巣穴のウサギ

Suana no usagi

Verão de 1240
Em algum lugar dentro dos limites da vila, Kirigakure no Sato

Espaço reservado para as narrações de uma RPFB, ou seja, uma narrativa no passado estritamente fechada. A postagem de terceiros só será aprovada em caso de avaliadores.

Suana no usagi pode ser traduzido livremente para "Coelho na toca";

O verão havia finalmente chegado, a temperatura em Kiri começava a subir gradativamente com o passar dos dias durante a estação mais quente do ano. Para Naoko o verão tinha suas vantagens. Ela podia passar mais tempo ao pé de sua árvore, coisa a qual o inverno congelante não lhe permitia. Por consequência de não ter de ficar trancafiada nas paredes da casa de madeira, o humor da garotinha também vinha a melhorar. Seu mau humor constante se amenizava e tornava-se alguém mais fácil de lidar. Talvez a magia do verão fosse tão forte que aquecia o coração da mesma...Ou será que não?

Naquele dia em específico, Naoko estava sozinha em casa. Seu pai havia saído antes mesmo que o sol pudesse surgir no horizonte. O homem pouco preocupado, apenas havia deixado um pequeno bilhete preso junto do mural na cozinha: Não me espere, irei demorar.
De fato aquele tipo de atitude partindo do genitor já não assustava a criança. A morena havia aprendido a se virar, assim como ele mesmo desejava, e simplesmente passou a ignorar a ausência do pai. A única coisa que deixara a garotinha intrigada fora a ausência da lista de tarefas. — “Será que ele esqueceu?” — As saídas eram típicas, porém nunca havia deixado a primogênita livre de alguma obrigação a qual ele fiscalizaria minuciosamente quando voltasse.

Convicta de que era um teste, Naoko passou a procurar pelo papel de tarefas pela casa inteira. — “Talvez ele queira testar a minha atenção… Oras Papa, não vai me enganar!” — Prendendo as madeixas negras que caíam em seus olhos, a criança começou a vasculhar cômodo por cômodo da residência. O primeiro alvo de investigação seria a cozinha.

Esfregando os olhos algumas diversas vezes para se certificar de que estava enxergando bem, ela analisou o mural. Havia alguns poucos papéis ali. No dia anterior, tivera de fazer uma pequena limpeza naquele lugar e em específico no quadro de recados. O velho Hiaru apenas se preocupava de aglomerar as informações ali juntando assim uma quantidade absurda de pedaços e folhas inteiras em marcadores mas que já não tinham serventia alguma. Por alguns segundos, a menina reviveu o momento que realizava a tarefa se certificando de que o que estava procurando não havia sido jogado fora. — “Não seja boba, ele sempre faz a lista antes de sair, nunca no dia anterior. Não tem como você ter jogado ela fora!”.
Respirando aliviada, Naoko continuou com sua busca. Olhou atenta às costas do papel do bilhete, afinal de contas, talvez ele tivesse ficado com preguiça e resolver colocar tudo em um único papel, pensara ela, porém para seu desgosto, o outro  lado estava vazio. As sobrancelhas da menina começaram a se estreitar em uma careta nada amistosa. Aquele era o sinal de que ela começava a se irritar com a situação.

Após ter a certeza de que a lista de fato não estava no mural, partiu para o restante da cozinha. Procurou por cima dos armários, na pequena bancada e até mesmo dentro da geladeira. Não havia nada. Partira para a sala. A procura seguiu o mesmo princípio que tomara no cômodo anterior e mais uma vez não fora capaz de encontrar uma pista sequer. Havia chegado o  momento de se conformar que homem realmente havia esquecido ou ganhando em o desafio implantado, porém sua recompensa seria uma garotinha irritada esperando por uma resposta quando o mesmo chegasse.
Naoko bufou. Havia se acostumado com a rotina que o pai havia lhe imposto. Todos os dias ela acordava, pegava sua lista de tarefas e sabia exatamente por onde começar. Aquela mudança inesperada havia lhe deixado imensamente desconfortável. — O que é que eu vou fazer agora? —  A menina andou de um lado para o outro tentando montar por si só uma lista que pudesse seguir, mas por fim acabou desistindo ao perceber que finalmente poderia fazer o que bem entendesse. Uma voz em seu interior gritava para que ela se aproveitasse da situação, fizesse tudo o que nunca havia feito, fosse uma criança de verdade, porém do outro lado sua consciência lhe repreendia lembrando dos problemas que poderia causar e as consequências que viriam deles.

Era algo extremamente perigoso deixar o livre-arbítrio nas mãos de uma criança. Aquela era apenas mais uma prova de tamanha irresponsabilidade que o genitor tinha com a menina que, por sua vez, parecia mais adulta e consciente que o próprio homem. Dotada de tais características, a menina apenas decidiu que teria um dia normal, faria o que estava acostumada e depois… Bom, depois ela iria descobrir.

Considerações:

Apesar do início de seu dia ter sido algo conturbado de uma maneira que a mesma não estava acostumada, Naoko decidira que ao menos iria tentar fazer com que o mesmo corresse bem e terminasse da mesma forma que todos os que antecederam: Com todas as obrigações cumpridas. As primeiras horas haviam sido reservadas para terminar a organização da casa. Sem preguiça alguma, a menina limpou, lavou e ajeitou cada cantinho possível da maneira que havia aprendido. Depois chegou o momento de seu ritual diário com a árvore de cerejeira, porém naquele dia seria algo diferente, afinal de contas, estava liberado, não estava?

Cantarolando a música de ninar que sua mãe costumava cantar, a garotinha juntava em um pequeno monte as poucas folhas caídas da árvore. Vezes outra parava para olhar os traços diferentes que surgiam entalhados nas folhas como se formassem padrões e desenhos divertidos que tiravam pequenos risos da mesma. Pela primeira vez, Naoko não estava se preocupando em parecer boba ou qualquer tipo de coisa, apenas estava sendo uma simples criança que via graça em pequenas coisas. Alguns bons minutos haviam passado quando finalmente a garota terminara com a tarefa. De fato havia demorado mais do que estava acostumada, mas ao menos havia se divertido na mesma medida.

Quando enfim as folhas foram ensacadas para ter um outro destino, Naoko se deixou sentar junto das raízes das árvore que por sua vez pareciam abraçá-la como se estivesse verdadeiramente contente em ter presenciado toda a alegria da menina durante a tarefa. — Mama, se você estivesse aqui, com certeza seria ainda mais divertido. — Um suspiro pesado escapou pelos lábios infantis. Não era tristeza, mas sim saudade. Como se uma força maior quisesse entregar uma resposta de conforto para a pequena Hiaru, uma brisa morna soprou os galhos da árvore fazendo com que uma única flor de cerejeira se soltasse da mesma e planasse até o topo da cabeça da garota. Um pequeno sorriso tomou os lábios dela enquanto se aninhou ainda mais junto da  árvore. — Obrigada…

Por um bom tempo, Naoko permaneceu ali, apenas aproveitando o sentimento que lhe tomava o peito, sem se preocupar com nada. Diferente do que a menina pensava, seu tempo de tranquilidade havia chegado ao fim quando algo lhe tomou a atenção fazendo com que voltasse a assumir sua postura mais rígida, aquela a qual seu pai havia lhe imposto. Do outro lado das tábuas de madeira que constituíam o muro que cercava a residência dos Hiaru’s, a morena conseguia ouvir com um pouco de dificuldade duas vozes abafadas, mas que mesmo assim podia identificar como sendo de crianças. Pela segunda vez naquele dia, as sobrancelhas dela foram o suficiente para demonstrar para qualquer um seus sentimentos e pensamentos. Naoko estava deveras intrigada. Não havia vizinhos daquele lado da cerca, apenas uma casa vazia desde que os antigos donos haviam se mudado e optado por não vender a casa.

Levada pela emoção e curiosidade, a aspirante a genin traçara um plano interessante para descobrir o que podia ser. De maneira resumida, o que iria fazer nada mais era do que espiar por cima da cerca, porém o que chamaria atenção seria o como faria isso. A cerca de madeira era consideravelmente alta, o genitor de Naoko havia a feito  beirando os dois metros de altura com a desculpa de que prezava por sua privacidade e por querer garantir que não incomodaria os vizinhos em outras situações. Não havia meios normais para que a criança conseguisse alcançar o topo da divisa, ainda não conseguia controlar e manipular o seu chakra o suficiente para que conseguisse subir a superfície sem dificuldade, teria de improvisar.

— Mama, me desculpe, mas vou precisar fazer isso… Vai que é alguém espiando a gente, não é?! — Ela abraçou a árvore por um curto tempo como acréscimo de seu pedido de desculpas e logo em seguida Naoko dera um pequeno salto agarrando com as mãos  um dos galhos mais baixos porém relativamente forte para aguentar seu peso ao precisar se puxar para cima.

Com um pouco de dificuldade a menina conseguira subir na árvore após usar os pés descalços como apoio no tronco tentando se aderir ao mesmo da maneira que conseguia. Havia conseguido subir na árvore, porém ainda não era o objetivo final. Precisava ir um pouco mais alto, se enfiar entre os galhos carregados e se aproximar da cerca torcendo para não ser interceptada e muito menos cair. Sem tempo a perder, a menina prosseguiu em sua peripécia. Como havia feito antes, se agarrou em um segundo galho, porém um pouco mais espesso e consideravelmente mais alto. Não havia tido tanta dificuldade, porém a árvore acabou balançando de uma forma que a garotinha não havia previsto, tudo o que pôde fazer foi se agarrar com firmeza e ficar em silêncio para tentar identificar se as vozes continuavam ali. Quando finalmente conseguiu escutar, prosseguiu com seu plano.

De pouco em pouco a garotinha se arrastou pelo galho da árvore tentando não fazer tantos movimentos bruscos e torcendo para que não caísse ou algo do tipo até que finalmente alcançou o limite da cerca, se fosse mais para frente atravessaria a mesma e correria o risco de ter uma queda, em vista que o galho ficaria mais fino. Seu coração estava acelerado, mal acreditava que iria espionar alguém. A adrenalina que corria em seu corpo, fazia com que a menina se perguntasse se era daquela forma que se sentiria quando se tornasse uma ninja. Balançando a cabeça para afastar os pensamentos e manter a mente e os sentidos livres, Naoko se focou tentando escutar as vozes com mais clareza e identificar os donos por entre as folhas e flores de cerejeiras.

— Nós não temos muito tempo, você sabe disso. — Aquela voz… Aquela voz era conhecida por Naoko.

Considerações:

A menina engoliu o nó que havia se formado em sua garganta. A voz que escutava de trás da cerca era muito parecida com a de seu pai. — “Papa, o que você está fazendo aí?" — Inevitavelmente, Naoko tentou se arrastar um pouco mais fazendo com que o galho tivesse um leve rebaixamento fazendo com que criasse um vão suficiente para que a menina conseguisse ver com mais clareza e ter a certeza de suas dúvidas. Para seu alívio e também surpresa, na realidade o homem diante de seus olhos não era seu pai.

— Anda, copie a aparência dele e vá lá ver, não sabemos quando ele vai voltar pra casa. — A segunda voz era feminina porém um tanto carregada de autoritarismo fazendo com que a garotinha visse a mesma como a líder do que quer que fosse aqueles dois.

Antes que Naoko pudesse fazer qualquer coisa, o homem se transformou no velho Hiaru. Por alguns segundos a garota pareceu não entender o que estava acontecendo, um minuto antes era uma pessoa e logo em seguida havia se transformado em outra… Outro nó havia se formado, mas dessa vez a menina o manteve prendendo a respiração para não fazer barulho enquanto os olhos acompanhavam o trajeto que o outro fazia e sua mente trabalhava para trazer a memória de uma das aulas da academia.; — “Henge! Ele tá usando henge pra imitar o meu pai!” — O tempo em que perdera comemorando em silêncio por ter identificado o jutsu fora o suficiente para fazer com que perdesse o alvo.

Com cautela, a Naoko voltara a olhar para onde o homem estava anteriormente e por sua surpresa, a mulher também havia partido sem deixar pistas de para onde poderia ter ido. Enfim a menina conseguiu voltar a respirar novamente, fizera o caminho inverso se arrastando de volta para o centro da árvore, pronta para saltar quando conseguiu ver uma movimentação estranha dentro de casa já que, da altura onde estava, conseguia observar a janela da sala sem grandes problemas. — Mas o que está acontecendo, Mama? — A menina sussurrou se agarrando na árvore voltando a ficar imóvel torcendo para que não saíssem pelos fundo, caso contrário, seria vista na árvore. Pelos minutos que se seguiram, a morena permaneceu estática agarrada no galho mais firme cogitando ter de subir um pouco mais para se esconder se fosse preciso.

Infelizmente, as preces da criança não foram atendidas. Em um estrondo alto, a porta que conectava a casa com o quintal dos fundos fora aberta. Novamente a garotinha prendera a respiração e tentara ficar o mais imóvel que conseguia conforme o homem avançava quintal a fora. A cada passo que o desconhecido disfarçado dava para algum canto da dependência, Naoko sentia o coração bater mais rápido enquanto deslizava para trás na árvore. Deslizou, deslizou até que o homem chegou próximo da onde estava. Ele estava bem abaixo de seus pés, quase encostado na cerca.  — “Por favor, não olhe para cima…” — Naquele milésimo de segundo, a menina sabia que havia se metido em uma enrascada.

Seu corpo estava paralisado. A atenção totalmente voltada para o homem lá embaixo. Precisava fazer alguma coisa, algo que ajudasse a se disfarçar entre as folhas e flores caso fosse preciso.— “Pense Naoko, pense… Você aprendeu algo que possa usar.” — A Hiaru podia sentir a cabeça doer tentando se lembrar, mas por mais que se esforçasse, estar sob a pressão do momento não colaborava. Ela não tinha mais tempo. Como ela suspeitava, os olhos do desconhecido se ergueram e o semblante do mesmo fora o de surpresa, em resposta, Naoko dera um passo em falso sobre o galho em que estava e o indesejável aconteceu. Ela caiu.

Considerações:

Por um minuto, seu coração parou. Os olhos se fecharam esperando pelo seu triste fim. Imaginava que cairia diretamente em cima do desconhecido, porém por força do destino ou pura sorte, seu corpo atravessou a cerca. A queda de dois metros fora rápida, porém o impacto sentido em seu corpo fora grande. Por muito pouco havia se livrado de bater a cabeça contra uma pedra.

A respiração estava descompassada. Seus olhos se abriram rapidamente enquanto o corpo, que queimava em adrenalina e medo, se movia por conta própria. O radar de perigo apitava em uma dimensão gigantesca dentro de sua cabeça. Precisava sair dali. Tivera apenas tempo de bater as mãos sobre os joelhos e se certificar de que não  havia quebrado nada antes de sair em disparada para qualquer lugar longe dali.

Naoko cruzou o quintal abandonado o mais rápido que podia e, para sua felicidade, não tivera grandes problemas para sair da residência, já que no lado oposto o que separava a casa de uma ruela era uma mureta um pouco mais baixa que a criança. Fazendo um pouco de esforço, a menina impulsionou o corpo miúdo por cima  do amontoado de pedras deslizando para o outro lado.
Em nenhum momento ela olhou para trás. Sabia que se perdesse tempo com isso acabaria sendo pega. — “Ele está me seguindo?!” — Era a pergunta instalada na cabeça da garotinha e que lhe servia de combustível para que parasse. Não fazia ideia do que estava acontecendo, mas precisava continuar viva pra descobrir.

Ela correu por um bom tempo. As pernas doíam, o fôlego estava chegando ao fim e o corpo em breve entraria em estado de exaustão. Naoko não estava pronta para passar por uma situação como aquela. Por mais que fosse naturalmente mais rápida que a maioria das crianças de sua idade, ainda precisava melhorar seu desempenho, porém não era o momento para aqui. Precisava encontrar um lugar para se esconder.
Mais alguns bons metros foram percorridos pela garotinha, até que se deu por convencida de que havia despistado o tal desconhecido. Em um local significativamente  afastado, onde a vegetação era mais densa, a vila  dava espaço para uma enorme floresta. Sem pensar duas vezes, a menina se embrenhou em meio às plantas se escondendo em algo que a mesma reconhecia como uma espécie de toca. Não sabia ao certo se realmente era seguro se esconder ali, talvez a tal toca ainda pertencesse a um animal que estava próximo, porém o cansaço havia lhe vencido, precisava recuperar as forças e fechar os olhos mais uma vez.

Considerações:

Naoko não sabia ao certo quanto tempo de fato havia passado, porém quando finalmente abriu os olhos novamente, o sol já havia se deitado dando espaço para a lua que criava feixes de luz entre os galhos das árvores. Um bocejo cansado escapou pelos lábios vermelhos da criança enquanto a mesma se erguia com certa dificuldade para sair de dentro da toca onde estava escondida. Seus olhos ainda embaçados olharam em volta enquanto a mente puxava em sua memória tudo o que havia acontecido naquele dia. —”Papa...”

Por um instante a menina sentiu uma pontada no peito. Sabia que havia algo de muito errado em toda aquela situação. Quem eram aquelas pessoas que haviam invadido a sua casa? Por qual razão se passavam por seu pai? As perguntas que surgiam em mente confusa eram muitas. Mais uma vez a pontada viera e dessa vez fora ainda mais forte, como se fosse um aviso.
A garota olhou em volta. Deveria voltar para casa. Não devia? Ela suspirou virando-se para fazer uma pequena reverência para aquele buraco vazio. Era um ato um tanto diferente e confuso, mas era um reflexo daquilo que a menininha havia aprendido com a mãe já falecida… Deveria ser grata por tudo aquilo que lhe ajudasse e servisse de alguma maneira. E assim foi.
Após se certificar de que ninguém estava esperando por ela em uma armadilha, a menina caminhou com cautela por entre as árvores até alcançar novamente o campo vazio no topo da colina. Lá de cima a menina podia sentir a brisa tocar o seu rosto fazendo com que a mesma acordasse definitivamente. Era hora de voltar para casa.

O trajeto a ser feito seria relativamente diferente daquele que cumprira para chegar até ali. Naquele momento já não precisa se preocupar em se esconder, não teria de pular cercas ou qualquer coisa. Ela apenas precisa ser rápida.
Novamente a menina respirou fundo deixando os pulmões se encherem de ar ao máximo por inúmeras vezes. Havia aprendido aquilo em algum momento na academia e com a prática, notara que de fato ajudava na questão de controlar o seu fôlego durante práticas que necessitavam que a mesma se esforçasse de alguma forma física. Quando finalmente se convenceu de que estava pronta, seguiu o seu caminho.

Inicialmente o trajeto havia sido feito de forma calma. Os pés de Naoko se encontravam em harmonia, assim como o restante de seu corpo. Os passos eram firmes e em uma velocidade suficiente para ser considerado com um trote. — “Você já se aqueceu, pode fazer melhor do que isso agora. Não vai querer chegar depois do seu pai em casa.” — Ela balançou a cabeça concordando com o próprio pensamento enquanto automaticamente seu corpo respondia.
Sua velocidade aumentara e o que antes podia ser dito como um trote, se transformara em uma corrida. A respiração da garotinha ficara mais forte, seu peito se inflava consideravelmente e coração acelerava. Ela não iria diminuir o ritmo, faltava pouco. Por mais bons minutos Naoko correu, cruzou as ruas e vielas de Kirigakure até finalmente alcançar seu bairro.

Quando seus olhos puderam finalmente avistar sua casa, a pontada que antes havia sentido na floresta, voltou a lhe afligir.  Enfim a corrida cessou e os passou passaram a ser tranquilos uma segunda vez até que parou diante do seu destino final.

Considerações:

Havia algo de estranho naquele lugar. A atmosfera continuava tão pesada quão quando preciso fugir dali horas atrás. O pequeno portão de ferro estava aberto e podia ver a luz da sala pela janela da frente. Seu coração ficava cada vez mais apertado, porém mesmo com o medo lhe assombrando, arrancou forças de seu interior assim com coragem e seguiu para dentro da dependência. Tudo estava muito silencioso, os gatos da vizinhança que costumavam atrapalhar o sono da menina haviam desaparecido e nem mesmo o vento tocava o sinete pendurado na pequena varanda. — Calmo demais… — Ela sussurrou consigo mesma.

Os olhos atentos analisavam com cuidado cada canto da casa pelo lado de fora, não queria ser surpreendida por alguém escondido entre as sombras. Seus pés lhe guiaram para os fundos e mais uma vez pode estar junto de sua amada árvore. Com passos rápidos a garotinha se lançou em direção a cerejeira, abraçando-a da melhor forma que podia. — Obrigada por ter me protegido Mama e me desculpe por tudo isso. — Aos poucos seu coração voltara a tomar os batimentos normais, estar ali, junto de algo que tinha um significado tão grande para a mesma, era de grande ajuda.
Alguns bons minutos haviam se passado enquanto Naoko permanecia enroscada entre as raízes da árvore até que se dera conta de que ainda não havia acabado, precisava descobrir se algo havia sido roubado e se preparar para explicar – e questionar – sobre toda aquela situação seu pai chegasse… Se não o tivesse feito.

Quando finalmente conseguiu se recompor, a menina veio a se afastar de onde estava e se aproximou da porta  aberta que dava para a cozinha. Mais uma vez ficara alerta para com tudo o que pudesse vir a acontecer. Seus olhos se forçaram para tentar ver com antecedência em meio a escuridão que o cômodo se encontrava, porém não tivera tanto sucesso. Sorrateiramente, se agachou tentando fazer o mesmo barulho que conseguia e então engatinhou  cruzando o local se esgueirando pelas paredes, assim, caso houvesse alguém na casa, seria mais difícil de vê-la.

Rapidamente a mesma alcançou o portal que ligava a cozinha e a sala da casa. A partir dali, não podia se esconder nas sombras. Sem ter o que fazer, Naoko se ergueu novamente e se espremeu contra a parede à sua direita ainda dentro da cozinha. Seus olhos analisavam a sala com cautela, conseguindo notar toda a bagunça que havia sido feita ali. Os móveis estavam fora do lugar, as gavetas reviradas e coisas jogadas pelo chão. Por um minuto a menina fora tomada por raiva vendo toda aquela bagunça, mas ao mesmo tempo aliviada, afinal, se aquilo tudo ainda estava daquele jeito, seu pai ainda não havia chego… Ao menos era o que ela pensava.

Quase convicta de que de fato a casa estava vazia, a menina voltou a atenção novamente para a cozinha e tateando pelos balcões, tomou em mãos a primeira faca que havia encontrado. Munida de sua arma improvisada e de toda a coragem que tinha, a menina se postou na sala. — Que grande bagunça… — Ainda inconformada, Naoko começava a acreditar na hipótese de que tudo aquilo se tratava de um roubo. Um roubo cheio de fatos estranhos, mas ainda assim um roubo.
Seus olhos atentos procuraram pelo espaço por algo que estava faltando até que finalmente os colocara sobre a parede onde outrora a katana havia sido pendurada por Hiaru. Suas sobrancelhas se franziram enquanto se aproximava da parede. — “Por que raios de razão fizeram tudo isso por causa de uma espada?” — A menina estava perplexa com toda aquela situação, alguma coisa não encaixava naquilo tudo.

Por segurança, continuou armada com sua faca enquanto caminhou pelo restante da casa. Primeiro seu quarto, depois o porão que também estava revirado e por último parou diante da porta do quarto de Hirotaka – seu pai. Normalmente, aquela parte da casa era proibida para a garota, seu pai costumava deixar a porta sempre trancada, como se escondesse alguma, mas dessa vez a tranca não existia. Alguém havia estourado a maçaneta? Ela aproximou o rosto da porta procurando por sinais que indicassem arrombamento, porém não havia nada. — “Que estranho…” — Sem pensar duas vezes, ela adentrou no quarto.
Seus olhos atentos mais uma vez vasculharam tudo. Diferente do que ela esperava, tudo estava em ordem confirmando que não havia sido aberto por aquele homem. Dando a volta no local se deu conta de que fora os móveis, não havia mais mais nada ali. Onde estavam as coisas de seu pai?

Considerações: