THE QUIET

Não era fácil dormir em meio aquele espaço, me sentia extremamente deslocado quando estava tão longe de casa e ao lado de pessoas que podiam me deixar tão nervoso. Cada um estava em uma arvore, no seu próprio canto, descansando da sua própria maneira. Pelo pouco que conseguia enxergar na escuridão, ninguém mais estava acordado, eu parecia o único que se encantava e se distraia com todas aquelas estrelas no céu, contando-as como uma forma de me ajudar a dormir, por mais inútil que fosse. Estava frio, mas de forma agradável, os sons noturnos das florestas dividiam-se entre tranquilizar e arrepiar, alguns eram tão naturais que me puxavam cada vez mais para o desejo do sono, no entanto outros eram horripilantes e desconhecidos, parecia que a qualquer momento algo me puxaria para uma escuridão sem fim, só que acredito que isso já era delírio da minha cabeça.

Não sei que horas são e nem quantos minutos se passaram comigo encarando o céu e contando a infinidade de estrelas que o iluminava, mas não adiantava, nada me atraia o sono, então pelo menos aproveitaria melhor o meu tempo se estivesse me exercitando de alguma forma. Sorrateiramente, calmo e discreto, tentei saltar da arvore, me afastando um pouco do nosso local de repouso. Eu queria seguir até um campo mais aberto que tínhamos visto mais cedo, enquanto patrulhávamos a área.

Agora, iluminado pelas luzes noturnas, me sentia mais abastecido para tentar algo, talvez uma corrida, talvez algum exercício, não sei, qualquer coisa seria útil naquele momento. Retirei a camisa, exatamente por conta do frio, queria senti-lo, testar minha própria resistência aquela temperatura, em seguida movi-me de forma a alongar cada centímetro do meu corpo, preparando-o para o que vinha a seguir.

No fim apenas comecei a correr, rápido e livre, queria elevar minhas próprias expectativas naquele momento, mas também queria ficar despreocupado, não era de fato um treino e sim uma forma de liberar toda aquela energia que se mantinha no meu corpo, uma forma também de nublar meus pensamentos, calá-los naquele momento seria ótimo, eles apenas martelavam o quão insignificante eu era diante tudo e esse era um delírio que não queria enfrentar hoje.

Considerações:

Sweater Weather.

As pálpebras se ergueram, revelando um conjunto de pérolas que reluziam entre a penumbra e traziam à Keitaro uma visão nublada dos seus arredores. Resmungou para si mesmo, em poucos espasmos de desconforto, e então inspecionou as árvores ao redor, conferindo a posição segura de seu time. O som que havia o acordado logo se mostrou evidente, tratava-se de Sariel que tentava uma fuga silenciosa, e o motivo era desconhecido, o que apenas intrigou ainda mais o genin recém acordado. Keitaro balançou a cabeça e levou sua destra até os cabelos, retirando algumas das folhas que repousavam sobre suas madeixas, e então levantou-se ainda na árvore e moveu-se entre a floresta, seguindo o companheiro de forma furtiva, deixando Shihai para trás.

“Ele deve estar indo cagar” — Era o que ele tinha em sua cabeça, sua teoria principal. Em dado momento alcançaram um campo aberto, e o avanço de Keitaro pelas árvores já não era mais possível. Ele repousou sobre o tronco mais próximo daquela plenitude, e enquanto sentado observou os passos seguintes de seu companheiro, de longe.

Tratava-se de uma noite atípica de verão, e o frio era ampliado pela grande presença da mata que cercava suas posições. O fôlego de Keitaro era pesado, não só pelo esforço feito para alcançar aquela posição e pelo frio que afligia o ambiente, mas também pela cena que acabara de presenciar, de Sariel removendo suas vestes superiores, uma exibição que contribuiu para o gradual aquecimento de seu próprio corpo, vide a ascensão de um sentimento incompreendido como protagonista em seu repentino rubor.

Sariel começou a se exercitar pela vastidão do cenário em que se situavam, e Keitaro se perdia em seus próprios sentimentos, renegando o que sentia, mesmo que não tivesse a experiência necessária para entender exatamente a fonte de toda aquela queimação. Em meio a um descuido, o tronco que mantinha-o erguido cedeu, e logo após um grande ranger, a sua queda espantou todos os pássaros que faziam ninho pelo local, levantando uma grande nuvem de poeira através de seu choque contra o chão.

— Merda, merda, merda... — Reclamava entre os golpes no ar, na tentativa de afugentar a poeira criada e se ver livre daquela obstrução. Inicialmente nem chegou a passar pela sua cabeça que Sariel provavelmente teria notado sua presença, então sequer passou por sua cabeça a ideia de se esconder ou fugir.

Keitaro: 250/250 HP :: 320/550 CH

Considerações:

THE QUIET

Os frios da noite pareciam me abraçar num movimento quente, contrariando a própria origem. Meu coração batia cada vez mais forte, ficando intenso, meu sangue borbulhava enquanto meus pés cada vez mais aumentavam a distância que percorria naquelas inúmeras voltas. Por um momento fechei os olhos, senti o vento e o meu cabelo ser jogado para trás, um sentimento de liberdade, de vida, algo que trazia uma paz inexplicável.

Numa súbita mudança de pensamentos, meus olhos voltaram-se para uma cena um pouco quanto cômica, Keitaro estava acordado e pelo jeito tinha me encontrado, visto que nesse momento estava jogado no chão, pelo jeito tinha levado uma queda, naquele momento um riso se formou no meu rosto, mas o contive, evitando parecer um pouco insensível com a situação. Corri em sua direção, me aproximando e oferecendo ajuda para que ele se levantasse.

—— O que faz aqui? Também não conseguiu dormir? —— perguntei.

Naquele momento um calor ainda maior tomou conta do meu corpo, encarei seu rosto por alguns segundos e era como se meu estômago colapsasse a cada novo momento, minha respiração ofegou um pouco, mais que o normal pela corrida, me senti nervoso, num misto de frio e calor, totalmente perdido em meio aquela sensação estranha. Não conseguia compreender, entendia que Keitaro era o pivô daquilo, mas por qual motivo?

Sua resposta era positiva, então ele se encontrava no mesmo estado que eu, obviamente por pensamentos e motivos diferentes, talvez estivesse nervoso com essa primeira missão. Eu acreditava que aquele treino seria suficiente para recuperar meu sono, no entanto se ele também estava daquele jeito não o podia apenas deixar assistindo.

—— Bom, eu estou treinando um pouco... que tal a gente brincar? Se exercitar me ajuda a retomar o sono, o que me diz? —— sugeri.

Por mais inocente que fosse a ideia, eu estava realmente animado com ela, a falta de Shihai era levemente agradável, era um momento que eu teria a sós com Keitaro e isso me excitava de certo modo. Assim que escutei a resposta afirmativa, saquei uma pequena kunai, queria brincar e tiro ao alvo a noite seria um interessante, movi os braços rapidamente para trás, com força, ganhando impacto e atirando a arma contra meu parceiro de time.

Considerações:

Sweater Weather.

Um misto de emoções era responsável por aquela resposta tão única de seu próprio corpo, onde o seu cérebro era extasiado enquanto o coração palpitava mais forte do que nunca havia feito. A poeira abaixou ao seu redor, e a voz de Sariel soou como uma flecha, cravando-se profundamente em seu peito ao passo que entendia tudo o que havia acontecido. O rosto que já possuía certo rubor começava a acentuar, o semblante envergonhado era escondido por trás de pequenos machucados obtidos naquela queda. Os olhos se desviaram, mas logo se viram obrigados a confrontar o destino, e fitaram Sariel de forma preocupada, aflita, como se estivessem extremamente desconfortáveis.

— E-eu tava procurando uma coisa! Não é óbvio? — Disse, ríspido, negando a mão oferecida para lhe auxiliar a levantar. Desviou o rosto, na tentativa de ignorar o que sentia ao ver Sariel naquela posição à sua frente, com poucas vestes. Se levantou com certa dificuldade, se desprendendo das partes quebradas dos galhos enquanto inspecionava se não havia se machucado gravemente. Parecia estar tudo bem, com exceção de alguns poucos arranhões nos seus braços, pernas e rosto, que ardiam e evidenciavam certa vermelhidão.

— Brincar? — Voltou a corar, imaginando que não tinha saída daquela situação, e, para falar a verdade, começava a perceber que não tinha vontade de ir embora. — Tudo bem. Pode ser, eu te ajudo. — Terminou, cedendo à ideia do companheiro de time, mas sem imaginar que tudo começaria tão de repente. Sariel empunhava uma Kunai em sua destra, e foi rapidamente lançada contra a posição de Keitaro, que não conseguiu se safar completamente do fio da lâmina, passando ao lado de seu rosto, deixando um irrelevante arranhão na bochecha.  

— Huh!? — Se surpreendia com aquele gesto, que trazia-o à realidade e provocava-o a participar daquele embate. Resolveu devolver na mesma moeda, manifestando um brilho dourado por todo o seu corpo, reluzente, e começava a desfazer-se em papeis, salientando os seguimentos que caracterizam a ativação do Shikigami no Mai. Do corpo algumas folhas se distanciaram, e em meio ao ar três shurikens de papel foram formadas, que por meio de uma simples manipulação voaram contra a posição de Sariel, tentando acerta-lo no rosto, assim como fizera consigo.

Keitaro: 250/250 HP :: 320/550 CH

Considerações:

THE QUIET

Em um único momento de distração o ataque foi suficiente para atingir e rasgar a pele de Keitaro, de fato aquela não era minha intenção e por alguns segundos senti um peso de iniciar de forma tão desavisada, isso podia acabar o ferindo de forma não desejada, entretanto devo elogiar minha mira, fui preciso mesmo em meio ao escuro. Segundos após aquele momento, entendi o motivo de nunca se arrepender em combate, enquanto esperava uma resposta ao meu próprio ataque, fui surpreendido quando os papeis surgiram de súbito, avançando freneticamente em minha direção, minha atenção a Keitaro em conjunto com o que já estava reunindo dele dos últimos treinos foi mais que necessário naquela hora, meus pés encheram-se com meu próprio chakra e em segundos cortei a minha direção, esquivando-se das shurikens de papeis enquanto me aproximava ainda mais de meu parceiro de time.

Em meio a minha corrida notei o quão já estava consumido pelos pensamentos, as chances de um sono tranquilo naquela noite já estavam cada vez mais longe, era uma série de informações, tão rápida quanto a velocidade em que me movia, processar tudo aquilo por mais que fosse eu que estivesse criando era complicado, me sentia confuso e perdido entre meus próprios desvaneios. Eu tinha que conseguir limpar minha mente rapidamente, eu tinha que me aproximar e acertar Keitaro, por mais difícil que fosse, o último treinamento eu tinha ficado para trás, mas agora? Não podia ficar largado, eu sabia do meu potencial e queria, pelo menos daquela vez, mostrá-lo a ele, sim, eu quero ser notado por você.

De forma rotativa meus pés foram de encontro ao seu alvo, Keitaro. Um golpe limpo, claro e preciso — assim como minha mente estava no momento em que executei o ataque — minha intenção era atingi-lo, mas não apenas isso, uma abertura e eu me moveria para sua retaguarda, algo tão repetitivo em todos nossos treinos, mas que Keitaro já não era alvo algum tempo: uma imobilização. Minha intenção era simples e clara, puxar seus braços para trás e os pressionar contra seu corpo, envolvendo meu braço no seu pescoço, aproximando nosso corpo e impedindo que Keitaro conseguisse facilmente se soltar, ainda não entendia a extensão da técnica de ninjutsu que ele dominava, mas talvez sem as mãos não fosse fácil usa-las, pelo menos queria acreditar naquilo.

Considerações:

Sweater Weather.

Aquele sentimento inédito se espalhava pelo meu corpo como veneno, instaurando-se em cada mísero centímetro do meu ser. Ele tomava proporções físicas, trazendo à minha pele certo rubor, esquentava os meus músculos, era como estar sendo abraçado por algo gigantesco e imaginário, mas as vezes era intenso demais, deixava de trazer o conforto de um abraço e parecia tentar me esmagar, a cada novo passo que Sariel dava em minha direção isso piorava, eu me sentia em combustão, como se estivesse à beira da evaporação, as gotículas de suor que se formavam mesmo diante do clima frio salientavam isso, misturando-se com os rastros de sangue das feridas anteriores, uma sinfonia que ressoava entre a dor e o prazer, uma coisa nunca vivenciada por mim até então.

Sariel começou a andar em minha direção após evitar o meu ataque; a cada novo passo o meu coração batia em sintonia, como se respondesse à sua aproximação de uma forma única demais para o meu cérebro acompanhar. Por um momento eu hesitei, engoli seco, fitando o peitoral do meu companheiro de time. Eu virei o rosto, renegando o que sentia, tentava esconder não só de Sariel como também de mim mesmo. Não estava apto a continuar o embate, não naquela situação, onde cedia à mínima distração. Minhas vestes começavam a encharcar com suor frio, não pelo calor, mas pela mistura de sentimentos e acontecimentos que nos levou até esse momento.

O chakra dourado ressoou pelo meu corpo conforme minha vontade, contrastando contra o brilho lunar em uma única disputa de força de vontade. Quando os meus olhos se voltaram ao foco principal, a perna de Sariel arqueava frente à minha posição, com os seus sapatos se erguendo ao meu rosto, nesse momento, eu até mesmo conseguia sentir o cheiro do couro. O brilho dourado que cobria meu corpo acentuou, reforçando os músculos com a presença do chakra, e em um único salto comecei a moldar um recuo. Em sintonia, o Shikigami no Mai desfazia parte de meu corpo enquanto o golpe oponente avançava, dando a impressão de que eu me desmaterializava ao seu toque.

Reapareci a alguns metros de distância, naquele pequeno recuo que fiz, encarando Sariel, que tinha suas tentativas frustradas. Não deixei de sentir em momento algum tudo o que havia nutrido até então, mas não poderia entregar aquele embate para ele tão facilmente, eu não gosto de perder, e não quero perder para ele. — V-você não tá com frio, cara? — Fechava levemente o olho direito ao falar, levando a destra até a parte de trás do cabelo, coçando, envergonhado. — Bem... — Antes que pudesse ouvir sua resposta, comecei a remover as minhas vestes superiores, tanto meu casaco quanto minha camiseta.

Com as vestes em mãos, fiz um movimento de arremesso, fingindo que lançaria as peças de roupa contra o rosto de Sariel, mas na verdade tentava enganá-lo transformando-as enquanto ainda em contato com a palma da minha destra em uma torrente de papeis, que fluiria contra a sua posição, na tentativa de acertá-lo e carrega-lo para longe de minha posição. Tentava me distrair completamente com a batalha, para não deixar que aquele sentimento me fizesse tomar mais decisões ruins, como a de remover meu agasalho para me igualar a Sariel.

Keitaro: 250/250 HP :: 320/550 CH

Considerações:

THE QUIET

O vento frio era o terceiro oponente daquela noite, assim como questionado por Keitaro, eu realmente o sentia, mas simultaneamente meu corpo todo parecia se aquecer de forma incomum, eu sentia meu peito arder como jamais antes havia feito, era uma sensação tão estranha, chegava a me questionar se não estava tendo alguma reação estranha, ou melhor, se não estava morrendo com alguma doença juvenil. Meus olhos pareciam encarar Keitaro como se ele fosse minha caça, era quase que hipnotizando observa-lo, sua forma incomum de se movimentar, seu jeito atrapalhado de agir, diferente de mim nada dele parecia ser ensaiado ou calculado, ele somente existia e sabia que isso era o suficiente ou talvez realmente não se importasse nada com os demais, era invejável, sim, é isso, tudo que sinto, esse sentimento tão incomum que tenho por Keitaro, é inveja, eu queria ser ele.

—— Acho que estou me esquentando o suficiente. —— respondi em um tom brincalhão, mentindo na maior cara dura que conseguia fingir naquele momento. Por mais que meus olhos estivessem vidrado em Keitaro, eu não fui capaz de raciocinar o reagir ao seu movimento incomum, se despiu de maneira tão incomum, diante de mim e atirou suas roupas na minha direção, meu corpo por inteiro paralisou naquele momento, estava travado e meu coração saltitava tão rápido quanto o som, minha respiração se intensificou ainda mais e eu não fui capaz de reagir, somente quando as roupas desfizeram-se em papel fui capaz de voltar a realidade, acordando da minha própria crise de pânico, mas era tarde, fui engolido e afastado em meio a torrente de folhas.

No entanto, aquilo não era o suficiente. Me levantei rapidamente e meus olhos se guiaram pelo campo o mais rápido que conseguiam, encontrando novamente meu alvo, Keitaro, dessa vez assim que comecei a mover tomei mais uma kunai a mão, girando-a um segundo antes e então saltando e pegando um maior impulso para o arremesso dela, mirando pela região de suas pernas, isso devia ser o suficiente para lidar com tanta mobilidade prática dele, entretanto meu verdadeiro golpe só estava camuflado, um chute aéreo, carinhosamente apelidado como “voadora”.

Considerações:

Sweater Weather.

Meu movimento parecia surtir efeito e me conceder certa vantagem, eu conseguia afastar Sariel de minha posição, mas meu corpo reagia como se isso fosse algo ruim, eu estava sofrendo por fazer o certo em um combate, por algum motivo o meu cérebro queria que ele estivesse próximo. Bem, eu não sou um completo idiota, e já começo a me perguntar se isso que estou sentindo é realmente o que estou pensando que é, uma sensação nova que nunca havia sentido por ninguém, embora seja algo que todos comentem. Eu não sou bom em reconhecer o amor, eu não faço a mínima ideia do que é estar cercado por ele, mas eu começo a achar que é assim que alguém com esse distúrbio se sente, dessa forma desconfortável e irracional. Mas... Eu estou apaixonado por esse cara? Não. Amor não existe. Isso é outra coisa.

Sariel suspendia seu próprio corpo durante um salto e lançava novamente uma Kunai contra minha posição. Nesse movimento repetido uma fagulha insignificante de pensamento me levou à ideia de que ele queria treinar sua pontaria. Eu sorri, inevitavelmente, afinal, a cena dele adquirindo uma posição que se alinhava perfeitamente com a lua era um tanto quanto hipnotizante. O meu shikigami no mai reagiu, de acordo com minha vontade, e um par de asas de papel foi moldado, assim como fizera em um dos nossos primeiros encontros após a academia. Eu não voaria, no entanto. Os membros seriam arqueados frente ao corpo, bloqueando o projétil e fazendo o mesmo com a “voadora”, cedendo com o impacto e lançando-me ao chão, junto a Sariel.

As asas de papel se desfizeram após a interação com ambas as ofensivas, e agora eu me via caído ao chão novamente, assim como tudo aquilo começara. No entanto, dessa vez, Sariel estava acima de mim, mas a única coisa que eu conseguia reconhecer era a sua calça que se esfregava sobre meu rosto na altura de sua cintura, quase em sua barriga, ao mesmo tempo que sentia o mesmo na minha. Aquilo foi completamente constrangedor. Meu rosto se tornou completamente vermelho, e eu comecei a me debater para sair daquela situação que havia me metido. Desvencilhei entre as pernas do genin, temendo que Shihai pudesse chegar e observar aquela cena, mas precisava da cooperação de Sariel para sair facilmente. — Porra, Sariel. Sai de cima de mim!

Keitaro: 250/250 HP :: 320/550 CH

Considerações:

THE QUIET

Eu fui capaz de notar a barreira que se formou a tempo de impedir que minha arma atravessasse, no entanto não tive reação suficiente para evitar o meu próprio impacto, era frustrante, Keitaro era realmente superior a todas minhas capacidades físicas, por mais que eu tentasse desesperadamente alcança-lo, era impossível, ele estava muito a frente do que eu tinha conseguido aprender e me aprimorar e, além disso, ele estava sempre melhorando, por mais que eu me esforçasse, ele sempre estava correndo na minha frente. Nesse momento é que eu estou começando a entender melhor esse sentimento de inveja, eu quero alcançá-lo, eu quero correr ao seu lado, mas por algum motivo... eu não quero abandoná-lo.

Logo após ao impacto, meu rosto se encontrou em uma forma mais macia, notavelmente eu não tinha ido de cara ao chão, mas demorei alguns segundos para entender que o meu rosto estava grudado na calça de Keitaro, aquele momento peculiar e de perfume característico quase que foi o suficiente para me fazer desmaiar, meu corpo inteiro foi energizado com uma quantia imaginável de adrenalina, meu peito doía de tão forte que meu coração batia e minha respiração, por mais frenética que estivesse, não era o suficiente para repor a falta de ar que eu sentia com todo aquele momento.

Keitaro me desestabilizava.

No entanto, por mais constrangedor que fosse, quando notei sua tentativa de se soltar percebi que ele não estava em posição muito diferente, sua fala foi o suficiente para me despertar uma ideia um quanto estranha, mas que em um combate verdadeiro poderia vir a ser extremamente útil. Usei minhas pernas para um movimento rápido, tentando virar a posição rapidamente e usá-las para imobilizar Keitaro, ficando um pouco acima de sua cintura e o pressionando com o próprio peso do meu corpo, queria impedi-lo de sair, por mais que não soubesse o que fazer logo após.

—— Ainda estamos em combate, não se distraia! —— diria, tentando pressionar suas mãos contra o chão, encarando-o de forma fria por fora, mesmo que em total pânico e nervosismo por dentro, era um misto de sensações e sentimentos que novamente me traziam dúvidas e mais dúvidas.

Considerações:

Sweater Weather.

Não, não, não, não e não. Aquela definitivamente não era uma posição politicamente aceitável. Eu me frustrava entre os socos e tapas que dava contra o chão e contra o corpo de Sariel para tentar me levantar, mas a posição vantajosa que o garoto tinha parecia ser demais para que eu conseguisse superar. Não importava o quanto eu tentasse lutar contra o seu aperto, eu apenas me cansava e me tornava cada vez mais fraco. Minha respiração se tornava ofegante, eu já não detinha da vontade necessária para continuar aquele árduo acervo de tentativas, e minha mente era carregada entre a confusão de ter Sariel tão próximo de mim, acima da minha cintura, em um ponto especificamente delicado. — Para de falar como um professor! Que merda! — Resmunguei, com uma pequena pausa para retomar o fôlego entre as palavras. Tentei mais uma, duas, três tentativas falhas de sair daquela situação, mas não funcionava.

O Shikigami no Mai seguia influenciando meus golpes, eu detinha muito mais chakra em minhas reservas do que o necessário para fazer um jutsu, eu tinha completa noção de que conseguiria sair daquela situação dessa forma, mas eu insistia em não fazer. Aquele sentimento evoluía rapidamente de acordo com a luta, a proximidade é algo que agrada o meu corpo e minha mente, e a forma como nos conectamos em meio a esse treinamento é confortável às minhas emoções, embora não seja exatamente compreendida por mim. — Assim não tem como treinar, Sariel! — Eu queria que a decisão viesse por sua parte, mas ele não parecia ceder. Eu apontei minha destra em sua direção, utilizando a manipulação de origamis para lançar uma simples nuvem de papeis contra sua face, que não seria o suficiente para machuca-lo ou afasta-lo, mas quiçá o incomodaria.

Meu coração batia cada vez mais forte, e o silêncio da noite na floresta não parecia contribuir. Nosso treinamento estava unicamente sendo orquestrado pela brisa fria de uma madrugada de verão e pelo canto dos pequenos animais que viviam no recinto, como grilos e outros insetos. A sensação de poder ser a qualquer instante flagrado por Shihai era assustadora, mas ao mesmo tempo trazia uma sensação de perigo um tanto quanto confortante.

Keitaro: 250/250 HP :: 320/550 CH

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THE QUIET

Toda aquela cena e momento era composto por um desafio que iam muito além do que eu mesmo podia compreender e entender, eu sentia que estava desafiando minha mente e obedecendo apenas ao meu corpo enquanto o prendia mais e mais, mas sua fala foi tão ríspida que doeu mais que seus milhares de papeis que me atingiram um pouco antes. Não, eu não sou tão sensível e frágil a esse ponto, mas não esperava que ele fosse agir de maneira tão rude naquele ponto. A irritação com aquele momento apenas me ajudou a intensificar ainda mais a pressão sobre seus punhos, meus olhos o encontravam, numa cena de puro descobrimento, entre o ódio e a imperfeição de um sentimento tão forte quanto meus próprios músculos.

No entanto, a segunda chamada reverteu todo aquele meu comportamento, eu estava sendo imaturo, quase não me reconhecia, cogitei sair, mas antes disso fui atingido com mais uma sequência daqueles papeis que Keitaro podia controlar, o que foi mais que complementar ao meu pulo, me afastando dele. Suspirei, inclinando meu próprio corpo e colocando minhas mãos sobre meu joelho, respirando um pouco ofegante e ao pouco conseguindo acalmar meu próprio corpo de todo aquele turbilhão de sentimentos indefinidos.

Levantei o rosto novamente o encarando, meu corpo começava a tremer de frio e isso era notável, tanto para mim, quanto para ele, mas a única coisa que me preocupava naquele momento era o pensamento que eu tinha ido longe demais, que eu tinha o irritado, o magoado ou até mesmo o ferido de alguma maneira, isso me assustava um pouco, quase que me fazia voltar ao comportamento rítmico e ansioso que me trouxe até esse campo.

Meu orgulho se desmanchou feito água, eu não me importava em me humilhar um pouco naquele momento, Shihai nem era uma preocupação em meus pensamentos, era até um pouco imemorável comparando-se com tudo que estava sentindo ali. —— Desculpa. —— disse de uma forma um pouco quanto travada, queria dizer mais, queria pedir mais, queria realmente não deixar nada de estranho naquela noite, mas era um covarde, por algum motivo me faltava coragem.

Entre as tremedeiras de frio, meus joelhos encontram a terra gelada, olhei para minhas mãos e notei que minha pele estava mais pálida que o normal, não sei exatamente o que tinha me levado aquele estágio, entretanto o que era claro logo se tornou escuro e minha última visão foi dele: Keitaro, tão bela quanto as estrelas que rodeavam o céu por de trás de sua postura.

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Sweater Weather.

Talvez eu realmente tivesse passado dos limites, mas nesse momento, eu já tinha para mim que Sariel estivesse acostumado com minha falta de disciplina durante as falas. Eu não fui criado para ser alguém educado, passei longe disso, não gosto da ideia de me limitar para agradar aos outros, e eu também não gostava de ouvir o seu pedido de desculpas quando na verdade não fez nada demais, apenas tentou vencer. Eu sorri, pouco antes dele cair, um sorriso sincero banhado pela luz lunar, uma espécie de despedida dada instintivamente para aquele que já não aguentava mais ficar de pé. As minhas pernas fraquejaram, queriam ceder, não só por todo o esforço feito como também pela vontade de se render a todos os sentimentos, mas não o fiz.

Em passos leves eu fui até meu companheiro de time, a destra tateou suas costas, e foi a responsável por girar o seu corpo e tirar a sua face da terra. Com muita dificuldade consegui coloca-lo em minhas costas, e foi ainda mais difícil dar os cincos passos necessários até alcançar a árvore mais próxima. Coloquei-o sobre repouso abaixo das folhagens, e cobri o seu corpo com as minhas vestes, que tinha deixado no campo de batalha anteriormente. A forma como eu me sentia naquela situação tinha evoluído muito e tomado proporções imensas, minhas mãos simplesmente não conseguiam parar de tremer, e eu me via cada vez mais tonto, pronto para me entregar.

— Sariel, Você está acordado? — A voz abafada era emitida entre os suspiros causados pelo frio. Não houve resposta alguma, ele estava completamente inconsciente. Eu me sentei ao seu lado, com o corpo tremendo, e fitei seu rosto de uma distância nunca antes feita. Observei cada curva de sua face, cada detalhe de seus poros, interagi levemente com seu cabelo, retirando parte da terra que ainda se alojava entre as madeixas, e então cedi, deitando sobre o seu ombro. — Eu acho que estou gostando de você. — Terminei, depois de ter certeza de que ele não ouviria. Era reconfortante falar aquilo em voz alta, mas eu não podia saborear o sentimento de ter aquele peso retirado, não agora, pois me entreguei completamente e adormeci em seu ombro, que estava coberto pelo meu casaco.

Keitaro: 250/250 HP :: 320/550 CH

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