A destruição constante das pedras espalhadas em uma das docas de Kirigakure já havia se tornado algo recorrente, enquanto as embarcações partiram em meio a imensidão azul que envolvia boa parte daquela aldeia, o pequeno gennin mantinha seu foco unicamente em dizimar.

Os estrondos ecoavam, sendo vez ou outra, abafados pelos gritos ardidos de uma mulher. Quem transitasse aos arredores certamente estranharia a situação, porém ao notarem as figuras que lá estavam, entenderiam de fato do que se tratava. Os mais cautelosos preferiam manter distância.

— Você chama isso de força? Desse jeito não vai conseguir mover um tronco de árvore. — A figura de madeixas púrpura se mostrava inquieta, estava sentada sobre uma grande pedra de calcário enquanto revirava um pequeno fardo de latas de alumínio ao seu lado. O semblante de indignação na cara da mulher era perceptível, assim como a longa golada que ela dava em suas bebidas toda vez que se mostrava desgostosa com a situação; ela já havia bebido pelo menos oito daquelas.

Enquanto isso Suyoshi estava descalço, tinha ambos os pés no chão, e uma quantidade vasta de suor escorria por todo seu corpo. Não tinha tempo o suficiente para tomar fôlego, estava focado em elevar ainda mais a própria força, para isso tinha que se sujeitar aos treinos extensos e pesados de Misato. Havia cedido de vez aos métodos arcaicos da mulher.

— Cala a boca, sua bruxa velha! — Tomado pelo cansaço e o estresse, o genin se enfureceu. — EU SOU O SHINOBI MAIS FORTE DO MUNDO, COMO VOCÊ PODE DUVIDAR DA MINHA CAPACIDADE? — Estufou o peito em meio aos gritos, abrindo os braços bruscamente e então deixando que a própria fúria tomasse conta de seu corpo.

Sem esperar nenhuma resposta, disparou-se em direção a um grandioso pedregulho, tão grande quanto o próprio corpo, mas não se deixou intimidar pelo tamanho de seu alvo. Com um jogo trabalhado ao distribuir a massa corporal rumo ao lado direito, em um único golpe de baixo para cima, cravou o punho destro sobre a pedra, causando várias fissuras sobre a mesma e também fazendo com que fosse empurrada um pouco para trás.

Obviamente conseguiria fazer em pedaços uma pedra maior, mas aquela era tão grande que provavelmente nem conseguiria empurrar do lugar com métodos convencionais. Talvez tivesse um rendimento maior se tentasse movê-la, mas Misato havia destacado que isso não era o suficiente para conseguir ganhar força nos golpes, então o único meio seria golpear até que chegasse ao ponto de transformar em poeira toda estrutura que invadisse o seu caminho. Estava focado em conseguir essa progressão.

Inicialmente teria se frustrado por não conseguir a destruição da rocha no primeiro golpe, agora estava um pouco mais maduro em relação aos episódios anteriores, precisava focar em melhor e não deixar as emoções tomarem as dores de suas falhas. Suyoshi recuou com a mão que acertou o primeiro golpe, antes mesmo que essa retornasse por completo sobre a base original, já estava pronto para desferir outro com a esquerda, onde aprontou o grupo muscular rapidamente para que auxiliasse no poder e garantisse enfim o golpe de misericórdia para o seu alvo. Em meio ao estrondo, vários estilhaços foram atirados sobre o solo.

— Precisou de dois golpes para destruir isso ai? — Misato virou mais uma latinha sobre os lábios, esvaziando-a em três goladas. — Fraco, fraco, muito fraco... Não acredito que Kirigakure veja você como uma ameaça. Se tivessem me dado um cão São Bernardo, talvez eu tivesse um pouco mais de trabalho pra cuidar. — Enfatizou em tom de deboche enquanto atirava a lata contra a cabeça do garoto.

— Eu sou mais forte que um São Bernardo! — Interceptou a lata com a mão esquerda e a amassou, arremessando-a de volta. — VOCÊ VAI VEEEEEEEER!!! — Esbravejou, retornando o foco para o treinamento.

Dessa vez não se conteve momento algum, onde correu até o próximo alvo, desta vez recendo o mesmo com um chute de frente, onde apenas levantou o joelho esquerdo e então disparou o golpe utilizando toda a força empregada sobre o calcanhar. Não foi o suficiente para destruir a pedra, porém o estrago foi maior que a primeira vez. Sem perder tempo, finalizou com um soco, fazendo todo o calcário se desmoronar sobre o solo.

Suyoshi sentia que ainda estava atrás, queria executar a mesma função até que finalmente conseguisse destruir aquelas pedras com um único golpe, sem que precisasse perder tempo atacando o alvo mais de uma vez. Também tinha noção de que Misato iria lhe cobrar cada vez mais, não importava quantas vezes atingisse os objetivos, ela sempre cobraria resultados além de sua expectativa.

Treino de Força
4.605 caracteres, 781 palavras

Os dedos já estavam calejados de tanto acertar as crostas enrijecidas das grandiosas formações de calcário, e por mais que os sedimentos se mostrassem um pouco mais frágeis que outros minerais, era certo que o grau de dificuldade para um genin era superior ao tornar relevante o seu nível de força. As rochas menores se rompiam com facilidade, isso por conta de suas estruturas serem menos densas e também pela progressão do nível de força do garoto, afinal era fato de que estava evoluindo.

Agora, saindo do mesmo foco destrutivo, havia outra questão a ser trabalhada. Misato pensou pacientemente em uma forma de fazer com que o garoto estivesse constantemente sofrendo com a pressão do treinamento, sendo assim conseguiu desenvolver alguns métodos que poderiam manter o pequeno ocupado por alguns dias, afinal não era da natureza do mesmo que conseguisse aprender tão rápido, apesar de seu excelente desempenho físico.

— Ta vendo aquela pedra ali? A maiorzinha. — A mulher saltou, também colocando-se sobre o chão e andejando rumo a mesma pedra na qual havia apontado. — Eu quero que você arremesse ela, até o outro lado. Assim... — Então em uma rápida demonstração, simplesmente arregaçou a manga do braço esquerdo, onde apenas cravando os dedos sobre sua estrutura, levantou toda a pedra de uma única vez e a arremessou com facilidade até o outro lado da pequena região em que se encontravam nas docas. Sem o mínimo esforço, conseguiu fazer com que a rocha de pelo menos três metros voasse a uma distância de cinquenta metros.

Suyoshi contorceu os lábios diante da situação, odiava a maneira exibida de como a mulher gostava de agir, mesmo que ela realmente tivesse razão em suas ações, já que era a pessoa mais forte que conhecia até o momento.

— Hmmm... Isso vai ser fácil. — Assim como sua tutora, arregaçou as mangas e então começou a andejar rumo a pedra que havia sido arremessada. Estava mais confiante em decorrência dos últimos resultados, mas não que isso realmente fosse lhe dar algumas forças adicionais.

Assim que se aproximou não poupou esforços, levantou ambas as mãos e apoiou as palmas sobre a pedra, ajustou o tronco para que conseguisse ter um apoio mais fácil no momento em que fosse alavancar aquela estrutura para cima, também aprontou as pernas, afinal elas também não poderiam falhar, caso contrário seria esmagado por um simples descuido. Apenas se deixou atrasar por um único suspiro, onde logo mais firmou os pés e com o auxílio da musculatura das costas, começou a empurrar o corpo para frente, o suficiente para pelo menos fazer com que a pedra se movesse alguns centímetros.

O peso de uma rocha de três metros é grandioso, pelo menos sendo ao todo cinco vezes mais pesada que o corpo do garoto, fazendo com que qualquer esforço para levantá-la fosse maçante e certamente perigoso. Apesar de tudo, a convicção de que certamente fosse conseguir não deixava que abandonasse a causa, não cederia em momento algum.

— Vamos lá! — Cravou todos os dedos da mão sobre a rocha, perfurando-a minimamente de modo que conseguisse apoio para levantá-la. Firmando todo o corpo, fez com que qualquer movimento se cessasse, onde então precisou trabalhar para que toda a musculatura se enrijecesse e auxiliasse na sustentação de uma massa maior. Aplicando toda a força necessária, conseguiu em um movimento de explosão levantar aquilo, usando os ombros para alavancar e rapidamente aplicando um passo para frente, onde então fez com que o peso se apoiasse sobre as costas.

Imediatamente Suyoshi sentiu toda a pressão, se não estivesse firme o bastante, jamais conseguiria sustentar todo aquele peso. As pernas bambearam, os músculos do bíceps ardiam e o tronco quase que não conseguia suportar. Por pouco não conseguiu forçar para levantar o pescoço e conseguir se situar.

— Tem certeza que consegue? — A voz da mulher surgiu logo atrás, onde a mesma auxiliou o garoto a sustentar o peso utilizando apenas uma mão.

— Se eu não... — Sentiu as pernas afrouxar, a dor era intensa ao ponto de sentir quase todas as fibras musculares do corpo se rasgarem pouco a pouco. — Se eu não conseguir, então não vai ter problema nenhum se essa pedra me esmagar... — Fechou os olhos e mordeu o lábio inferior. — Essa pedrinha aqui não é nada.

Essa era resposta que Misato já esperava, ela entendia toda a convicção que caminhava lado a lado do garoto, ele se esforçava bastante, mesmo com todas as deficiências e problemas que o acompanhavam. Com um sorriso orgulhoso, recuou de modo que todo o peso ficasse por conta de Suyoshi.

Queria gritar, mas nem forças para isso tinha, tudo estava concentrado unicamente em manter firmeza em não deixar que aquela pedra conseguisse lhe vencer. Entretanto, sabia que o treino não se tratava apenas de aguentar o peso, tinha que conseguir arremessá-lo, para isso precisava estar confortável e disponibilizando de ainda mais força.

Pouco a pouco começou a flexionar os joelhos, dividindo o peso sobre pontos de apoio específicos, sobre grupos musculares maiores e consequentemente mais resistentes. Gesticulando os ombros para frente, fez com que as mãos que ainda sustentavam a pedra trouxessem a mesma para frente, retirando toda a pressão que essa distribuía sobre as costas. Tinha que ser intenso, de uma única vez conseguir atirar aquela pedra para longe, o mais longe que pudesse.

— MORRA PEDRA IDIOTA! — De uma única vez explodiu. Liberou junto a própria exaltação toda a intensidade que conseguiu fazer atravessar pelos músculos, fazendo com que o próprio tronco em um movimento bem trabalhado conseguisse dividir o momento da força, onde então ao agir como um "chicote", fez com que a pedra fosse arremessada contra o ar, partindo com tudo o que o genin tinha para oferecer.

Sem contemplar o próprio resultado, se atirou de joelhos sobre o chão, onde logo mais fez com que as mãos também repousassem diante da areia. O suor já nem incomodava mais, como qualquer outro fluido ou sentido que ousasse agir sobre seu corpo, a dor muscular era intensa ao ponto de conseguir apagar tudo.

— Cinco metros... — Misato se ajoelhou ao lado de Suyoshi e depositou a mão sobre seu ombro direito. — Você vai ter que treinar muito para conseguir chegar ao meu nível um dia. Levanta aí, nos temos tem a noite toda ainda. — Escorregou a mão lentamente para trás e então deixou três tapinhas sobre as costas do genin.

Treino de Força
6.363 caracteres, 1.083 palavras

Conforme os dias foram passando, Suyoshi estava se tornando mais familiarizado com o estilo de treino, conseguia se entregar por completo aos desafios, mesmo que cedesse, sempre se levantava e não se importava em recomeçar do zero. Obviamente a dificuldade estava aumentando, mas junto a ela já era perceptível a progressão que havia feito em questão de força, isso até mesmo refletia em sua forma física.

Mais uma vez os estrondos se levantavam sobre a mesma área, aqueles que geralmente rodeavam o local já estava habituado o suficiente com a presença daquelas duas figuras por lá. Enquanto Misato bebia e julgava seu pupilo, Suyoshi simplesmente berrava e se atentava ainda mais em sua missão de transformar todas as pedras daquele lugar a pó.

— Você sabe que desviar não vai adiantar de nada, né? — A mulher brincava com uma pedra de um metro, jogando-a para cima como se fosse uma simples bolinha de borracha. Havia uma pilha das mesmas sobre os pés dela, onde constantemente ela as utilizava para atirar em direção a Suyoshi que deveria demonstrar sua progressão em destruí-las.

— Se continuar atirando tão forte assim vai acabar me acertando, por acaso perdeu a cabeça? — Desta vez tinha uma série de esfolados por seu corpo, encontrando-se vestindo apenas calças de treino. Mantinha uma respiração ofegante, demonstrando um vasto cansaço após alguns exercícios que havia feito ao longo do dia.

— Ué!? Mas essa é a intenção, não é? — Então mais uma vez atirou, arremessando a pedra com força em direção ao garoto. — Eu disse para destruí-las, não desviar... Acho que as pessoas têm razão, você realmente tem algo faltando dentro da sua cabeça.

Sem tempo para retrucar e até mesmo desviar, tudo o que o genin conseguiu fazer foi juntar ambos os braços a frente do próprio corpo, buscando interceptar a pedra e evitar que ela atingisse algum ponto inoportuno. Em resultado, seu corpo não cedeu com o choque, a pedra se dividiu em pedaços, mas a dor era intensa nos braços. Havia entendido que não teria trégua alguma, precisava continuar tentando se defender e conseguir pegar um ritmo para destruir todo projétil que viesse em sua direção.

Não houve momento algum para que conseguisse se recompor do primeiro impacto, uma pedra já vinha em direção ao seu corpo e Misato já aprontava para disparar outra logo em seguida. Os reflexos foram ótimos para lhe auxiliar nesse momento, onde conseguiu tempo o suficiente para levantar o braço esquerdo e conseguir atingir o alvo. Sem dificuldades conseguiu destruir, porém, a pressão pela força que lhes fora aplicada era poderosa, um mero descuido e seria surpreso por uma lesão ou até mesmo quebrando algum osso.

— Tsk... — Tentou encontrar outra pedra em meio aos estilhaços, conseguindo alcançar facilmente sua localização. Desta vez levantou o braço destro para que pudesse dizimar a pedra, recebendo-a com um soco potente.

Mais pedras viriam, em razão disso era mais inteligente se manter fixo em uma única posição. Se fosse rápido para trabalhar com os punhos, conseguiria golpear as pedras continuadamente, aplicando sempre força o suficiente para que as pedras fossem destruídas. Já estava cansado, porém, tinha que suportar, afinal a pilha de "munição" de Misato ainda era vasta.


Por mais que duas horas Suyoshi permaneceu inerte, socando todas as pedras que eram arremessadas em sua direção, fazendo com que um pequeno monte de calcário esfarelado se formasse ao seu redor. Seus punhos sangravam, mas já nem ao menos ligava para isso, estava acostumado com as feridas que se abriam pela região.

— Que saco... Eu jurava que fosse conseguir acertar pelo menos umas cinco pedras em você. — Gritou Misato ao notar que todas as pedras menores já haviam sido destruídas.

— Em compensação você conseguiu acertar todas no outro dia... É claro que fui eu que deixei, estava querendo ser legal com você. — Começou a alongar o ombro direito como se orgulhasse do resultado do treino atual.

— Entendo... Deve ser sim... — A mulher virou de costas e começou a andar de um canto para o outro, parecia buscar algo que fosse de seu interesse.

— Não precisa ficar assim, eu entendo é que frustra... — O genin arregalou os olhos ao notar a intenção da mulher, onde ela simplesmente caminhava em sua direção com uma pedra gigantesca de pelo menos cinco metros de altura e largura, aquilo era tão grande quanto uma casa, com toda certeza iria lhe esmagar.

Calada, simplesmente fez um único gesto, atirando seu mais novo projétil para o céu, onde precisamente viria a ter o garoto como seu ponto de repouso. Após isso simplesmente deu as costas mais uma vez, batendo uma mão sobre a outra e cantarolando enquanto se dirigia para uma pequena escada que levava para a pequena praia que havia sobre a região das docas.

— Mi... Mi... Mi... MISATOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO! — Não teria tempo para desviar, então precisava tentar parar aquela coisa que vinha como um cometo em sua direção. Estava desesperado, mas, em simultâneo, tomado pela adrenalina.

Curvando o tronco para frente, flexionando as pernas e então abrindo os braços de modo que conseguisse aplicar mais estabilidade ao corpo, simplesmente se aprontou para receber o impacto, mas não ficaria esperando que a pedra viesse e lhe esmagasse, iria lutar contra ela e dizimá-la. Os calcanhares atiraram seu corpo como se fossem pistões, onde então partiu para alguns metros do solo, aproximando-se cada vez mais da pedra.

— MORRAAAAA! — Berrou. Nesse mesmo instante sua visão se tornou turva, apenas a escuridão que acompanhava aquele corpo de massa gigante estava ao seu alcance; então nesse caso não havia como errar. Gesticulou o braço esquerdo de forma que ele subisse como um gancho, sendo auxiliado não somente pela musculatura do peito, mas também das costas e do ombro. Havia aplicado uma força intensa no golpe, pelo menos assim tinha certeza de que algum estrago causaria daquilo.

Um estrondo se levantou assim que o punho de Suyoshi se chocou com a pedra, uma chuva de estilhaços se espalhou pela área, assim como a escuridão que ao invés de sumir, simplesmente tomou conta de toda a visão do genin. Apesar de conseguir dizimar o corpo, havia sofrido com boa parte dos estilhaços que se espalharam e lhe acertam, fazendo com que fosse arremessado bruscamente sobre a areia.

— Então eu morri? — Conseguiu ajeitar o tronco, o suficiente para se sentar. Demorou alguns segundos para que conseguisse abrir os olhos e perceber o resultado. Apesar de tudo, não estava feliz, não era isso que esperava que acontecesse. Olhou um pouco mais ao redor, até que conseguisse ver a silhueta de Misato bem longe, ela gargalhava enquanto lhe mostrava o dedo do meio e a língua.

É claro, ela sabia que aquilo poderia ser fatal, mas ela sempre gostava de apostar no acaso. Suyoshi teria se enfurecido, mas aquela mulher era a única pessoa que conseguia confiar em seu potencial sem lhe comparar com um monstro ou uma criatura irracional. Sentia orgulho em chamá-la de mãe.

— Você pensou que fosse conseguir se livrar do shinobi mais forte de todos? — Demorou para que conseguisse se levantar, porém, não demonstrou a mesma dificuldade para berrar. — Você me subestimou, Misato. Ordeno que peça desculpa! — Então correu em direção a mulher, enquanto a mesma ainda caía em gargalhadas.

Treino de força
7.299 caracteres, 1.234 palavras

O progresso para enriquecer ainda mais os aspectos físicos do genin era promissor, os resultados estavam se tornando aparentes e constantemente eram nítidos os elogios que Misato levantava a respeito do mesmo. Foram semanas apenas de preparação, destruindo pedras, se adaptando ao estresse que banhava o corpo, estimulando cada fibra muscular e até mesmo a resiliência. Era perceptível que a melhor qualidade para um garoto que vez ou outra cedia ao descontrole emocional era nada mais que a sua força física, apesar de soar como uma faca de dois gumes, quando usada de forma inteligente - pouco provável vindo de alguém como Suyoshi - seria gratificante para qualquer situação.

Apesar do perigo, a shinobi entendia que o uso de Suyo para Kirigakure não passava de uma arma, sua tarefa era fazer com que o mesmo entendesse esse ponto, que conseguisse progredir e ser totalmente leal aos interesses da aldeia, porém a afeição que a mesma nutriu pelo garoto fez com que se aproximasse o suficiente para tratá-lo como um filho, entendendo seus sentimentos e percebendo que aquela criança imatura jamais poderia ser limitado a ser uma arma. Misato estava auxiliando nos treinos, pois essa era a vontade de seu pupilo, conseguia ver a vontade dele e estava disposta a tornar aquilo uma troca saudável entre gerações.

— Acho que você poderia se interessar um pouco mais por conhecimentos gerais... — A mulher estava dentro de um pequeno bote de madeira, suas pernas estavam apoiadas sobre a borda enquanto o dedo indicador desenhava pequenos redemoinhos sobre a água. Era manhã, as correntes frias do outono já se aproximavam do país da água e por conta disso as temperaturas eram um pouco mais baixas do que o habitual, ainda mais em proximidade a costa. — Somente trabalhar sua força física não vai ter serventia alguma se você se ver em uma situação de risco em uma missão fora da aldeia. Nesse ponto atual você deveria começar a estudar, não acha? — Havia certa serenidade em seu tom de voz, diferente do habitual, afinal ela era uma pessoa totalmente explosiva.

O garoto estava a alguns metros do bote, a água estava até a altura de sua cintura, enquanto uma grossa corrente subia de seu ombro direito e com ambas as mãos o mesmo parecia fazer força para arrastá-la. Os elos metálicos eram direcionados para água, a qual escondia uma grandiosa âncora que se encontrava em uma região mais funda próxima da região portuária. Nadar por ali era uma atividade proibida por conta do tráfego de embarcações, mas até o momento não havia tido problema alguma.

— Estudar não vai me ajudar a destruir uma parede com meu soco, deixa de bobagem. — Suyoshi buscava arrastar a corrente com todas as forças que tinha, pressionando o próprio pé sobre o fundo da água e com dificuldade conseguindo mover apenas alguns centímetros. Toda vez que suas mãos pressionavam a corrente, boa parte de suas veias saltavam, era como se estivesse dando tudo de si para movimentar aquilo, porém sofrendo um drástico retardo por estar sobre a água.

Ainda estava escuro quando chegaram ali, não demorou muito para que Misato conversasse com um pescador aos arredores e conseguisse um barco e uma âncora de navio emprestada. Como se não bastasse, fez com que o genin entrasse sobre a água em meio ao frio e começasse a arrastar a âncora. Já haviam se passado pelo menos três horas e apenas conseguiram ir míseros quinze metros de distância desde o ponto inicial.

Em meio a uma respiração turbulenta, era notável que Suyoshi estava fadigado, estando em um ponto ao qual nem mesmo a baixa temperatura afetava seu corpo. Era como se toda a pressão aplicada para fazer força resultasse em um nível grotesco de adrenalina, fazendo com que qualquer intervenção interior fosse nada.

Rangendo os dentes, o garoto fez com que a força se distribuísse por toda sua musculatura em uma onda única de choque, conseguindo o suficiente para que o próprio tronco se alavancasse para frente e juntamente a corrente ligada a âncora, movendo mais alguns centímetros da posição onde estava. Dado que o progresso havia sido feito, não houve tempo algum para relaxar, onde então ousou se movimentar mais algumas vezes, até que finalmente não aguentasse mais.

A ardência sempre acompanha a tensão máxima aplicada sobre a musculatura, rompendo as fibras que mais tarde precisarão ser repostas por uma quantidade significante de proteína e creatina, onde a reconstrução é trabalhada de maneira mais firme, elevando não somente a capacidade da região muscular em sofrer tensão, mas também implementando em uma resistência maior para o rompimento dessas fibras. O processo é repetitivo, porém os treinos sempre precisam ser mais pesados, de modo que sempre haja uma forte pressão para que assim o uso de uma força maior seja necessário.

Toda a dor que banhava o corpo do genin era o resultado de seu progresso, ceder agora significaria que aquele era seu limite, que não conseguiria progredir, então precisava de manter firme, estar sempre focado para desenvolver ainda mais o seu corpo.

— Sabe, um dia eu quero aprender mais coisas... Acho que o Shinobi mais forte de todos precisa entender de tudo um pouco, mas no momento eu quero ser tão forte ao ponto de conseguir destruir uma onda usando uma única mão. — Se virou para Misato enquanto ainda fazia força para mover a âncora. — Preciso estar preparado para proteger as pessoas.

A mulher apenas respondeu com um breve sorriso, como se estivesse entendendo o lado para qual as coisas estavam caminhando. Nos últimos dias estava pensativa em relação às coisas que o genin vinha aprontando, é como se ele tivesse encontrado um motivo ainda maior para viver, porém, ela não poderia proteger ele da própria imaturidade para sempre. O mundo não é uma simples briga entre o bem e o mal.

Treino de Força
5.781 caracteres, 977 palavras

Alguns dias da mesma atividade foram o suficiente para que conseguisse progredir de resultados praticamente negativos para algo realmente considerável. O exercício da âncora foi repetido todas as manhãs, onde o garoto precisavam arrastá-la por pelo menos cinquenta metros, indo e voltando até a mesma posição em que iniciava. Inicialmente parecia algo impossível, mas até então já não se tratava de algo tão difícil de se fazer, porém, ainda havia suas dificuldades.

A mesma corrente ainda era mantida, sobre os ombros do garoto haviam esfolados por conta do atrito do metal sobre a pele do genin, as marcas de seu treino eram aparentes, as olheiras destacadas de forma horrenda sobre a base dos olhos, porém é justo ressaltar que a atividade estava mais simples, afinal o corpo já estava habituado e consequentemente uma progressão havia acontecido.

Suyoshi estava mais uma vez sobre a água, mantendo a profundidade até a altura da cintura como o habitual, e com todos a musculatura dilatada, fazia com que seu corpo trabalhasse para movimentar aquilo, agora conseguindo progredir alguns metros em uma única explosão, mas ainda sofrendo com o peso e com os empecilhos que tinha ao se manter firme dentro de um terreno como a água.

Misato estava sobre o pequeno bote, lutava para continuar acordada e constantemente deixava que seus longos bocejos fossem o único som sobre o lugar. Acordar muito cedo era um pouco difícil, ainda mais para supervisionar um garoto hiperativo arrastar uma âncora de lá para cá. Infelizmente ela era a única pessoa dentro de Kirigakure que já estava habituada a conviver com aquele monstro incansável, então precisava estar ali caso tivesse que lidar com qualquer situação que fugisse do controle.

Enquanto a mulher estava na calmaria, o garoto se esforçava o máximo, queria terminar aquilo e partir para o próximo passo, queria métodos novos de treino e sentir uma evolução maior. Tinha noção de que precisava tirar o máximo de cada exercício, até que ele não pudesse lhe ceder mais recursos, mas também sabia que praticar uma rotina repetitiva era chato, muito chato.

— ARRRRRG! — Rosnou como se fosse um cão para que conseguisse forçar uma longa passada mais uma vez, com muita dificuldade a corrente se mover e consequentemente a ancora. Toda a força que aplicava para que pudesse se mover era grandiosa, como se estivesse prestes a se rasgar, ou simplesmente que sua cabeça fosse explodir ao tentar segurar a respiração para executar maior pressão. Por mais que quisesse saber seu próximo exercício, tinha medo do que poderia ser.

De passo em passo conseguia se forçar para frente, mantendo todo o esforço dos músculos ao máximo, trabalhando os membros inferiores, superiores e toda a região abdominal. Não havia um único canto em seu corpo que não havia enfrentado a ardência, era horrível, servindo como alívio apenas a movimentação que a corria fazia, deixando claro que já estava conseguindo arrastar aquilo em decorrência de todos os esforços.

Pelo menos uma hora foi o suficiente para que conseguisse completar  a distância, uma boa progressão em relação as primeiras vezes, onde chegou a levar catorze horas para mover aquilo por apenas cinquenta metros. Estava mais um passo a frente de logo mais contemplar uma força absoluta, mas enquanto ainda precisasse se esforçar tanto para mover algo como uma âncora, com certeza ainda tinha no que progredir.

Misato aproximou o pequeno bote em que estava ao notar que a atividade havia chego ao fim, ajustando a própria postura e então cruzando os braços.

— Não foi um tempo perfeito, mas acho que continuar nisso aqui já não vai te servir mais... Pode sair da água, seu treino terminou por hoje. Descanse bem, pois amanhã vamos começar uma atividade nova.

Dessa vez Suyoshi não comemorou como em todas as outras vezes, apenas assentiu e seguiu as recomendações da mulher. Não adiantava se animar agora, ainda tinha muito trabalho a ser feito e a energia não poderia ser desperdiçada.

Treino de Força
4.002 caracteres, 661 palavras

O queixo de Suyoshi quase chegou ao chão assim que Misato apresentou o novo método de treinamento, do qual não se tratava de algo novo,  mas sim um método antigo, porém mais complicado. A princípio não era o que o garoto esperava, afinal a euforia do mesmo era gigante, suas expectativas simplesmente foram atiradas ao mar e devoradas por uma baleia como se fossem um cardume.

— Ma...Ma...Mas você não falou que a gente ia fazer algo novo? — Incrédulo com a situação o garoto se aproximou de duas gigantescas âncoras que estavam atoladas sobre a costa, um pouco próximas da maré que vez ou outra lhes molhava.

Misato estava encostada sobre uma delas, os braços estavam cruzados e um sorriso cínico residia em sua face. Algo com certeza estava queimando por dentro dela, era como se o seu maior prazer fosse torturar a vida do genin com situações básicas que qualquer outra pessoa normal simplesmente pensaria ser dispensável.

— E isso não é novo? — Ela deu um pequeno tapinha sobre a âncora que tinha quase que o dobro do seu tamanho. — É maior... E são duas! Não é incrível, Suyoshi? — Com o mínimo de força ela empurrou o corpo para frente usando as costas, enquanto simplesmente se afastava  cantarolando uma música aleatória.

O garoto queria gritar, mas se conteve, queria poupar energia para que pudesse executar suas atividades. Carregar uma âncora era difícil, mas agora eram duas, maiores e para ajudar estavam fora da água. O trabalho seria dobrado, assim como todo o esforço teria que ser extremo.

— Sim... Sim... É incrível mesmo... — Desapontado, caminho rumo as correntes gigantescas que ligavam cada uma das âncoras e começou a testar o peso delas. Se questionava em relação ao peso, aquilo tudo deveria ter pelo menos umas duas ou três toneladas, era um pouco difícil de discernir.


Alguns minutos foram o suficiente para que o genin finalmente entrasse no espírito da coisa. Após uma série de aquecimentos e uma motivação própria a base de gritos fez com que finalmente despertasse seu instinto selvagem, não queria se deixar levar pelos prazeres daquela bruxa terrível que vez ou outra chamou de mãe, iria mostrar para ela que duas âncoras não era o suficiente para lhe fazer recuar.

— EU SOU SUYOSHI, O SHINOBI MAIS FORTE DE TODOS! — Berrou.

Sem delongas, atirou cada uma das correntes por cima dos ombros, onde inclinou o próprio corpo e começou a esforçar para que conseguisse mover aquelas barras de aço para frente. A princípio conseguiu arrastá-las de sua posição inicial, não houve muita dificuldade, mas assim que a própria inércia lhe deixou a mercê unicamente de sua força, a coisa começou a pesar um pouco.

Avançar com o tronco para frente não era o suficiente, assim como dividir a pressão sobre as pernas e os braços era ainda mais complicado, afinal haviam dois pontos de equilíbrio em que precisaria dividir a massa que pretendia arrastar. A única forma de conseguir seria tratando o próprio corpo como um centro único, onde uma única massa seria movida sem sofrer divisão alguma, tinha que aplicar igualmente a mesma intensidade em ambos os lados, evitando que qualquer descuido simplesmente lhe fizesse travar e não conseguir prosseguir com o movimento.

Planejou o momento certo para liberar toda a energia de uma única vez, com cuidado flexionou os joelhos e aprontou-se para levá-los a frente conforme os passos, as mãos se firmaram sobre as correntes juntamente no elo que estava acima do ombro, enquanto o tronco mantinha-se inclinado para frente.

— Um, dois, três e... — Preencheu os pulmões com ar e deixou que ele escapasse em seguida, sendo o disparo para que em uma única explosão a sua força trabalhasse ao seu favor. Como se estivesse aplicando um bote, guiou o corpo para frente e assim fez com que as âncoras se arrastassem poucos centímetros, notou o sucesso e decidiu que não cessaria por enquanto, mantendo a coordenação do movimento e trabalhando em intervalos subsequentes.

Conforme o garoto se movia, Misato caminhava ao seu lado, cantarolava enquanto mantinha os olhos fixos sobre o rastro deixado pelas âncoras ao solo. Era como se estivesse a fim de provocar, tornando a experiência de progressão do garoto um pouco desconfortante.

— Nossa, que fraco... — Cochichou consigo mesma, torcendo os lábios e entrado na frente de Suyoshi, virando-se para o mesmo e seguindo o percurso de costas. — Vou te dar uma opção. Você pode largar essas correntes e ir pra casa, se continuar nessa moleza eu tenho certeza que não vai chegar a lugar algum... De que adianta todo esse treino? Parece que não há progressão alguma.

Os olhos de Suyoshi simplesmente subiram de encontro com a mulher, o mesmo permaneceu calado, focado apenas em executar seu movimento e trabalhar na força que aplicava para conseguir mover o seu fardo. Queria gritar, argumentar e explodir em insultos, mas tudo aquilo era proposital apenas para lhe estressar, algo tão simples não lhe faria desistir de modo algum.

Sem respostas, inclinou ainda mais o tronco, as mãos se fecharam sobre os elos ao ponto das veias em seu antebraço saltarem de forma descomunal. Seguiu com passos pesados, arrastando de pouco em pouco cada uma das âncoras, suportando todo o seu peso como se aquilo não fosse impossível de ser movido por métodos naturais, afinal não estava mesmo, quem carregava aquilo ali era nada mais, nada menos que SUYOSHI.


Um bom tempo se passou, Misato continuava a acompanhar, o provocando e tentando lhe convencer a desistir, mas a sua voz já nem ao menos alcançava a mente inconsciente de Suyoshi. Cada passo era como se ele estivesse travando uma guerra consigo mesmo, como se estivesse superando as forças do próprio corpo toda vez que decidia prosseguir. Era como uma máquina, não parecia resistir sentimento algum senão executar a mesma função várias e várias vezes.

O olhar apagado, os músculos inchados, o corpo trêmulo e o suor constante, tudo isso era a cena horrenda que envolvia a força de vontade do garoto. O fardo era grande, pesado e até mesmo surreal para uma pessoa comum, mas havia uma motivação que fugia de qualquer aspecto egoísta, ele não estava fazendo aquilo apenas por si só, cada gota de suor derramada era a paixão do genin por se tornar uma barreira a frente de todos aqueles que ele ama.

Misato entendia que não restava nada senão um passado sangrento no corpo daquele garoto. Seu passado era horrendo ao ponto de que sua própria personalidade criou um sistema para evitar que o mesmo cedesse ao desgosto por si mesmo, criando uma personalidade que lhe blindou de qualquer empecilho que lhe fizesse desabar em desespero.

Boa parte da região em que estava já havia sido percorrida, muitos metros foram deixados para trás, mas por algum motivo Suyoshi ainda se mantinha firme, quieto e arrastando aquelas âncoras gigantescas.

— Ei... — A mulher se aproximou, colocando a mão sobre o peito do garoto e fazendo com que o mesmo parasse. — Seu treinamento acabou, daqui pra frente o seu progresso só vai depender de você. Estou muito orgulhosa. — Então encerrou todo aquele ciclo de treinamento com um único abraço.

Treino de Força
7.153 caracteres, 1.221 palavras