Dragon estava perdido em sua própria vila. Sem ter forças para caminhar, manteve-se ali, fitando o bairro deserto e desconhecido à sua frente enquanto uma forte chuva caía sobre os ombros. Suspirou fundo, com as lágrimas descendo do rosto e se misturando à água vinda dos céus. Estava cansado de um longo dia de estudos na academia ninja. Na verdade, era reflexo da extensa rotina sobre os livros nas últimas semanas. Era o meio de tentar ignorar o que vinha acontecendo. A saída que encontrou para não precisar se lembrar do evento mais marcante da sua história até então. Infelizmente, não havia como fugir daquilo eternamente. A tristeza logo o alcançou naquele cenário e ele sentiu como se houvessem arrancado uma parte de si mesmo. De maneira mais profunda, mais até do que perder um braço ou uma perna. Foi como perder sua própria essência.

Seu irmão havia deixado a casa dos Tatsuki e se tornado um criminoso. O mesmo tipo de ninja que Dragon passara a vida odiando, justamente por tentarem perturbar uma das coisas que ele mais amava: o seu lar. A vila da névoa, no entanto, mesmo fruto de sua paixão, parecia um pouco menos radiante para o estudante naquela manhã. O seu braço direito não estava lá para apreciar a chuva com ele. Não houve qualquer semblante de felicidade. Por mais que Dragon houvesse conseguido despertar um dos três grandes dojutsus, seu melhor amigo não estava lá para parabenizá-lo. Sentiu como se a conquista fosse menos relevante do que realmente era. Pouco a pouco chegou a desenvolver uma certa aversão a seu próprio sorriso, por não se julgar merecedor, e um vício compulsivo em piadas clichês, tentando se manter alegre por mais tempo antes que lembrasse das dores.

O treinamento e a carga teórica dos estudos vieram com o mesmo intuito. O menino acabou tendo de se empenhar em dobro por não ter mais seu irmão para auxiliá-lo e seu pai ser muito atarefado. Dragon não era dos mais fortes, nem dos mais ágeis da classe, mas compensava tudo com determinação. Os olhos esbranquiçados, porém, eram um dos seus maiores problemas. Não conseguia mantê-los por mais que poucos minutos e se sentia desmotivado com isso. De que adiantava possuir um poder que sequer conseguia utilizar? Dia após dia era consumido pela mesma frustração, a ponto de decidir carregar uma faixa de tecido consigo para vendar o próprio rosto. A ideia era infantil e simples, mas que lhe rendera uma prática de alto rendimento no dojutsu a longo prazo. Tivera de ativar a técnica para conseguir enxergar e se movimentar, seja na escola, em casa ou na própria rua. Dragon chegava todos os dias coberto por machucados ou simplesmente não conseguia concluir o trajeto por faltar-lhe energia.

Visitava o hospital vez ou outra devido aos desmaios e, no fundo, sabia que não tinha sentido algum em continuar com aquilo. A persistência, no entanto, foi carregada pelo orgulho em provar para si mesmo que conseguia fazer algo sozinho. Que conseguiria, dali em diante, viver sem seu irmão mais velho. Os dias em que tapava os próprios olhos se transformaram em semanas e estas se converteram em meses, até os poucos minutos de duração do dojutsu se tornarem entre uma hora consecutiva. Atravessando o tecido e enxergando o ambiente normalmente. Bom, mais do que normalmente. Era como se seu corpo deixasse o ambiente e transitasse como um fantasma metros adiante, obedecendo a sua vontade. Era difícil controlar os impulsos e até se equilibrar enquanto o fazia, muitas vezes caindo para trás ou ficando tão estonteado que não conseguia mais fazer nada pelo resto do dia. Mas o pequeno Dragon sabia que não havia remédio senão a exaustão para fazê-lo se habituar. O avanço era gratificante, mas nunca o bastante. Sempre quisera se tornar um grande ninja, mas, agora, tinha ambições maiores e só se divertir não o fariam evoluir. Tratou de trabalhar no dojutsu como se sua vida dependesse disso, optando por fazê-lo todos os dias nos horários livres, sem exceção.

Era impressionante como alguém da sua idade conseguia ir tão longe e ser tão convicto. Era o que os seus familiares pensavam enquanto não viam as lágrimas descendo dos olhos esbranquiçados, todas as vezes que tinha de pausar. O treino era o anestésico da sua infelicidade. Após algumas aulas, passou a compreender as linhas no corpo das pessoas que o rodeavam: o fluxo de Chakra. A energia canalizada dentro de todos e que podia ser identificada a partir de jutsus oculares como aquele. Na ausência de sua falecida mãe, alguns dos seus tios tomaram a frente e o convidaram para serem seus instrutores. Por mais que, para eles, seu despertar fosse considerado tardio aos oito anos de idade, era extraordinário para Dragon o feito de atravessar paredes com a visão e, mais que isso, prever o que seus colegas fariam. Era inconsistente a princípio, mas conseguia ter uma sutil premonição do que ocorreria, se antecipando e conseguindo se esquivar melhor nos treinamentos de combate e surpreender a todos na classe com isso.

Infelizmente, o simples uso do Byakugan não era o bastante. Todos os dias, ao chegar em casa, separava no mínimo uma hora para aproveitar os olhos esbranquiçados. Ainda não era capaz de fazer nenhuma técnica, mas seu simples uso para encontrar objetos e pessoas na vizinhança era o exercício mais frequente e criativo que pôde imaginar. O alcance, por muitos anos, era bem limitado, aumentando conforme foi chegando no auge da adolescência. As práticas de rastreio, de mesmo modo, foram se tornando mais frequentes e os desmaios praticamente não aconteciam, sendo substituídos por fraqueza e náuseas.  

- Você está trilhando um caminho complicado – Disse seu avô – O Byakugan não se trata de um jutsu o qual a repetição lhe fará dominar. Se você quer usar por mais tempo, gaste menos chakra. Se você quer gastar menos chakra, se controle. Repita esse controle até se tornar instintivo – Orientou o monge de bom grado quando o pequeno buscou por ajuda. O clã Hyuuga não era dos mais populares na vila da névoa. Por mais que fossem de ninjas, não eram nobres nem tinham tanta influência. Por outro lado, todos eram abertos com ele e o tratavam como um bom aprendiz. A vontade de aprimorar as habilidades do clã foram o bastante para cativá-los. Tinha a expectativa de que lhe fossem passadas técnica secretas ou ninjutsus super poderoso, mas não foi o caso. Ainda assim, o aprendizado na sede do clã em Kiri valeu muito mais que um hijutsu.

Conviver com usuários que tinham a plenitude do Byakugan era de grande valia. Mostrava a ele o tipo de concentração necessário e deu-lhe um exemplo a se seguir. Os treinos eram pesados. Mais ainda do que quando era seu próprio tutor. A família da sua mãe era rigorosa, não se importando para a saúde do menino, visualizando apenas falhas a serem consertadas. Eram boas pessoas, mas senseis fervorosos. Dragon não se sentia bem com aquilo, mas, de todo modo, não se sentia bem com nada à época. A ausência de uma família completa lhe consumia diariamente, fazendo-o se questionar se não seria abandonado outra vez. Se fizera algo de errado. Se a culpa era sua. A agonia da mente tornou o desgaste físico mais brando e aceitável. Meditação e lutas resumiam bem as horas que dedicava junto a seus parentes. Gradativamente,  conseguiu fazer com que ativar o dojutsu e abrir os olhos fossem ações cada vez mais semelhantes. O empenho que precisava tanto para mantê-lo quanto para aproveitar o campo de visão eram cada vez mais naturais ao seu corpo. Pouco a pouco chegando ao mínimo que os anciões esperavam de alguém com a sua idade. Até chegar no dia da sua formatura.

Estava com a venda cobrindo os olhos, porém, conseguia visualizar a sala melhor do que todos os outros. Era possível transitar pelos cômodos como bem quisesse e o gasto de chakra era praticamente nulo. As cicatrizes em seus braços e pernas refletiam o pagamento em suor e sangue para conseguir aquilo. De mesmo modo, suas notas aumentaram em um nível impressionante. A disciplina que seu avô impunha refletira nas demais áreas, a ponto de conseguir se formar sem muita dificuldade. Não era nenhum prodígio e tampouco especialista, mas conhecia seu próprio corpo a ponto de extrair mais dele. Passou metade da sua vida treinando para aquele momento. Para chegar naquele nível. Com dezesseis anos, se tornara um hyuuga na essência, ao mesmo tempo que se tornara um ninja de verdade. Os olhos esbranquiçados podiam ser usados a seu bel prazer e, embora fosse uma ferramenta extremamente útil, era como sacar uma arma quando precisasse ou se sentisse mais confortável. Dali em diante, podia ser algo que salvasse a sua vida e a de seus companheiros.

A faixa que usava no rosto, embora não mais necessária, servia para lembrá-lo do seu foco. Daquilo que o fizera começar com esses anos exaustivos e a razão dos seus vícios e pesadelos. Simbolizava a vontade de trazer o seu irmão de volta. Dragon optou por guardá-la para usar em ocasiões especiais, quando necessitasse do mesmo tipo de dedicação. Por outro lado, nem tudo era sobre mágoa e ambição. Ao receber sua bandana, sentiu satisfação e orgulho. Dominar o dojutsu fora uma etapa importante e aquele era seu prêmio: ajudar Kirigakure e as pessoas que compartilhavam seu lar. Ser o que um dia sua mãe foi. As muitas missões que faria dali em diante, no entanto, seriam todas dedicadas à ela como uma continuação do seu trabalho.  

Aquela conquista era a prova de que Dragon conseguiria alcançar suas metas sem se escorar em outra pessoa ou depender de algo que não fosse a si mesmo. Era egocêntrico, mas ele se permitiu tomar uma boa dose de autoconfiança com aquilo. O símbolo de kirigakure reluzindo abaixo de seu queixo testemunhou o começo da jornada para trazer seu irmão de volta à vila. Antes de sair do prédio, retirou a venda e, como genin, deu seus primeiros passos para fora da academia, com as veias saltando e o Byakugan ativo. Atraiu alguns olhares curiosos e confusos na sua direção, mas não se importava. Tinha orgulho do que era e daquele dojutsu. Tinha orgulho de ser um Hyuuga.  

Dragon aperta os dedos em torno das shurikens, respirando fundo no intento de se concentrar. A ideia não era um arremesso simples, mas um aprimoramento de tudo que havia feito até então. Já dominava um pouco mais a natureza do seu chakra, mas só aquilo não era o bastante. Nunca era o suficiente para Tatsuki. Não importava o quanto estudasse ou se tivesse sucesso nas missões. Para ele, enquanto não trouxesse o seu irmão de volta, era só mais um genin.

Concentrou-se no chakra que fluía de seu corpo, externando-o para as mãos e sentindo-o tomar forma. Tentou trazer a outra face da sua energia, puxar para fora a natureza elétrica. Após algum tempo, os raios se formaram em sua mão, saltando por entre o metal, mas sem qualquer consistência. Não é isso disse a si mesmo. O que ele desejava era disparar a shuriken com o elemento vinculado à ela. Precisava causar mais danos caso acertasse, justamente pelo fato de que força nunca fora o seu lado forte. Passou alguns minutos ali, vendo a mesma falha se repetir e a estrela ninja praticamente recusar o seu intento.

Optou por fazer uma pausa para meditar. Era o que ajudava em momentos como aquele. Simplesmente cruzar as pernas, de olhos fechados, e reavaliar as próprias ações. Ergueu-se mais uma vez, dedicado a tentar fazê-lo de uma só vez, confiando no próprio controle de chakra e arremessando a arma num tronco próximo. O elemento mal se continha, esvaindo-se antes mesmo de dar potência ao movimento. Quando a shuriken se fincou mais profundamente no tronco e o brilho azulado dos raios deixou aparente o sucesso da técnica, o genin viu a chance de aprimorar-se ainda mais.

Passou a lançar duas estrelas ao invés de uma, tentando passar chakra elemental para ambas momentos antes de lançá-las. Havia aprimorado seu shurikenjutsu o bastante para conseguir fazê-lo com maestria e, unido ao seu esforço no ramo do ninjutsu, conseguiu enfim dominar a técnica. Por mais que só possuísse duas em sua posse, sabia que conseguiria aplicar o mesmo conceito com mais uma se fosse necessário e, orgulhoso de seu próprio feito, limpou o suor da testa e se permitiu descansar por alguns minutos, aproveitando a brisa suave da manhã antes de retornar para sua residência.

Passei o dedo pelo pergaminho, entendendo o que cada um daqueles selos representavam e tentando me familiarizar com eles antes de executar a técnica. Havia pego alguns daqueles com meu avô, solicitando ao velho Hyuuga que me ajudasse a aprimorar minhas habilidades além do Byakugan. Sabendo qual era o tipo de elemento que eu mais me afeiçoava, ele havia me passado alguns jutsus que, embora não fossem tão fáceis assim de executar, seriam um ótimo treino para alguém como eu.

Sentei-me na grama do campo de treinamento, sentindo o meu chakra fluir dos pés a cabeça. Imaginei a energia correndo pelos tenketsus e se misturando com um outro tipo, uma outra natureza. Idealizei os raios sendo liberados e vi a mais pura liberação se externar pela minha mão direita, como um impulso elétrico que logo se esvaiu. Tentei canalizar todos os treinos de controle que tivera com Shin e meu sensei para fazer os raios tomarem forma. Até então, tudo que havia feito era jogar com mais ou menos força para fora do meu corpo. Mas não era disso que se tratava aquele em específico.

Imaginei um cão. Não em seus muitos detalhes, mas em seu delinado e liberei o Raiton com a imagem fixada no consciente. Tardou algumas boas tentativas, vendo falhas catastróficas como raios saindo até o solo ou o simples emaranhado de chakra elemental, até conseguir fazer um cão. Era pequeno, menor que a palma da minha mão. Mas estava ali. Passei a adicionar mais energia à técnica, até achar a medida que fosse mais agradável. Quanto maior o fazia, mais difícil era mantê-lo e fazê-lo se movimentar. Foi praticamente um dia inteiro de prática, com pausa apenas para almoço, para que conseguisse enfim fazê-lo corretamente.

O cão feito de raios ficava sempre ligado a meu membro, o que me permitia manipulá-lo com liberdade. Ao me jogar na grama para descansar, imaginei aquele tipo de técnica contra Suyo e Yonkai e o quanto eles ficariam surpresos, sentindo que o esforço daquele treino iria valer a pena.

Após a queda de energia em minha residência na noite passada, notei que precisava achar um meio de contornar a escuridão. Não que eu fosse montar um gerador ou usar raiton para abastecer a vizinhança. O que eu queria na verdade era aprender um ninjutsu simples e efetivo. Algo que Yonkai havia comentado comigo e que poderia ser tão útil à mim quanto era para o loiro. Estendi a mão, liberando chakra na região e vendo a aura vermelha tomar conta do membro. Tentei concentrá-lo, vendo-o assumir uma forma cada vez mais fina até ficar no tamanho de um ponto.

Quando enfim o soltei, o jutsu não se fixou, se desfazendo com facilidade e não gerando a luminosidade que eu esperava. Respirei fundo, decidindo me empenhar mais naquela tarefa. Conforme aumentava minhas habilidades com ninjutsu e refinava meu controle de chakra, habilidades mais básicas como aquela saiam com certa naturalidade. O que antes tardava dias para ser dominado, sabia que dependia completamente do meu empenho para ser aprendido em um mesmo. Podia ser inconstante e precisava de lapidação por um longo período para ser exercido com naturalidade, mas permaneci ali, liberando chakra e tentando fazê-lo mostrar seu aspecto luminoso, até conseguir uma pequena esfera, quase como um grão, fixo acima da palma.

Externei um pouco mais dos tenketsus, vendo a energia se confundir algumas vezes e o jutsu se perder. Quando não sabia mais o número de tentativas, passei a conseguir formá-lo mais à vontade. Desfazendo o ninjutsu e o realizando novamente seguindo o mesmo princípio até ter certeza que o havia dominado e que, caso precisasse iluminar o ambiente, ele não me deixaria na mão.

Terminei de montar a última pedra, dando alguns passos para trás e avaliando a pequena murada a minha frente. Havia algo que queria tentar e precisava de algo daquele tipo de obstáculo ali. Fora improvisado com o que consegui encontrar no caminho e no próprio local de treinamento, então tive que posicionar um tronco mais atrás para evitar o desmoronamento. Reli um dos pergaminhos do meu avô, tentando decifrar aquela letra arcaica e sequenciar os selos de mão.

Uma vez com eles memorizados, idealizei a liberação de chakra, sentando e focando nos tenketsus. Energizei os dedos e as mãos, transitando a energia por todo o corpo e por fim aumentando o fluxo naquela região. Desfiz e refiz, em um exercício para testar minha fluidez e em seguida toquei as pedras. Quando soltei o chakra as pedras se impulsionaram, como se eu tivesse acabado de socá-las, voando para trás e desfazendo metade do muro. Praguejei, percebendo que aquele treino seria trabalhoso. No fim das contas, o preço da falha era ter de rearranjar as pedras e montá-lo outra vez.

A ideia não era de explodir muros, mas sim abrir uma pequena entrada. Um buraco o qual eu conseguisse atravessar. As árvores e o céu nublado eram as únicas testemunhas das minhas inúmeras tentativas e frustrações naquela tarde. Quando o sol já não estava tão forte assim, indicando que a noite estava por vir, a primeira ondulação surgiu, dando espaço para um pequeno buraco. Grande o suficiente para depositar meu braço ali. Não era a técnica em si, mas me permiti comemorar. Usei aquele mesmo conceito e me prendi ao acerto, recriando a velocidade, impulso e todos os fenômenos que me conduziram a ele. Busquei ampliar um pouco o chakra liberado, notando que havia o reduzido justamente para as pedras não voarem tanto. Confiei um pouco mais em mim, crente que funcionaria. Tardou três vezes para que a entrada se formasse, praticamente da altura da murada.

Não conseguiria praticar mais do que aquilo, afinal, boa parte das pedras havia se perdido com a abertura. Mas recolhi o pergaminho com um sorriso leve no rosto, notando que já escurecia e provavelmente a hora do almoço se aproximava. Finalizei o treino, julgando ter dominado aquela técnica.