Lágrimas de dragão

Embora a sede por poder fosse constante na vida de Dragon, era preciso atender as necessidades de seu próprio corpo. Fechar as feridas que repousavam sobre seus membros era algo que ele acreditava ser possível com o tempo, mas o desconforto e o medo que aquilo o atrapalhasse de alguma forma o levaram a ir até o hospital, cedendo aos pedidos de seu pai. O genin não conseguiu ficar tranquilo enquanto os profissionais de Kirigakure trabalhavam para fechar aqueles ferimentos. Sua mente parecia estar ainda presa na imagem de três dias atrás. O cheiro do sangue de Suyoshi e seu corpo inerte em meio às ruínas do lugar o atormentavam. Dragon sentia como se estivesse preso em um pesadelo e torcia para que acordasse logo, pronto para fazer mais um treinamento em equipe com os seus dois amigos. Quando sentiu a pitada da agulha, no momento em que sua pele ia ser costurada, uma lágrima desceu até a bochecha, como se a ficha tivesse finalmente caído. Teve de se controlar para não chorar em meio aos enfermeiros e Iryoninjas.

Havia sido sua culpa. Inteiramente sua. Se fosse mais forte, teria contido Suyoshi com a Kusari e o impedido de acertar Yonkai. Se tivesse se empenhado um pouco mais, aquilo não teria terminado daquele modo. Havia prometido ao garoto que faria de tudo para pará-lo caso fosse necessário, mas relutou em fazê-lo. Vacilou quando seu time mais precisou e, não fosse a garota de olhos azuis e a pirralha a qual ela se referia, talvez todos os três tivessem falecido. Sua autoestima havia sido completamente destruída e a vontade que o consumia era de sair dali o quanto antes e treinar até seu corpo não se sustentar mais em pé. Suyo-san era mais do que um companheiro de time e até mais do que um amigo para Dragon. Era o mais próximo que ele tinha encontrado de alguém tão íntimo quanto o seu irmão. O trauma de perder alguém com esse status novamente só o fechou ainda mais, prometendo a si mesmo que tentaria se importar menos. Que faria o seu melhor para lutar ao lado de Yonkai, mas se empenharia a não depender tanto dele em aspecto emocional. Não queria passar por aquilo outra vez tanto quanto não queria se sentir culpado por aquilo.

Mesmo sabendo que Yonkai tinha se ferido bem mais e possivelmente estaria em algum lugar do prédio, engoliu em seco, escolhendo não procurar por ele. Era difícil não ir ao encontro de alguém o qual tinha contato tão corriqueiro. Mas não estava em estado de fazer nada. Quando o liberaram, sentiu-se melhor fisicamente. Os cortes haviam sido fechados e as cicatrizes eram os únicos resquícios do seu combate. Se retirou do hospital, caminhando pela vila da névoa com uma expressão vazia, sem encarar nada ou alguém, rumando até sua residência de maneira automática. Quando chegou, sequer cumprimentou seu familiar. Seus olhos estavam pesados e sua consciência destruída. Apenas deitou-se na cama, tentando não pensar em nada, sabendo que apenas jogaria a responsabilidade toda pra si. Praticar ninjutsu ou qualquer coisa naquele dia seria inútil. Apenas dormiu, tentando descansar por mais algum tempo até recuperando suas energias.