uma propriedade privada, terei que comunicar as autoridades da aldeia caso não se retire. — O homem tinha um olhar sério e parecia não estar brincando.

— E... Eu... Eu não sabia, desculpa! Não conta pra minha mãe, por favor eu imploro! — Suyoshi, O Shinobi Filhinho da Mamãe se chacoalhava enquanto tentava se libertar. Certamente Misato iria lhe colocar em uma gaiola, dessa vez não tinha como escapar.


Suyoshi: 100/100 - HP: 325/325 - CH: 200/200

Treino de perícia: Acrobacia
8.916 caracteres,1.495 palavras.

Uma dieta reforçada é o que se espera de um shinobi que busca implementar sua força física de forma brusca, treinos intensos clamam por energia, sendo assim a única opção aceitável é que pelo menos se ingira ao todo catorze ovos, três pães e para não ficar em branco, um belo de um filé de peixe grelhado. Com tudo isso é certo que qualquer ser humano vai conseguir ficar gigante, tão musculoso quanto um cavalo e tão forte como um urso!!!

Bom, pelo menos foi isso o que um homem que trabalhava em uma pequena venda disse ao imaturo gennin, isso tudo após o mesmo entrar aos prantos no estabelecimento em busca de uma fórmula mágica para conseguir triplicar de tamanho em menos de uma semana. Pelo menos alguém sairia lucrando em meio a tudo isso.

Suyoshi estava disposto, havia feito sua alimentação de forma regrada, consumindo todas as proteínas que acreditava serem necessárias para deixarem seus músculos mais duro que rochas. Antes mesmo que sua mãe pudesse lhe questionar, simplesmente o garoto seguiu para o mesmo local onde sempre treinava e dessa vez começou a pôr em prática sua mais nova artimanha para se manter como o Shinobi Mais Forte de Kirigakure.

Nos primeiros minutos se alongou, permaneceu parado na mesma posição até que conseguisse colocar boa parte das articulações para funcionar; não queria ter uma lesão logo de cara. Lhe incomodava sair um pouco da rotina, deixar os treinos de taijutsu e físicos para trás, porém precisava se aprimorar para que não somente sua técnica fluísse, mas também que seu corpo conseguisse acompanhar uma evolução que fosse pertinente. Queria atingir um equilíbrio em todos os aspectos.

— Graças as dicas do velhote eu vou me tornar tão forte que vou conseguir arrancar uma árvore com a mão. — Gesticulou ambos os braços para trás, brevemente se impulsionando em direção ao galho de uma árvore onde então rapidamente a agarrou, se pendurando.

A intenção era clara, antes mesmo de tentar aplicar qualquer outra carga, simplesmente precisava suportar o peso do próprio corpo, dado que conseguisse realizar qualquer exercício sem dificuldade, estaria pronto para começar a intensificar e começar a aplicar pressões maiores em pontos estratégicos, como peito, pernas e costas. Como ainda era o começo, tudo o que precisava fazer era constantemente se alavancar para cima, utilizando a musculatura que abrange seus ombros.

As primeiras sete repetições foram fáceis, fez o movimento rapidamente, onde juntou um pé sobre o outro de modo que conseguisse equilibrar o próprio peso e tornar a distribuição de carga em cada ombro proporcional. Tinha um pouco de noção de como precisava executar as movimentações para que conseguisse pegar o movimento, isso devido a Misato que até uns anos atrás era completamente fissurada em exercícios e trabalhava alguns em casa. Pra falar a verdade, ela é a mulher mais forte que Suyoshi conheceu, mas nunca conseguiu entender de onde vem toda essa força já que ela sempre foi relativamente bem magra.

Trabalhar qualquer grupo muscular sem que haja descanso é loucura, deixar o músculo sob pressões intensas em intervalos curtos é basicamente autodestruição, então o garoto precisava executar as movimentações até que houvesse falha. Mentalmente conseguia contabilizar com quantas repetições atingia seu limite, tinha uma média boa para um iniciante, permanecendo sempre entre 15 e 20, onde então deixava um descanso proporcional de 40 segundos para que logo mais começasse a executar outra série.

Suportar o próprio peso é uma tarefa árdua, já que o próprio corpo responde ao seu limite, assim como a dor sobre os dedos por estarem sendo o ponto de massa para que a movimentação fosse possível. Além de tudo, o cansaço sempre vem, assim como ele o rendimento que decaí e então se abre a frustração, apesar disso não ser nada que realmente afete o ser em questão.

— É sério que vocês vão começar a tremer? Olha só, não to nem suando ainda. — Resmungava consigo mesmo ao notar as falhas musculares que se tornavam constantes durante as últimas séries. Os deltoides pareciam estar sofrendo com um terremoto por conta das tremedeiras, a dor era intensa, a musculatura queimava e somente de vista era notável que havia inchado.

O gennin estava no limite, mas mesmo assim prosseguiu, queria chegar em um ponto que finalmente estivesse satisfeito com os resultados. Tinha saído de casa, comido pra burro, claro que ia dar!

Treino de Força
4.408 caracteres, 731 palavras

Um longo pedaço de madeira, dois baldes e uma quantidade boa de pedra, esses foram os ingredientes necessários para construir o instrumento de treino perfeito, mas acidentalmente Suyoshi acrescentou um elemento extra na mistura, a vassoura de Misato. Além de seus novos pesos, agora também tinha um grandioso galo em sua cabeça.

Precisava se arriscar para fazer o que pretendia, afinal o homem da venda havia lhe dito que sem dor, não haveria ganho algum. Nesse caso faria o básico, precisava sempre colocar o próprio corpo a se sujeitar sobre pressões maiores, tornando a intensidade com a qual precisaria usufruir da resistência do corpo, tinha que ser atlético, em razão disso precisava ser ainda mais forte, o suficiente para conseguir aguentar quantidades imensuráveis de peso.

Dessa vez não havia segredo algum, juntando o cabo de madeira e os baldes, simplesmente fez uma barra que fosse o suficiente para que conseguisse auxílio no momento de carregar os pesos. Uma boa quantidade de pedregulhos encheram os baldes, de modo que cada um ficasse suspenso em uma das extremidades. Ainda no quintal da própria casa, curvou-se para que então conseguisse firmar ambas as mãos sobre a madeira, flexionou minimamente os joelhos e então logo começou a trazer o tronco para cima, manteve os músculos da panturrilha firmes, para que assim a própria estrutura fizesse o trabalho de alavancar o peso.

— Então lá vou eu. — Por questão de segundos parou, fechando os olhos e deixando apenas que a própria respiração trabalhasse. Queria estar preparado, afinal tinha certeza de que o processo seria cansativo. — Três.. Dois... UM! — De uma só vez fez com que a barra fosse guiada com força em direção ao próprio peito, onde rapidamente distribuiu o grupo de músculos que trabalhavam para manter o peso, evitando que simplesmente houvesse uma falha e lhe obrigasse a ceder antes mesmo da hora. Não esperou como antes, onde simplesmente deixou que a palma das mãos aplicasse uma força maior, utilizando dos ombros e do peito para que conseguisse levar a barra ainda mais para cima, o suficiente até que finalmente tivesse os braços esticados. Prontificado, guiou o cabo para trás do pescoço, finalmente repousando-o um pouco para baixo da nuca, firmando sobre a estrutura do trapézio.

No mesmo instante que a barra permaneceu livre de qualquer outra força que lhe alavancasse, o corpo de Suyoshi sofreu com a pressão, as pernas sentiram a normal que contrariava a gravidade, enquanto havia um embate da própria massa corporal contra o peso da barra. Pela quantidade de pedras que havia colocado ali, provavelmente aquilo deveria ter ao todo pelo menos 80 kg, era realmente pesado, tão pesado que até mesmo o gennin possuía problemas para se manter equilibrado.

— Isso aqui não é nada... Com tudo o que eu comi no café da manhã, tenho certeza que em poucos dias vou conseguir levantar um prédio. — Posicionou ambas as mãos sobre pontos estratégicos da barra, para que esta não pendesse para qualquer outro lado e simplesmente caísse, auxiliando apenas com apoio, sem aplicar força. — Eu sou o shinobi mais forte de todos! — Rapidamente inflou os pulmões com uma boa quantidade de ar, tentou firmar a postura e então trabalhou para que finalmente desse seguimento a parte mais importante de seu treino.

Sequencialmente começou a andejar para frente, sentido a saída de casa, gradualmente abandonando o próprio quintal e então vagando rumo as pequenas vielas da área residencial de Kirigakure. As passadas no começo eram fáceis, estava com energia e empolgado o suficiente para carregar pelo menos duas barras daquela, porém tinha noção de que depois de alguns minutos perderia rendimento e o seu corpo começaria a sentir, então buscou se poupar para não acelerar esses efeitos.

Algumas pessoas vez ou outro passavam ao seu lado, mas isso não era motivo para que parasse, estava focado em desenvolver a própria musculatura, então não deixaria que isso lhe afetasse. Inclusive, todos ali sabiam que Suyoshi era o shinobi mais forte, é claro que não iriam se incomodar com uma de suas sessões de treinamento.


Por vários minutos continuou andando enquanto mantinha firme a barra pressionada sobre a região do trapézio, as gotas de suor que escorriam ao longo de seu eram aparentes, assim como a respiração ofegante que por enquanto conseguia oxigenar seu corpo. A ardência na região superior da perna era constante, sentia que a própria musculatura fosse rasgar e ceder a qualquer momento, podia sentir cada fibra se romper, mas era justo que a dor continuasse intensa, sendo esse o sinal de que estava funcionando.

Já nem contava quantas vezes havia perdido o equilíbrio, ou quantas vezes as pernas falhavam e os ossos dos joelhos travavam, mas não pararia até que finalmente beijasse o chão sem força alguma.

— Sabe de uma coisa? — Parou em meio a rua, ajeitando a postura e alongando as pernas, uma de cada vez. — Eu vou deixar isso aqui ainda mais interessante. — Sorriu sozinho.

Mais uma vez começou a andar para frente, agora ajoelhando-se diante de cada passo, mas não encostando o joelho ao chão, deixando o mesmo apenas alguns centímetros. Não podia relaxar, então quanto mais tenso os músculos ficassem, mais eles seriam trabalhados, e sendo assim, a própria força progrediria junto ao rendimento físico.

Sempre que se abaixava, inclinava um pouco o tronco, para que assim conseguisse distribuir melhor o peso. O olhar estava fixo ao solo, sempre arrumando um único ponto de referência para que ainda conseguisse se equilibrar e não cair.

Após boas passadas, a dor começou a se focar na região da panturrilha, assim como na região posterior das pernas. A única chance de acabar com aquilo seria parar, mas para alguém com toda sua motivação, apenas uma falha crítica é que realmente conseguiria lhe impedir de completar um dia todo de treino.

Treino de Força
5.875 caracteres, 979 palavras

Enquanto se fartava com a sua preciosa refeição matinal, o garoto fora pego por uma dúvida de Misato, na qual questionou  seus métodos e queria entender o que diabos estava fazendo. A mesma pergunta sempre pairava pela mesa todas as manhãs, afinal a mulher gostava de se mostrar atenta a progressão de Suyoshi, tanto por ser sua tutora e também por motivos óbvios de segurança pública.

— Então você está me dizendo que quanto mais você comer, mais seus músculos vão crescer e então vai se tornar mais forte? — A mulher terminou de bebericar uma lata de alguma bebida alcoólica industrializada da qual fazia todas as manhãs. Antes de cair em gargalhada, simplesmente amassou a lata sobre a mesa de uma única vez. — Vo... Você é muito idiota! Quem foi que te disse isso? — Nem ao menos conseguia terminar a própria frase por conta das risadas.

O gennin permaneceu quieto no outro lado da mesa, enquanto se preparava para devorar um prato cheio de ovos fritos. Não entendia ao certo o que ela estava querendo dizer, mas certamente fazia sentido, apesar de o homem da venda ser pelo menos cinco vezes maior e mais musculoso.

— É claro, como você pensa que vou ficar forte o suficiente para mover a lua de lugar? — Arregaçou a manga da blusa e então enfatizou a musculatura do bíceps ao contraí-lo. Um sorriso confiante ostentou seu rosto no exato momento, afinal estava ciente da progressão que havia tido ao longo dos últimos meses. Estava forte o suficiente para suportar quantidades boas de peso, assim como poderia se manter por um bom tempo sem se cansar de verdade.

Apesar da resposta, não foi o necessário para conter as gargalhadas de sua tutora, ela realmente estava se divertindo da situação.

— Deixa de ser burro, moleque. — Ela rapidamente se ajeitou e então olhou fixamente para o garoto. — Você está desenvolvendo sua resistência corporal, desse jeito você vai ganhar força, mas não no sentido que você parece querer... Precisa tralhar o poder destrutivo de seus golpes, aplicar eles em várias superfícies até ao ponto de conseguir liberar tudo de uma única vez.

Por um momento parecia estranho, mas Suyoshi captou a mensagem, foram alguns segundos para que isso se concluísse de verdade, mas havia entendido.


Assim que terminou de comer rapidamente se aprontou para sair, desta vez confiante que poderia progredir mais uma vez, apenas com o auxílio dos próprios esforços e sem depender de qualquer intervenção de terceiros. A força de vontade que possuía em se tornar mais forte sempre foi gigantesca, sendo esse um dos poucos motivos para continuar vivo até então.

Com um pouco de esforço conseguiu encontrar uma região pouco frequentada, sem que precisasse sair dos arredores de Kirigakure ou até mesmo atrapalhar alguma pessoa com suas atividades cotidianas. Era um campo aberto, uma série de pedras de calcário estavam por ali, talvez tivessem sido trazidas da costa marítima ou algo do tipo; não que realmente importasse.

Aquecido apenas pela própria moral, Suyoshi se aprontou, arregaçou as mangas, fechou os punhos e correu de uma ponta até a outra, o mais rápido que podia, até que chegasse de encontro para um pedregulho que era um pouco menor que si. Sem o menor pudor simplesmente aprontou-se para o golpe mais gratificante de sua vida, dentro de sua cabeça já conseguia imaginar os pedaços voando por toda a região e a sua progressão imediata acontecendo.

— MORRA PEDRA IDIOTA, VOCÊ NÃO PODE FICAR NO CAMINHO DE SUYOSHI, O SHINOBI MAIS FORTE DO MUNDO!! — Então de uma vez só soltou o golpe, com o punho destro fechado atingiu a estrutura da pedra bem ao centro. Toda a empolgação do gennin se transformou em frustração, onde apenas o que conseguiu sentir foi dor.

O golpe não causou arranhão algum sobre a pedra, pelo contrário, a única região afetada em si era a própria mão, a qual começou a sangrar com um ríspido corte que se fez sobre a região da cartilagem que sustentava os dedos. De uma única vez tombou os braços, deixando-os despencar e apenas se manterem no corpo por estarem ligados aos ombros. O garoto estava arrasado.

— Ma...Mas... Eu bati com toda a minha força... — Desviou os olhos para o punho ensanguentado, tentava compreender o motivo de seu golpe não funcionar. Nos últimos meses havia treinando intensamente, tinha força o suficiente para levantar aquele pedregulho, mas por algum motivo não conseguia o destruir.

As coisas não se encaixavam, e quando alguém com a mente um pouco lenta começa a questionar demais, a situação tende a se complicar e até mesmo dessa surtir poucas progressões.

Mesmo frustrado, o garoto sabia que abandonar seria aceitar a derrota, uma coisa na qual odiava sentir o gosto. Apesar de tudo, não havia muita empolgação para um ego recém-ferido, tudo o que lhe restava era começar tudo do zero, se atentar nos mesmos treinos de antes e então conseguir atingir novos resultados que finalmente pudessem lhe agradar de verdade.

— Eu queria diferenciar, mas a resposta esteve sempre na minha frente... — Em palavras baixas, tentava se encontrar em meio a própria perdição. — Será que eu sou realmente idiota como todos dizem? — Seu questionamento se levantou junto ao próprio peito que brevemente fora preenchido por uma boa quantidade de ar.

Não se poupou, mesmo com o ferimento, sequenciou mais um soco rumo a pedra, sujando-a, porém em seguida deixando outro golpe da região com o punho esquerdo. Sabia que golpear a estrutura jamais a destruiria, eram golpes vazios, simples e sem objetividade alguma. Talvez algum dia conseguisse deteriorar o calcário, mas seria pela quantidade, não pela intensidade.

— Que coisa! — Mordeu o lábio inferior, mostrando-se aflito. Alavancando os punhos com constância, liberava uma quantidade constante de força sobre os cotovelos, de modo que estes serviam como uma espécie de "pistão" que tornava o maior o poder nos golpes. — Se eu realmente fosse forte, teria destruído isso aqui de primeira, não deveria ser problema nenhum para O SHINOBI MAIS FORTE DE TODOS. Desgraça! — Constantemente aplicava mais golpes, movido apenas pelo rancor levantado contra si mesmo.

Toda vez que sua pele encostava com a pedra, a intensidade e o baque dos impactos eram sentidos em cada um dos ombros, onde friamente trabalhava para intensificar a força. Irracionalmente Suyoshi conseguia erguer leves fissuras, seus golpes estavam se tornando ainda mais poderosos, onde a velocidade se somava a força, junto a resistência muscular e a própria progressão corporal antes trabalhada. Era como se estivesse pronto para se adaptar em decorrência de quanto mais intensa a situação estava, quanto mais o sangue fervia, mais forte parecia se tornar.

Por minutos continuou resmungando, aplicando os socos ao ponto que estes causavam ainda mais fissuras no pedregulho. Agora não somente gesticulava os braços, mas também trabalhavam com a musculatura das costas, onde com um organizado jogo de quadril conseguia envolver todo um grupo de músculos para que focasse unicamente em um golpe. Parecia ter tirado um freio, algo que realmente lhe impedisse de desfrutar de todo o poder que conseguia obter.

— Se eu sou fraco, o que são de todos os outros shinobis? — Se questionou.

Perdido na própria melancolia, concentrou um único soco com o braço destro, no qual focou um pouco mais que os outros, para que então de uma vez envolvesse um golpe final. Com raiva, frustração e fraqueza conseguiu fazer com que aquela estrutura de calcário se tornasse em uma nuvem de estilhaços. Havia destruído, dizimado a pedra, mas não estava contente.

— NÃO VOU DEIXAR QUE CHAMEM OS SHINOBIS DE FRACOS, ENQUANTO EU FOR O MAIS FORTE, NINGUÉM PODERÁ SER MENOSPREZADO! — Não houve comemoração, simplesmente se atirou em direção aos outros pedregulhos que haviam por ali, onde entrou com um único golpe com o punho esquerdo sobre um, causando rachaduras e então terminando de destruí-la por completo com o direito.

Havia alcançado o ponto necessário para causar impacto com os golpes, sabia agora que a resistência era importante, mas isso não queria dizer que ela é necessária para que se aplique mais intensidade em um golpe. Nesse mesmo dia o serviço de demolição em massa havia aberto as portas, tendo Suyoshi como seu único funcionário.

Treino de Força
8.257 caracteres, 1.391 palavras