Naruto Lasting RPG
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O Novo MundoTrama Atual

Após uma longa e devastadora batalha contra o Imperador Iedolas Aldercapt, Isabel Uchiha emergiu vitoriosa, sendo coroada como a nova Imperatriz de Nilfheim. Como uma de suas primeiras ordens, a nova monarca ordenou o recuo das tropas do leste, dando um fim àquele terrível conflito.

Infelizmente, a vitória não foi gratuita. O trono fora conquistado através de perdas irreparáveis, e agora a salvadora do oeste guardava do mundo um segredo importante.

Enquanto isso, envenenado e escolhido pela escuridão, Orion Noctilucent tornara-se avatar de uma entidade maligna vinda do mais profundo abismo de Elyos, convicto de que é chegada a hora da verdadeira invasão demoníaca.

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Isabel
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[RP] Omnis LacrimaDom maio 09, 2021 8:06 pm

O retorno à Vila Oculta da Névoa foi instantâneo e evidenciou a eficácia da técnica de invocação reversa. Em seus últimos momentos no Monte Myoboku, o lar dos sapos, Isabel questionou Fukasaku acerca das entrelinhas da técnica e recebeu um proveitoso esclarecimento a respeito da habilidade e sua natureza. Para ela, ainda havia muito a aprender acerca da habilidade, uma vez que Gamaiso e Caiaphas foram demasiadamente sucintos em sua explicação. De acordo com o ancião, o Kuchiyose no Jutsu era uma técnica Espaço-Temporal que funcionava forjando um pacto de sangue entre uma espécie inteira de criaturas e o shinobi. Uma vez formado o pacto, o shinobi seria capaz de invocar essas criaturas oferecendo o chakra necessário para a conjuração e, em troca, recebendo seu auxílio em combate.

No entanto, essa era uma via de mão dupla: as criaturas com as quais o ninja havia formado um pacto podiam igualmente invoca-lo para lhes auxiliar em combate ou em situações de vida ou morte, de forma que era seu dever ajuda-lo. Essa última parte fez com que a kunoichi se lembrasse da maneira como fora subitamente teleportada para a terra mística dos sapos, e entendeu que para além de suas responsabilidades como ninja, estava agora vinculada a espécie de Gamaiso e diretamente relacionada a tudo aquilo que lhes interessava.

— Uma espécie de contrato, huh? — Ela conjecturou ante a resposta do ancião.

Fukasaku-sama deu um sorriso e assentiu com a cabeça. — Mas não existem somente contratos com sapos, Isa-chan. Em tempos milenares, grandes heróis se levantaram contra o mal e contaram com cobras, lesmas e outras espécies para que esse mundo pudesse ser salvo. — As palavras flutuavam de seus lábios com pomposidade, como se fosse transportado para tempos lendários, onde amigos e inimigos se uniram em prol de um objetivo maior: a proteção daquele mundo. Infelizmente, a eternidade concedida ao ancião também lhe imputava o peso de conviver com memórias, numa eterna ausência de descanso, fadado a ver todos aqueles com quem formava contratos irem e virem como a correnteza de um rio, perdendo-os para sempre assim que conheciam a inevitável foice da morte. Naruto-chan, Jiraya-chan, Konohamaru-chan... heróis que lutaram bravamente pela terra, cujas crônicas ecoaram por muitos anos e posteriormente foram esquecidos pela guerra. Lendas que para sempre seriam lembradas na história dos shinobi se não fosse a trágica guerra que lhes varrera da existência.

— Entendo... — Isabel meditou sobre a informação. Se mais espécies existiam e outros usuários de invocação caminhavam sobre o mesmo mundo que ela, então era importante manter-se em cautela, preparada para que enfrentasse muito mais do que um único oponente em cada um dos seus encontros posteriores. Felizmente, sentia-se muito mais forte e confiante com o domínio do Sennin Mōdo, e isso era um conforto ante o futuro desconhecido que surgia no horizonte.

A pureza de Isabel tornava cada um dos seus sentimentos em gemas cristalinas e sólidas, facilmente identificáveis no comportamento da garota: sua expressão era muito mais suave e desleixada quando sentia-se confiante. De forma contrária, mas suportando essa afirmativa, sempre que se colocava em conjecturas e ciclos infindáveis de pensamentos e reflexões a kunoichi enrijecia os músculos faciais, semicerrava os olhos em poucos milímetros e franzia o cenho. Essas eram expressões simplórias que passariam despercebidas por qualquer um que a observassem a esmo, mas Fukasaku percebeu. A convivência de pouco mais de quatro dias com a garotinha dos cabelos prateados havia lhe ensinado muito sobre ela, sobre seu futuro e sobre os obstáculos que um dia enfrentaria. E era por saber tanto sobre aquela menininha que carregava tantas responsabilidades maiores que ela nas costas que ela escondeu um sorriso de satisfação e alívio ao saber que ela estava sob os cuidados de Caiaphas.

Mas antes que Isabel partisse para onde Gamaiso estava, o sábio lhe deu um último presente.

— Quisera eu ter a mesma disposição e tempo livre que eu tinha em minha juventude. Seu treinamento precisou ser muito mais apressado do que a maioria, e sinto que sua afinidade com a energia da natureza não pôde ser adequadamente explorada. Procure Caiaphas quando retornarem, e tire um tempo para que juntas possa aprender mais sobre o Modo Sennin.

— Lembrarei disso, Vovô. — Isabel respondeu.

E partiu, deixando a casa do sábio uma última vez com a promessa de um futuro retorno.

[...]

— Então... — Isabel caminhou com as palavras como se contornasse um assunto em específico.

— O que quer? — Caiaphas questionou. Muito embora respondesse com uma pergunta, ela já sabia do que se tratava e não estava tão interessada em desenvolver aquilo. Preferia que Isabel simplesmente esquecesse, e dessa forma continuassem com seu treinamento habitual.

— O vovô Fukasaku disse que você também tem aquela habilidade da natureza. E me disse que você poderia me ajudar a aprimora-la mais.  — Respondeu ela.

— O “vovô” Fukasaku fala demais. — Caiaphas cuspiu, insatisfeita. Não gostava dos treinamentos com o Modo Sábio; eram demasiadamente calmos, e quedava-se em prolongados períodos de inércia à medida em que meditava e tornava uno com a natureza. Para ela, uma pessoa cuja mente funcionava de forma diferente do habitual, era como uma dosagem não-letal de veneno. Queimava por dentro, lhe trazia à beira da morte, mas não matava. E ela não fazia rodeios para demonstrar sua falta de amores pela habilidade. Na verdade, ela não fazia rodeios por coisa alguma.

— Eles precisaram de um campeão para um torneio pela liderança do Monte Myoboku e Gamaiso pediu minha ajuda para o caso. Mas... — Isabel deu uma leve vista de olhos sobre a companheira, como se buscasse em sua reação à pergunta por alguma resposta nas entrelinhas. — Não deixei de perguntar por você. Disseram que não poderia intervir e nem ajudar. Quase me perguntei o porquê.

— Eu estava ocupada.

— Ocupada? Só isso? — Ela apertou um pouco mais.

— Sim.

— Mas agora não está.

— Não estou.

— E pode me ensinar mais sobre a energia da natureza. Como senti-la com mais maestria, mantê-la no meu corpo... coisas assim.

— “Coisas assim”, huh? Muito bem, menina relâmpago. Percebi que não sairemos desse tópico até eu ceder, de uma forma ou de outra. No entanto, me mantenho irredutível a ideia de me transformar. Eu não quero e eu não vou. Temos um acordo? — Ela perguntou, estendendo a mão e esperando pela pactuação por parte de Isabel.

— Irredutível... — Isabel repetiu, anotando mentalmente para que depois pudesse perguntar ou pesquisar sobre o significado daquela palavra. — Hmm, sim, certo, temos um acordo.

Caiaphas e a infiltrada caminharam por mais meia hora antes que terminassem sua jornada em uma cachoeira. A queda d’água nascia de uma grande fenda na montanha, jorrando incessantemente sobre uma bacia arredondada, que se dividida em pequenas raízes que provavelmente abasteciam outras áreas da floresta. Do outro lado do lago, Isabel percebeu uma família de cervos aparentemente alheios às meninas bebericando da água cristalina que corria pelo rio.

Caiaphas parecia especialmente confortável com aquele ambiente. Sentou-se sobre a beirada do rio, tirou os coturnos negros e deixou que a água lhe cobrisse até os joelhos, sentindo a gelidez do ambiente e observando enquanto misteriosos peixinhos dourados nadavam roçando por suas pernas. Para Isabel, no entanto, as coisas eram um pouco mais confusas. Ela, que já havia mapeado aquela floresta de cabo a rabo, nunca tinha se deparado com uma cachoeira naquela região. Ela entendia que não era nenhum perito da geografia, mas confiava em suas habilidades de mapeamento e não conseguia estruturar uma explicação plausível para o porquê de aquilo ter se mantido assim. Por isso, decidiu questionar Caiaphas sobre o assunto.

— Bem, digamos que esse lugar é especial. Você deve ter aprendido que todas as coisas tem energia natural certo? Bem, essa cachoeira... não, eu deveria dizer que a nascente dessa cachoeira perpassa por uma região... especial. Lá, a energia da natureza corre com muito mais liberdade, se concentrando e se incorporando à fluência das coisas com muito mais avidez. É como um verdadeiro santuário da natureza, e costuma ser alvo de busca por caçadores e ninjas interessados em seus segredos.

— Mas isso não explica o motivo para que eu não tivesse encontrado antes.

— É mais simples de se entender do que você pensa. Antes, você procurou com seus cinco sentidos, confiou em seus olhos, nariz e ouvidos para que te guiassem por onde quisesse. Mas há lugares, Isa, que possuem sua própria vontade acerca daqueles que os encontram. Lugares como esse, em que a energia da natureza é tão forte e tangível, só podem ser encontrados por aqueles que já se tornaram um com ela, que compartilharam seus corpos como morada para o seu poder. É um tanto poético, não?

Isabel parecia atônita, mas buscava ter fé nas palavras da mentora. Ela retirou as botas pressionando-as com o pé oposto. Depois, largou o casaco sobre uma pedra e sentou-se ao lado de Caiaphas, tateando a água com seus dedos. Quando entrou em contato com a água, sentiu a mesma energia primordial com a qual entrara em contato no Monte Myoboku, e se sobressaltara com sua potência. Era como se o universo fluísse livre por aquelas águas; a força vital das estrelas, dos buracos negros, da própria existência e do big-bang que deu origem a tudo parecia vir daquela fonte. Isabel retirou a mão as pressas, muito mais assustada do que o habitual. Suas mãos tremulavam ante a experiência, e a mente vasculhava em tudo aquilo que sabia por uma explicação plausível para o ocorrido. Desta vez, meramente buscou na figura de Caiaphas por uma resposta. A misteriosa mulher parecia esperar por aquilo.

— Não me faça repetir, esse é um lugar sagrado. Você aprendeu muito com o velho Fukasaku sobre como reunir a energia natural e usa-la como poder, e eu a parabenizo por isso, mas se quer entender o verdadeiro significado de “tornar-se um com a natureza”, então vai ter que dar duro e ganhar o respeito desse santuário. E a natureza pode ser bem criteriosa.

Isabel quedava-se perturbada com a experiência. Não entendida muito daquilo que a mentora estava tentando lhe ensinar acerca de filosofias de vida, vontades sobrenaturais e os desígnios da natureza sobre todas as coisas na terra, mas conservou cada uma das suas palavras na memória com respeito e atenção, entendendo que eram imprescindíveis para que concluísse aquele exercício. E como se fosse capaz de ler os seus pensamentos, Caiaphas lhe interrompeu.

— Não encare isso como um exercício de treinamento. É desrespeitoso.

— Eu não... — ela conteve suas próprias palavras, incrédula. — Como você...?

— Sente-se, concentre-se e feche a matraca.

Isabel se deu por vencida, recuou e sentou-se com as pernas cruzadas e jogou a sola de um dos pés sobre a outra coxa, como se estivesse se preparando para uma sessão de meditação. Só havia meditado uma vez, durante um dos seus treinamentos para o domínio do Modo Sennin, mas Fukasaku havia resumido seu exercício em “algo necessário”, sem dar muita atenção ao significado verdadeiro por trás da prática. A kunoichi conservou o silêncio sobre a atmosfera do ambiente, varreu da mente todos os pensamentos que ainda lhe atribulavam e iniciou um longo processo de conexão com a natureza. Enquanto meditava, sentia a energia natural na pele como se um rio fluísse pelos ventos, invisível e intangível, roçando em seus ombros e enroscando-se em sua cintura, como uma cobra, ao passo em que se prostrava solenemente à frente da garota, reafirmando sua majestade e ordenando que todos aqueles abaixo de si lhe obedecessem, da mesma forma que faria um leão. Sentia a energia do ambiente; das árvores, das plantas rasteiras, dos animais voando no céu, daqueles que nadavam nos rios e até mesmo dos muitos que se escondiam em tocas.

De maneira inconsciente, ela convidou a energia para que entrasse no templo que era o seu corpo, e pactuou um acordo entre a energia físico espiritual que já residia ali e a aura pulsante recém chegada. Desse pacto, uma nova vida nasceu, pulsante e em mística ascensão, transmutando sua carne e seus sentidos num híbrido imperfeito entre humano e sapo. Era a transformação sábia em seu auge. Isabel sentiu-se mais forte, mais rápida, mais inteligente e consciente de todas as coisas que residiam dentro da floresta. Tornar-se uno com a natureza era uma verdadeira benção para a garota, que encontrava em sua conexão com o mundo natural uma forma de se dissociar dos pesos da vida e se permitir ser livre.

Mas os planos da natureza dentro dos seus domínios eram diferentes. Caiaphas sorriu ao sentir aquele pulso energético cheio de vontade, e entendeu que o treinamento tinha finalmente começado. De repente, a energia natural reunida no interior de Isabel foi remexida, revirada como se fosse comida dentro de uma panela fervendo, e escorreu dos poros do seu corpo, se liberando e escapando-lhe dos dedos. A transformação tinha se dissipado tão logo havia terminado, e a garota quedava-se inerte sobre a terra, sem nenhuma gotícula de energia da natureza em seu sistema de chakra.

Dessa vez, ela não procurou por Caiaphas em busca de respostas. A resposta estava Isaali o tempo todo, ela só não tinha percebido. Tratava-se de uma provação data pela natureza para sua mais nova recruta, para que entendesse mais sobre si mesma e para que mostrasse ser realmente digna das habilidades que lhe foram confiadas no Monte Myoboku. Olhou para frente e viu, do outro lado da cachoeira, uma fenda aberta na pedra, como a entrada para uma caverna, e não queimou neurônios pensando no porquê daquilo simplesmente não ter sido percebido anteriormente.

— Não devo lhe dizer o que acontece se voltar atrás, certo? — Caiaphas questionou, por precaução.

— Eu nunca mais conseguirei acessar o poder da natureza. — Isabel respondeu, tão convencida estava da seriedade daquele teste.

A mentora assentiu com a cabeça e retornou à sua meditação. Não cabia a ela guia-la pelos desafios que enfrentaria. Era uma jornada de uma só pessoa, uma aventura solo em que a única observadora era a própria natureza. A moça dos cabelos prateados andou sobre a água sem sentir um único surto energético sobre a sola dos seus pés, quase como se a natureza estivesse satisfeita com sua decisão. Era como se estivesse sendo atraída para aquela fenda, e quando mais avançava, menos conectava sentia-se com o mundo ao redor. O som dos pássaros pareceu uma lembrança distante, a melodia da floresta morreu e a queda d’água se silenciou. Não sentiu mais a presença de Caiaphas do outro lado do rio e nem mesmo as forças da natureza do lado externo.

Somente entrou, com um passo firme sobre a escuridão.

E de repente, tudo tornou-se um breu absoluto.


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Re: [RP] Omnis LacrimaDom maio 09, 2021 8:08 pm

Isabel despencou. Caiu nas profundezas do abismo, como um meteoro rasgando a atmosfera e ardendo em chamas profundas. Sentiu frio, como uma brisa congelante raspando-lhe a pele e posteriormente calor, como se as chamas do inferno lhe abrasassem a carne e ateassem fogo ao espírito. De repente, as próprias sensações físicas desapareceram e se tornaram lembranças. A única memória a qual conseguiu ater-se era a de que estava caindo. O mundo ao seu redor foi tornando-se menos cavernoso e mais obscuro, as paredes gradativamente tornaram-se escuridão e se apossaram do universo diminuto o qual a kunoichi experimentava de primeira mão.

Já não sabia dizer se os seus olhos estavam abertos ou fechados, e nem se a resposta para aquela perguntasse tinha alguma relevância sobre tudo aquilo que estava acontecendo.

Esqueça seu corpo, concentre-se no seu espírito. Isabel sobressaltou-se com o sussurro advindo de lugar nenhum, e procurou inutilmente por sua fonte. Ausente de todos os sentidos que normalmente confiava e incapaz de acessar seu sexto-sentido proveniente da transformação sábia, o menor dos estímulos lhe “ativou” novamente, e a criança foi novamente acometida por temores, dúvidas, arrependimentos, confusão e, acima de tudo, por seu instinto de sobrevivência. Mas em meio ao retorno de tantas emoções de uma só vez, ela foi hábil o bastante para ater-se no comando da voz. Seu espírito. Era ele a chave para sobreviver àquela traumática experiência.

Se não estivesse com os olhos fechados, então fechá-los-ia, e abdicaria de todos os seus sentidos físicos para dar espaço e primazia ao seu espírito. O espírito era a reunião de tudo aquilo que lhe tornava um ser consciente: seus sonhos, seus medos, seu conhecimento, sua força de vontade, a consciência de si e a capacidade de enxergar no outro um reflexo dessa consciência. Concentrou-se em tudo aquilo que formava a essência de sua pessoa, e de repente, toda a escuridão desapareceu. O mundo ao seu redor abrilhantou-se como se mil supernovas explodissem à queima roupa. A luz derreteu a escuridão e alumiou seus interiores, queimando as dúvidas e os anseios mais terríveis, deixando somente confiança, paciência e compaixão galgarem sobre as terras dos seus pensamentos. E ancorando tudo aquilo estava uma energia pura, limpa e verdadeiramente poderosa: sua força de vontade, servindo como um eixo para o seu espírito.

Mas manter-se daquele modo era um trabalho árduo. Isabel sentiu-se sonolenta, exausta e enfraquecida. A memória embranqueceu-se tal como a luz iluminando seus olhos, a consciência urgiu por auxílio e quebrou-se em mil pedaços, incapaz de continuar sã mediante a tantos estímulos sobrenaturais.

E completamente debilitada, a kunoichi desmaiou.

[...]

— Ei, garotinha. Ei! Ei!!! Ei!!!! — Uma voz preocupada lhe chamou do fundo do seu subconsciente.

— Só mais cinco minutos, nee-chan... — A kunoichi respondeu, sonolenta.

— ACORDA GAROTA! — A voz pareceu muito mais séria dessa vez, e ao fundo trovões pareceram correr como serpentes em confronto direto, salteando na velocidade da luz e trovejando sobre o firmamento celeste.

Isabel despertou supetão e se assustou ainda mais com a criatura que viu. Sentada ao lado dela, estava um pequeno monstrinho de pelos alvos, orelhas pontudas como de uma lebre e majestosos olhos azulados, semelhantes a uma safira. A coisa encarava-a com olhos curiosos, trotando em passadas curtas em seus arredores à medida que a observava como se fosse o achado mais interessante do mundo.

— Foi... você quem falou comigo? — A kunoichi questionou, esfregando os olhos. Àquela altura, tendo passado por toda a sorte de experiências sobrenaturais e traumáticas, haviam poucas coisas que realmente lhe espantavam. Mas... que experiências essas? Ela não sabia dizer, não se lembrava. Era como se tudo tivesse desaparecido. Tudo, sem deixar vestígios. Ela subiu a vista por sobre o animal e procurou no ambiente por qualquer coisa que a lembrasse do que viera fazer ali, mas tudo o que conseguiu ver foi uma imensidão branca cobrindo tudo para além de dez metros de onde estava. Mas engana-se quem pensa que se tratava meramente de uma área invernal: era, literalmente, um mar em branco, com absolutamente nada acomodado sobre aquele mundo. Era tão vazio e silencioso que por um momento a menina sentiu-se seduzida por uma sensação de pânico, mas que se esvaiu com o toque da criatura. O animal pareceu sentir sua angustia e, no mesmo momento, tocou-lhe com a cabeça, como um gato faz quando quer carinho.

— Você é bem fofo, não é? — Ela disse, entre sorrisos. Levou a mão à cabeça do animal e lhe afagou os pelos, sentindo os pequenos pelos luminescentes grudarem-se entre os seus dedos. A criaturinha sem nome, por sua vez, roçou em sua mão, atravessando pelo braço e findando no próprio rosto da menina, agradecendo pelo carinho. Pareciam ter se tornado amigas, mesmo que Isabel nunca a tivesse visto antes.

A menina que acordou se levantou, e viu que sobre seu corpo descansava um lindo vestido de linho, cinzento, arrolado aos ombros por alças e atingindo a altura dos seus joelhos. Os pés estavam descalços, tocando o chão

— E então amiguinha, onde estamos? — Ela perguntou. Não se lembrava de quem era e nem do porquê de estar ali, mas estranhamente não sentia a necessidade de estar em outro lugar e nem de ser alguma pessoa. Se tivesse de dizer que era algo, então era a menina que havia acordado, e ela — porque havia decidido arbitrariamente que era uma menina —, a mascote afetuosa. Uma dupla improvável num mundo em branco.

Mas para onde iriam? Não precisavam de memórias ou de identidade, mas seria bom se tivesse um lugar para onde ir. Talvez um lar onde pudessem descansar... enquanto pensava sobre aquilo, lapsos de memórias saltearam sobre seus neurônios, mostrando-lhe imagens as quais não conseguia identificar a procedência. Viu um quarto familiar, de paredes feitas de madeira de carvalho, cheio de móveis que parecia já ter visto antes. Uma cama estava no centro do quarto, e pendendo na parede acima dela estava um quadro com o que pareciam ser três membros de uma família. Por algum motivo, Isabel afeiçoou-se com um dos rostos, concebendo que, se houvesse a possibilidade de observar o seu reflexo, seria aquela a sua aparência.
Ela foi novamente puxada à consciência por uma fungada do pequeno animalzinho e o que viu a seguir foi uma estrada de tijolos inteiramente armada aos seus pés, como um verdadeiro tapete vermelho que lhe conduziria para um lugar desconhecido. Não sabia dizer o porquê de não o ter visto anteriormente, mas a criaturinha aos seus pés seguiu em frente com tanta força de vontade e determinação que ela se viu sem outra alternativa que não o seguir.

Caminharam e caminharam num lapso de temporalidade que transformou minutos em horas. Isabel sentia-se intrigada com a paisagem vazia, e dava sempre as suas vistas de olhos sobre tudo aquilo que não era branco, se inteirando em seus detalhes e imaginando como deveria ser tudo aquilo que não podia ver. A menininha se sentia só em um mundo albino, sem ninguém semelhante a ela com quem compartilhar palavras, mas não ousava dizer isso em voz alta. Seu amiguinho peludo estava ali, sempre ao seu lado, corajosamente se colocando em frente quando tudo o que lhe esperava era a certeza da continuidade daquela estrada. Em dado momento, Isabel percebeu que por mais que as vezes desejasse dar uma pausa de sua caminhada, desistir e se acomodar sobre aquela parcela da estrada, a criaturinha parecia exercer um efeito sobre a mesma que a preenchia de vontade, de anseios e desejos. Era como uma bateria que infinitamente lhe colocava para frente, em movimento, buscando por alguma coisa.

E no horizonte longínquo, a coisa nasceu na forma de um vislumbrante castelo.  A entrada lembrava as grossas portas dos castelos europeus, e nas laterais se erguia imponentemente uma esplendorosa muralha de pedra, com parapeitos separados para provavelmente abrigar uma unidade inteira de arqueiros. Haviam torres enormes erguidas por dentro da construção, com mais do que mil janelas vazias em toda a sua circunferência e bandeiras tão brancas quando os seus arredores alicerçados sobre o paredão das torres, indicando que aquela era uma nação de ninguém.

Os viajantes estacionaram defronte ao grande palácio e observaram o caminho que teriam de percorrer se quisessem entrar: a estrada findava em um grande lago profundo, de águas violentas e irrefreáveis, onde perigosos animais se enfrentavam pelo domínio da região. Bem mais a frente havia uma ponte de pé, de forma que a criança supôs que provavelmente os moradores do castelo usavam algum mecanismo para faze-la subir e descer quando desejavam ir e vir. No entanto, estando eles do outro lado, não tinha forma de atravessar sem que acabassem nadando com os jacarés, os monstros e as piranhas.

E foi aí que o inimaginável aconteceu. Diferentemente de tudo o que a menina inocente esperava, a grande ponte foi arriada. Alguém desejava a sua entrada no castelo e tinha acabado de expressar seus desejos por meio daquele convite. Ela trocou olhares com o animalzinho, observando o grande objeto de madeira descendo, e se perguntou se era seguro que entrassem. Ela confiava em si mesma para correr para fora se fosse necessário, mas temia que seu corajoso amiguinho acabasse preso. O bichinho, respondendo às suas dúvidas, deu mais uma esfregada de nariz sobre a perna da menina, enroscando a cauda sobre ela, passando-lhe sua confiança e o desejo de prosseguir naquela jornada. Isabel agachou-se, com um sorriso puro estampado no rosto, se colocando numa altura em que pudesse afagar os pelos do animal. Era sua maneira de dizer que havia entendido.

[...]

Os aposentos de um rei eram cheios de prestígio e galanteios. Haviam estandartes em branco enfeitando as paredes, armaduras de cavaleiros penduradas sobre suportes de marfim e paredes enfeitadas por suportes de tocha acesos, que alumiavam corredores e salões. Pendendo do teto de maneira que aquela menina não lembrava de ter visto em lugar nenhum, estava um grande lustre encrustado em gemas de diamante, como uma verdadeira coroa real, refletindo a luz que parecia jorrar do lado de fora em filamentos multicoloridos que davam um toque de realeza e espiritualidade para o grande salão. Era perfeito. Essa era a única coisa que vinha a sua mente. Não parecia muito movimentado — os pratos da cozinha pareciam perfeitamente arrumados e intocáveis, as poltronas não tinham amassos e nem mesmo as roupas do guarda-roupa pareciam tocadas —, mas Isabel imaginou que quem quer morasse ali estivesse lhes tentando fazer uma surpresa, enquanto se escondiam em algum quarto secreto.

— Olá? — Ela chamou. — Tem alguém aqui?

— A pergunta certa é se tem alguém aí, minha querida. — Uma voz destemida disse de algum lugar do segundo andar. A menina assustou-se e deu rápidas olhadelas pelos arredores, procurando pela origem da voz. Não encontrou nada, mas ouviu passos. Passos que ecoavam pelos quartos e corredores, que pareciam vir de todos os lugares e ao mesmo tempo de lugar nenhum. Desconfortável, a menina que acordou de um passo para trás, apertando os punhos em ansiedade e franzindo a sobrancelha como se preparasse para o perigo.

Para sua surpresa, a única coisa que chegou ao salão foi um coelho de terno. A fera viera das escadas, salteando com sapatos fechados de onde ecoava os sons dos troteios. Mas, diferente de um coelho comum, esse andava em duas patas, como um homem, e falava a língua comum com tanta habilidade quanto a própria visitante. Isabel deu um sorriso, encantada com o animalzinho vestido de forma tão formal.

— Você é um coelho de terno! — Ela notou e repetiu seus pensamentos em voz alta, tamanha a animosidade.

— E você é uma invasora com bons olhos. — Ele replicou de maneira firme.

— Invasora não, desceram a ponte para a gente. — A tréplica da menina era certeira.

— Só porque desci a ponte não quer dizer que você possa entrar. Então todas as vezes em que uma pessoa abre a porta de sua casa, está convidando aqueles do lado de fora para entrarem? — O coelho respondeu inteligentemente. Isabel pôs-se a pensar um pouco na pergunta e concluiu que ele estava mais do que correto.

— Hmm... você está certo, seu coelho. Desculpa. Irei embora.

— Eu também não disse que você não deveria entrar. Ai, ai... você sempre me ignora e esconde de todo mundo, e quando ela deixa você vir aqui me visitar, para me conhecer um pouco mais e deixar de ser tão desleixada conosco, tudo o que você tem a dizer e a fazer é agir como se não nos conhecêssemos? — O coelho continuou descendo as escadas e finalmente terminou sua caminhada defronte para ela, observando-a como quem avalia e determina a qualidade de uma pedra preciosa.

Isabel estava confusa. Seu amigo de pelos luminosos andou até o coelho e grunhiu alguma coisa ininteligível. Eles debateram entre grunhidos da parte do brilhante e frases sem sentido ou desconexas por parte do coelho. Isabel ficou ainda mais confusa com tudo aquilo. O coelho recuperou a compostura e pigarreou, limpando a garganta e iniciando um breve discurso.

— Desmemoriada, huh? — Ele avaliou, coçando o queixo. — Acho que entendi o que ela quer de você. Bem, você não deve me conhecer, então permita que eu me apresente e, aproveitando o embalo, apresente também o seu amiguinho aí. — Isabel lhe encarou com atenção, e movimento as sobrancelhas em surpresa ao descobrir que diferentemente dela, seu amiguinho tinha um nome. Ela ficou feliz com a notícia, e olhou para ele como se esperasse ver ali uma faceta de felicidade. A criaturinha, entretanto, não pareceu nem um pouco surpresa, como se já soubesse do próprio nome.

— Eu sou o Orgulho. Nós costumávamos ser bem íntimos, sabe? Mas infelizmente você nunca deixava que ninguém me conhecesse diretamente. Claro, quem gostaria de assumir que é orgulhoso e cheio de vaidade? São características tão... negativas. — Ele parecia desconsertado em dizer aquilo, e Isabel não precisou queimar muitos neurônios para supor que ele era orgulhoso demais para assumir suas falhas. — Mas aqui... bem, aqui eu posso ser quem eu sou. Criei esse castelo a minha imagem, com estátuas de coisas pelas quais tenho fascínio e com decorações que você certamente não vai encontrar em lugar nenhum desse mundo. E isso é tudo fruto do meu trabalho e esforço. Não entendo como isso pode ser negativo, sabe? Ter orgulho de si mesmo, confiança nas coisas que consegue fazer e amor por tudo aquilo que lhe rodeia e envolve.

— Bem, isso não parece ruim. — Isabel respondeu depois de uma curta reflexão.

— Você diz isso agora. — Resmungou o coelho. — Mas antigamente tinha tanto medo de mim que me prendia dentro de uma caixinha escura e esquecia que eu existia. Eu tenho traumas por causa disso até hoje, sabia? — contou.

Isabel sentiu-se culpada. Ela não entendia o que estava acontecendo, mas não lembrava de ter feito e nem queria prender ninguém em nenhuma caixa. O coelho preparou-se para explicar sobre seu pequeno amiguinho, mas uma nova voz surgiu de algum lugar na cozinha. — Vocês se reúnem com essa daí e nem me convidam?

— Moramos na mesma casa... ou melhor, eu te abrigo aqui. Não quer que eu seja seu mordomo e te chame para dar as boas vindas a visita, quer? — O coelho reclamou.

A voz melodiosa foi se aproximando e crescendo em sonoridade, e o que surgiu no salão foi uma pequena cobra de escamas brancas e ardentes olhos vermelhos. Isabel se assustou e deu um passo para trás, mas a cobra fora mais rápida: rastejou e girou sobre os pés da menina, apercebendo-se dela, roubando seu espaço pessoal e trazendo incomodo. De repente, o brilhante prostrou-se corajosamente a frente dela, impedindo mais um avanço da cobra, que deu de ombros e foi para o lado do coelho.

— Prazer, querida, o meu nome é Inveja. Você parece muito bem, não é? Sem memórias do que fez, sem ideia de todas as coisas que te esperam do lado de fora... Quisera eu ter uma vidinha tão simples quanto a sua.

— Tenha dó, Inveja. — O coelho protestou.

Isabel continuava confusa, mas decidiu que esperar até que as coisas fizessem sentido não a levaria a lugar nenhum. Por isso, falou.

— Eu não estou entendo. Vocês sabem que eu sou, mas não me dizem. Me acusam de ter feito coisas terríveis, mas não me explicam nada além disso. O que eu posso fazer? Como eu posso reparar todas as coisas que fiz com vocês? Eu não quero sentir isso, não quero... — Ela colocou as mãos na cabeça, tremendo, tentando livrar a mente outrora limpa de todos aqueles sentimentos de culpa. E quase como se aquele mundo respondesse aos seus anseios, uma pequena bolinha luminosa escapou-lhe do peito, sobrevoando o ambiente à medida em que observava aqueles ali presentes. Isabel percebeu que o peso sentido a um instante atrás havia desaparecido, fugido para algum lugar que ela não sabia onde era. Estava confusa e intrigada, mas assim que viu a bolinha de luz conseguiu entender o que diabos era aquele lugar e porque tudo era tão branco.

— Bem, agora temos mais um. — Disse a cobra.

— Esse lugar tira de você todas as emoções que tem e dá forma para elas. É o presente da natureza para aquilo que você sempre quis fazer e nunca conseguiu. Não você, você, mas a pessoa que você foi. Seu nome era Isabel Uchiha, uma ninja de um lugar conhecido como Aldeia da Folha, e você estava em missão de infiltração antes de vir para cá. Mas assim que a mãe natureza te viu desse jeito, internalizando tudo o que sentia e fingindo ser uma coisa completamente diferente do que você deveria ser, ela decidiu que deveria te dar uma liçãozinha antes de que você pudesse acessar o poder dela. Chame de uma sessão de terapia gratuita, se quiser. — O coelho deu uma olhadela pelos arredores, esquadrinhando os corredores e os vasos sobre as mesas. Parecia dar falta de algo, ou de alguém. Por fim, ele deu um forte suspiro. — A raiva também costumava viver aqui, entre nós, quebrando e destruindo todas as coisas que eu custava tanto para construir. Brigávamos todos os dias por causa disso, mas um dia ele simplesmente desapareceu. Alguém lá fora deve ter te ensinado uma coisa ou duas sobre ser você mesma, mas não parece ter dado tão certo assim, ou você não estaria aqui.

Isabel estava confusa de novo, não sabia o que fazer. Não sentia culpa, pois esta jazia fora de seu corpo na forma de uma crescente esfera de luz, mas quedava-se incapaz de resolver aquele problema. Percebendo sua confusão, o brilhoso companheiro saltou uma, duas, três vezes, balançando os braços e chamando a atenção da menininha.

— Eu ainda não descobri quem você é. — Ela disse, segurando as lágrimas no rosto. Ao menos a tristeza continuava ali.

— O tipinho inocente, ai, ai. — A cobra atacou.

— Está bem, chega disso. Deixa a menina em paz, não tem mais graça. — O orgulhoso coelho de terno rebateu.

— Eu quero vocês de volta... quero poder me reparar, conhece-los de novo e conhecer essa pessoa que eu fui. Não quero mais fugir. — Ela disse.

— Não tem como escapar da gente, Isabel. Não somos coisas que existem dentro de você, somos parte do que você é. Se não existíssemos em você, nem nós e nem você existiria. Nossa existência é condicional uma à outra. Seriamos como esse mundo, uma casca pálida e vazia, sem história e sem nenhum elemento diferente do vazio. As vezes isso pode parecer bom para tomarmos decisões de forma mais fácil e objetiva, mas essas seriam mesmo as nossas decisões ou um produto da vontade dos outros? Pense sobre o que realmente molda você e sobre aquilo que quer. Somos um peso para você ou somos aquilo que te representam?

— Eu quero aprender. Eu quero muito. Eu quero tanto...

E naquele momento, eles e a natureza entraram no concesso de dar àquela menina mais uma chance. Os animais que representavam os seus sentimentos mais primitivos e vergonhosos transformaram-se em flutuações energéticas semelhantes a que representava a culpa, giraram como se estivessem sendo atraídas umas as outras e se afundaram de uma vez só dentro do peito da menina. Suas roupas transmutaram-se daquele vestido branco para uma longa cota cinzenta, aquela que costumava usar em suas missões de infiltração, e os cabelos outrora desgrenhados se arrumaram da maneira convencional.

De repente, o castelo inteiro foi engolido pelo branco opaco daquele mundo, e então a estrada, o chão e tudo o que havia de existência naquele lugar, deixando somente Isabel e o bichinho de pelos luminosos sozinhos no vazio. Suas memórias de momentos específicos foram renascendo outra vez na mente: a vida com seu pai e sua irmã; a amiga Suzue; a vila da folha; o Abismo; a guerra; o combate contra Arima.

Tudo pareceu nascer como se estrelas simplesmente surgissem no céu, abrilhantando o firmamento noturno e se fazendo presente na pessoa da menina. Mas faltava uma memória. Faltava um único sentimento. O eixo de tudo aquilo. E finalmente a criaturinha se apresentou, rompendo as barreiras da comunicação convencional e expressando-se sem a necessidade de sons ou palavras. Ela simplesmente contou e Isabel, de alguma forma, ouviu.

Era a vontade. A força motriz por trás de toda a sua jornada. Seu desejo que dava origem a todos os outros sentimentos, a todos os comportamentos e a todas as conexões entre sentimento e ação que moldavam a pessoa conhecida como Isabel Uchiha. Por isso o pequeno animalzinho seguia em frente: porque não sabia fazer outra coisa que não isso. Por isso vivia animando-a: porque não suportava a ideia de vê-la triste, era de sua natureza não desistir e alcançar a felicidade. Foi por isso que a defendeu da Inveja e do Orgulho, porque era dever dele livra-la de todos os ataques que ela própria fizesse contra si mesma.

De repente, o mundo em branco foi inteiramente consumido pela realidade. Ouviu o som da cachoeira, os respingos de água pendendo do topo da caverna até o fundo, o som da floresta do lado e fora e a respiração suave de Caiaphas lhe observando. Um único segundo havia se passado desde o início de sua jornada, mas para ela era como uma pequena eternidade.

— Alguma coisa mudou em você. Eu posso sentir isso. Como foi?


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Re: [RP] Omnis LacrimaDom maio 09, 2021 8:10 pm

— Foi bom. Conheci uma porção de gente legal. Você ficaria encantada em conhece-los. — Isabel respondeu e deu um sorriso saudoso, com saudades deles. Mas entendeu, relembrando as palavras do Orgulho, que não se tratava de ninguém menos do que ela própria. Eram suas emoções, seus comportamentos e sua força de vontade, não características isoladas que não condiziam com ela mesma. Isabel entendia agora que não era inteligente descartar essas emoções; primeiramente porque a mera prática é absurda, impossível até, e não surtiria nenhum efeito; em segundo lugar, porque se de fato fosse possível, então se tornaria um quadro em branco, sem todas as coisas ruins que lhe compunham, mas também sem todos os sorrisos, os aprendizados, a experiência e os desejos que construiu em vida. A menina fechou os olhos e quedou-se na mesma posição de antes, e se permitiu sentir a energia da natureza. Para a sua surpresa, não somente foi capaz de conectar-se muito mais rápido com aquela forma de poder como também sentia muito mais afinidade com o mundo ao seu redor, quase como se fosse realmente uma extensão do verde. Seu corpo foi invadido por uma quantidade massiva de energia físico espiritual amalgamada em poder da natureza, mas diferentemente da transformação anterior, marcada por estranhos traçados de sapos e deformações grotescas, a menina foi submetida a uma transformação perfeita.

Sua silhueta foi completamente tomada por um brilho resplandecente. Dela, uma singela quantidade de faíscas energética saltava com graciosidade e lentidão, caminhando juntamente a uma fina onda de choque que se espalhava aos poucos, tomando seu espaço, definindo seu território e dominando tudo aquilo que estava entre o céu e a terra. As madeixas prateadas tingiram-se de um vermelho vivo de caráter etéreo, luminoso, bailando não com a ventania do ambiente, mas com a energia interna atravessando cada célula, cada tecido e cada órgão do seu corpo. De repente, não era uma menina ordinária. Pareceu, à princípio, que seu próprio código genético reagiu àquela transformação; a realeza do sangue Uchiha somada à majestade dos poderes da natureza. O chakra outrora negruro limpou-se de toda a mácula, de toda a dúvida e de todos os medos, quedando-se multicolorido como se milhões de cacos de energia caíssem, aquebrantando a película energética formada sobre o corpo da Chunin e se aniquilando no espaço. O chakra Senjutsu lhe impulsionou para o alto, levitando a poucos metros do chão, onde poderia mostrar-se imperatriz e deusa ao mesmo tempo. Não era uma singela Isabel, mas uma nova entidade superior, nascida de uma jovem que finalmente havia encarado a si mesma e decidido, em vez de abandonar aquilo que lhe representava, abraçar seus erros e suas falhas, tornando-se amiga de si mesma. Uma Isabel nova, confiante, cheia de vontade e de amor. A pele alva brilhava tal como os pelos do amigo que agora vivia em seu interior, e assim que a energia se assentou definitivamente em seu corpo, ela entendeu que havia conseguido. Aquele era, sem dúvida nenhuma, o modo sábio em sua perfeição.

— Como uma deusa. — Caiaphas disse, encantada pela transformação da mais alta pureza. Isabel retornou a terra com o fim da transformação, e todo o poder excedente se reuniu em seu corpo. As pálpebras se abriram e Caiaphas observou os olhos ardentemente dourados nascidos de um Modo Sennin aperfeiçoado. Delineando seus olhos estava uma marca vermelha, quase rubra, que determinava que a menina da folha havia se tornado um sábio. Isabel desfez a transformação logo em seguida e deixou que o poder sábio retornasse às suas origens, perdendo os cabelos ruivos e os olhos dourados e retornando ao padrão prateado e olhos azulados.

— Como me saí? — Ela perguntou, esperando um elogio.

— Excepcionalmente bem. Como esperado da minha aprendiz. — Caiaphas respondeu com orgulho. — Você concluiu um passo importante, mas sabe que esse é apenas o início, não sabe? — Ela perguntou cruzando os braços.

— Como assim? Pensei que o dominar era tudo o que precisava ser feito. — Respondeu ela.

— Ser capaz de atingir a transformação sábia em sua perfeição e domina-la são coisas totalmente diferentes. Você completou o primeiro passo, mas precisa entender como esse poder funciona a partir de agora e como controla-lo antes que possa usar em batalha. Não quer acabar quebrando nada ou machucando gente inocente sem querer, quer?

Isabel recebeu o xeque-mate. Caiaphas estava certa. Seu intuito ao dominar aquela habilidade até a raiz era a de usa-la para o bem maior. Queria proteger, não destruir. Ela assentiu em concordância com a sábia dos sapos, resoluta de que seus treinamentos dariam resultados que mudariam de maneira dramática o curso daquela infiltração.  — Muito bem, você está certa. Quando começamos?

— Você é apressadinha, não é mesmo?

— Você não tem ideia do quanto. — Isabel replicou com um sorriso infantil.

[...]

A kunoichi das madeixas flavescentes andou até o outro lado do rio e preparou-se para o combate, hasteando os punhos sobre o rosto para que se protegesse de investidas contra a cabeça e separando as pernas com o intuito de não ser derrubada com tanta facilidade. Encantado com a energia da natureza com muito mais expressividade, uma aura tangível, energética e multicolorida irradiava incessantemente do corpo de Isabel.

Caiaphas estava igualmente preparada do outro lado da arena improvisada. Sobre sua cabeça, crepitava uma coroa feita inteiramente de chamas, acompanhada por um par de asas que consumiam o oxigênio atmosférico em um festival pirotécnico. “A Fada das Chamas” diziam seus inimigos, um momento antes da inevitável derrota. Em assistência do seu próprio Modo Sábio, tornava aquela andarilha numa verdadeira máquina de combate, terrível e implacável.

Ela assaltou em toda a sua grandeza, crescendo em presença à medida em que seus pés empurravam a terra e se dirigiam à kunoichi da folha. De repente, não era uma simples fada de fogo, mas uma imperatriz infernal almejando incinerar toda a existência ante os seus olhos.

Mas o coração de Isabel estava calmo.

Ela sabia tantas coisas sobre si mesma, sobre seus poderes, que não cabia mais uma gota de medo em seu coração. Saltou para o alto, desviando da investida, e observou enquanto o punho de Caiaphas atravessava o chão violentamente, cravando-se entre pedras e rochas de forma tão problemática que a mentora puxava com todas as forças e não o retirava de lá. Uma brecha, ela notou. O Sharingan enalteceu-se no dourado da íris e somou nela três tomoe, ao passo em que a menina pousou graciosamente sobre a árvore e impulsionou-se sobre a retaguarda da mentora.

— Você esqueceu, não é? — Caiaphas questionou ousadamente. A mestra do fogo brandiu suas asas e delas surgiram tufos de chamas, tão ardente era que assim que avançaram tudo o que a princesa dos Uchiha observou foi um rastro luminoso queimando o céu. Isabel girou no ar e evadiu-se de um, pousou na terra e com uma cambalhota escapou do segundo. Mas, infelizmente, um terceiro lhe surpreendeu e atingiu o chão a sua frente, explodindo terra e pedra, evaporando água e empurrando a Uchiha para longe. Ela virou a cabeça com o solavanco e bateu com as costas numa árvore. Ergueu a vista sobre sua oponente tão logo foi capaz, não ousando perde-la de vista por mais de um instante, e aquilo que observou era uma espada energética feita puramente de chamas apontada contra sua garganta, declarando o fim daquele combate.

Mas Caiaphas Moureau a havia subestimado uma última vez. Isabel implodiu em fumo bem diante dela, revelando tratar-se de mero clone. A andarilha das chamas fádicas deu uma vista de olhos sobre o campo de batalha, procurando por onde viria a sua investida surpresa. Por cima? Talvez, era um movimento comum para Isabel e geralmente era mais difícil de se defender. Dos flancos? Mais ousado e difícil, mas lhe daria um acerto muito mais complicado de se evadir se não lhe percebesse a tempo. Caiaphas escolheu o céu, tendo em vista sua indecisão em trocar entre a esquerda e a direita, mas a Chunin surpreendeu novamente ao surgir de dentro da terra, tendo se ocultado nos interiores da caverna dos fundos da cachoeira e aguardado, pacientemente, por uma chance. E assim que Caiaphas abaixou a guarda, seu punho subiu rápida e precisamente contra seu queixo. O golpe foi preciso e definitivo, e uma grande onda de choque espalhou-se do ponto de impacto, jorrando sobre os galhos e as folhas a potente energia cinético-eólica nascida dos ventos. Ela deu curtos saltos para trás como uma ginasta, girando e rodopiando à medida em que ganhava espaço, mas Caiaphas permaneceu imóvel, como se tivesse congelado inteiramente ao receber um golpe direto. Isabel preocupou-se e decidiu averiguar.

— Você está bem? — Ela questionou, num misto de preocupação e cautela. Ainda não haviam terminado o combate e dar-se ao luxo de abaixar a guarda meramente por um aborrecimento da outra parte era uma das coisas que Caiaphas mais lhe ensinava.

Mas a sua resposta veio na forma de um outro ataque. O Sharingan entreviu a concentração de chakra e a kunoichi se armou, mas no intervalo de um instante, um fino raio energético escapou dos olhos de Caiaphas, derretendo tudo aquilo que entrava em seu caminho e que ousava conceber-se diante dos olhos da fada das chamas. Isabel se jogou no chão e abraçou a terra, sentindo a quentura do raio mesmo a poucos centímetros do seu corpo, como se estivesse lhe lambendo a pele. O rosto de Caiaphas foi de leste a oeste e no mesmo caminho seguiu o raio, até que uma família inteira de árvores num raio de 60 metros havia sido completamente desintegrada, caindo aos pedaços sobre a terra.

E Isabel entendeu que as coisas estavam sérias. Proferiu uma sucessão rápida de selos e irrompeu dali uma grande nuvem de fumaça, de onde cinco clones da Uchiha partiram em esquadrão contra Caiaphas. Enquanto isso, Isabel aproveitou da simples distração para saltar para o céu, de onde observaria o combate enquanto caia.

A garota em chamas balançou as asas contra o vento e uma ventania de fogo engolfou seu corpo, uma aura que envelopou seu corpo e serviu como um escudo para a ofensiva dos clones. Eles hesitaram, sem saber como aborda-la naquele caso, e de repente uma rajada de chamas escapou como pequenos ratinhos de fogo, voando tão rápido que não tiveram outra alternativa que não desaparecer. Do céu, Isabel recebeu as informações da habilidade e sentiu-se encurralada. Na terra, Caiaphas lhe sentiu com o sensoriamento da natureza e saltou como um cometa, desferindo uma sucessão de socos rápidos contra a infiltrada. Isabel ergueu os punhos defensivamente e segurou os golpes mais potentes, se arriscando a evadir-se dos outros à medida em que muitos novos golpes nasciam daqueles punhos em chamas. Se não fosse o Sharigan, aquele combate teria terminado muito mais rápido, com a Uchiha quedando-se inerte ante aos intentos do inimigo.

Mas o sangue Uchiha era o sangue de uma família de guerreiros, e cada uma das células de Isabel estavam preparados para lutar até o fim. Quando se acostumou com os surtos de velocidade de Caiaphas, era a vez de ela dar o contra-ataque. Seus punhos carregaram-se de velocidade, destreza e força à medida em que dançavam como uma tempestade de ataques contra a mulher, encaixando alguns e perdendo outros de forma completamente.

As combatentes retornaram novamente a floresta, atravessando rochas sólidas e derrubando árvores à medida em que seus corpos colidiam em trocas frenéticas, gerando explosões de choque e tremores que somente não afetavam a flora ou chamavam a atenções indesejadas graças ao santuário.

—  E pensar que em poucos dias você teria não só chegado ao meu nível como também sido capaz de dominar o Modo Sábio dessa maneira, não é? — Caiaphas admitiu com orgulho. Entre suas palavras, labaredas de fogo rumavam como lasers mirando unicamente a cabeça da Uchiha.

— Não cheguei ao seu nível, ainda tenho muito o que melhorar se quiser chegar ao seu nível. — Isabel atirou-se para trás e seu corpo conheceu o chão, deixando que os lasers passassem rente ao seu peito. Ela deu uma espécie de cambalhota para trás, pousando com as mãos sobre a terra, levantando as pernas e girando a cintura num chute inverso e com rotatividade diretamente contra a cabeça. Caiaphas projetou os braços em defesa e, no instante seguinte, Isabel já havia se clonado outra vez, despachando dois clones contra a kunoichi. Eles seguraram seus braços e a empurraram para trás, mas assim que suas mãos lhe tocaram a pele, a quentura daquela habilidade foi suficiente para que se desfizessem em fumaça.

Elas se encararam mais uma vez. Não como companheiras ou mentoras, mas como rivais de batalha. — Modéstia, garota. Você passou por muitos perigos e de alguma forma sobreviveu a todos eles. Esse é um feito a ser lembrado e parabenizado, não se sinta envergonhada disso. — Caia replicou.

— Quando cheguei nesse país, meu maior medo era não ser forte o suficiente para proteger Suzue. Passava noites em claro, amaldiçoando a minha fraqueza e procurando toda sorte de coisa que pudesse me ajudar a manter aquela ansiedade em xeque. Tentei vasculhar a área uma centena de vezes em busca de inimigos, estudei o padrão de movimentação das tropas de Kiri e como funcionavam as suas rondas, perdi semanas memorizando cada galho e cada árvore de toda essa reserva florestal. Não me importava que todo o nosso plano de infiltração falhasse e retornássemos para a vila de folha de mãos vazia. Eu aceitaria isso e todas as palavras de maldição de ódio do meu pai sem pestanejar. Mas a ideia de perde-la por culpa da minha fraqueza... isso é o que realmente me atormentava, me dava calafrios e tirava muitas noites em que eu poderia ter dormido de maneira saudável. Gamaiso, o vovô Fukasaku... — Isabel olhou para a mentora com olhos admirados. — Você. Todos me estenderam a mão e garantiram que eu não estaria sozinha, que eu receberia suporte e todas as ferramentas necessárias para que esse pesadelo nunca se tornasse realidade. Mas agora... agora que tenho todo esse poder... descobri que a única coisa que eu realmente precisava era estar bem comigo mesma, com quem eu era e com tudo aquilo que eu sentia. Pode parecer besteira vindo de uma criança de dez anos, mas... acho que amadureci muito com todas essas provações.

— Você ainda é muito inocente, mas não nego que aprendeu muitas coisas durante essa fase da sua vida. Fico feliz em ter participado ativamente em todas as fases e lhe amparado quando precisou. Para mim, somos muito mais que mentora e aluna. Somos amigas. E um amigo ajuda o outro. — Ela deu um sorriso ao final de sua frase, levou a mão a cabeça e a coçou como se estivesse envergonhada das palavras ditas.

—Um amigo ajuda o outro. — Isabel repetiu.

— E então, vamos continuar com isso? — Caiaphas questionou. — Você teve sorte em vencer aquele Espadachim da Névoa. Sei que ele não estava no auge dos seus poderes e que se estivesse, aquela luta seria completamente diferente. Mas saiba que as lutas futuras não serão cheias de sorte como essa. A tendência de um inimigo atacado é tornar-se mais forte para resistir à ataques futuros. É assim com você e também é assim com eles.

Isabel assentiu com a cabeça. Nos momentos finais do combate, não percebeu o advento do segundo espadachim e quase entrou numa batalha que certamente perderia. Entre ameaças e réplicas ácidas, a kunoichi cometera o erro de não perceber quanta energia natural ainda restava em seu sistema circulatório, de maneira que se tivessem continuado, teria de enfrentar uma dupla de espadachins enquanto em sua forma mais básica. Se acabasse sendo colocada contra a parede desse modo outra vez, teria de ter uma nova carta na manga para ganhar vantagem, ou inevitavelmente seria exterminada. Tinha sorte de enfrentar louva-deuses humanoides e bandidos de estrada; meses depois daquilo, seus inimigos haviam escalado para a elite de uma Grande Nação, e ela tinha certeza que ainda não estava no nível de enfrenta-los abertamente com chances consideráveis de vitória.

E foi quando a ideia mais estúpida do mundo surgiu a cabeça.

— Qual seria a possibilidade de eu conseguir reunir energia natural ao mesmo tempo em que me movimento? — Isabel questionou.

— Essa foi a sua melhor piada? — A coroa de chamas desapareceu e as asas se extinguiram. Sem necessidade de acordos verbais pareciam ter dado uma curta pausa para uma conversa. — Não tem como fazer isso.

— Alguém já tentou? — ela continuou.

— É claro que algum idiota já tentou, Isa. Assim como algum idiota tentou levar o óleo sagrado para fora do Monte Myoboku e outro idiota se tornou pedra durante o treinamento sábio. É por isso que essa forma de diretriz existe, para impedir que novos idiotas surjam e sejam idiotas onde outros foram idiotas. Não seja uma idiota, sua idiota.

— Credo, foi só uma pergunta. — Ela resmungou. — Aliás, se você sabe tanto sobre como funciona a sociedade dos sapos e se tem tanta amizade assim como Gamaiso e o Vovô, porque é que não estava lá quando um outro sapo tentou tornar-se comandante e eles precisavam da sua ajuda?

— Eu estava ocupada.

— Um amigo ajuda o outro. — Isabel repetiu.

— Ótimo, agora você foi uma idiota. — Caiaphas desviou os olhos para o chão. Sua expressão tornou-se triste e distante, como se pensar naquilo lhe doesse mais do que mil navalhas contra o seu coração. — Eu... estava procurando por uma pessoa. Uma pessoa importante. Muito importante. Essa pessoa foi para um lugar distante, fora do meu alcance, mas eu prometi que a encontraria todas as vezes em que nos perdêssemos.

Isabel permaneceu em silêncio. Conseguia sentir a dor nas palavras da mentora e, ao mesmo tempo, a determinação em encontrar a pessoa por quem carregava tanta estima. E agora, com uma simples frase carregada com essa determinação e com honestidade, ela entendeu quem era Caiaphas Sauveterra Moureau era uma andarilha, sim, mas não andava por aí a esmo. Estava a procura de uma pessoa querida, e galgaria por cada porção de terra desse mundo, por cada pântano obscuro ou rio de lava intransponível, para que pudesse recupera-la.

— Eu posso ajuda-la. — A menininha se ofereceu inocentemente.

— Não. Essa é uma promessa de uma vida inteira, Isabel. Você estaria pronta para doar a sua vida inteira por uma promessa a uma pessoa que não é a mais importante da sua vida? — A pergunta lhe acertou em cheio. Ao se juntar naquela jornada com Caiaphas, estaria abandonando sua vida como shinobi, sua companheira Suzue, sua irmã, tudo aquilo pelo que lutava e toda a sua jornada até ali. Estaria sacrificando sua própria essência em detrimento de outra pessoa, e essa era uma decisão que marcava uma linha sem retorno. Uma vez que virasse as costas para essas coisas, não estaria vinculada a nada que não fosse sua mentora e sua promessa. Não caberia a ela arrepender-se, pois se o fizesse já não lhe restaria nada que lhe atasse a esse mundo, e numa situação dessas não haveria razões para se viver. Isabel refletiu em uma profunda introspecção e, pela primeira vez, percebeu o peso de se ajudar outra pessoa.

— As vezes, ajudar alguém significa sacrificar coisas importantíssimas para você. E nem sempre essas coisas devem ser sacrificadas. Há um limite para o quanto uma pessoa pode se doar por outrem sem estragar a própria vida. E por mais que auto sacrifício seja belo na literatura e enaltecido por essa sociedade, você ficaria assustada com o quão fácil é estragar a sua vida e terminar na lama ao ajudar os outros precipitadamente sem se preocupar consigo mesma.  — Caiaphas nunca parecera tão sábia quanto agora aos olhos da Uchiha. Seria meramente fruto da idade ou o acúmulo de experiências de vida que foram lapidando o que um dia foi uma inocente menina em uma madura mulher? — Bem, o tempo para a pausa acabou, vamos continuar com seu treinamento.

Caiaphas andou até onde tinha deixado suas coisas e vasculhou a própria bolsa com as mãos. Ela tirou um estranho aparelho metálico amarelo do seu interior e retornou para onde Isabel esperava, balançando o objeto como se a kunoichi soubesse do que se tratava.

— Está bem, o que é isso? — Isabel perguntou curiosamente, quebrando o clima.

— Um cronômetro, obviamente. Ao fim da contagem, ele faz um barulho bem incomodo que serve perfeitamente para o nosso treinamento.

— E que treinamento seria esse?

— O tempo que você demora para reunir e amalgamar seu chakra com a energia natural é grande demais, impraticável numa situação de combate. Se você estivesse encurralada e só tivesse pouco tempo para reunir poder, o que faria? — Ela perguntou após montada a hipótese.

— Clones das Sombras? Eles têm sido bem úteis como estoque de energia natural, na verdade.

Caiaphas lhe surpreendeu com um avanço frontal. Despreparada para aquilo, Isabel ainda tentou levantar os punhos mais foi brutalmente socada no rosto, se arrastando sobre a terra e engolindo grama. A cabeça latejava de dor e os nervos turvavam a visão, tornando difícil ficar de pé logo em seguida. — Tente criar clones e reunir a energia do Senjutsu. — Caiaphas mandou.

Isabel reuniu as mãos para proferir o selo, mas assim que os dedos se tocaram o pé de Caiaphas acertou-lhe com uma pesada no estômago. A criança tossiu e quase engasgou com o golpe, se recolhendo em posição fetal conforme tossia de maneira patética. — Eu disse para você fazer clones e reunir a energia! — Caiaphas repetiu.

A kunoichi se levantou rapidamente e saltou para trás, mas antes mesmo que seu chakra se alinhasse para a conjuração das réplicas, Caiaphas saltou em sua direção e deu um chute de cima para baixo, lhe colocando de volta no chão, gravemente confusa e aturdida. — Me parece que não é tão hábil assim para usar clones, reunir energia natural e se transformar. — Notou, ironicamente. — E é por isso que seu treinamento deve mudar a partir de agora. Permito que você continue usando os clones como bem entender, mas seu teste consistirá em reunir energia natural o mais rápido que conseguir num intervalo de cinco segundos e dessa forma transformar-se em Sennin. Se não conseguir fazer isso, então terei que conversar com a dona natureza para confiscar o seu Modo Sábio de novo. — A última era claramente um blefe.

A Chunin das madeixas prateadas sentou-se em postura de lótus e fechou os olhos. Imaginou a energia natural no ambiente e permitiu-se abdicar dos sentidos corpóreos para senti-la com mais avidez, mas no meio daquele processo, cronometrando exatos cinco segundos, a menina foi arrancada de seu estado de concentração por conta do som.

— Cinco segundos? Sério? Isso é muito pouco, não tem como! — Protestou.

— De novo. — Caiaphas replicou.

Mais uma vez a garota conservou-se em paz e comunhão com a natureza. Permitiu-se senti-la como se fosse um rio fluindo por todo o cosmos, e imaginou um pequeno afluente deixando esse fluxo etéreo e sendo transferido para o seu corpo. Infelizmente, assim que a ideia se moldou e começou a sentir a energia se movimento, o cronômetro tocou, vibrando com seu repetitivo som de passarinhos cantando. Ela olhou impacientemente para Caiaphas tentando entender se aquilo era uma espécie de piada, mas tudo o que recebeu de resposta foi:

— De novo.

E mais uma vez tentou.

[...]

Mente vazia.

Mansidão.

A luz... cada vez mais fraca, tornando-se mais forte, mais viva e energética. Antigamente seus sentidos eram empecilhos que lhe impedia de conectar-se com a natureza, mas em prol de fazer aquilo com presteza e eficiência, as dezenas de tentativas haviam lhe ensinado que não era prudente persistir tentando desvincular-se. Por isso, passou a manter os sentidos ali, como sempre estiveram, e em vez daquilo começou a aprimorar a maneira como funcionava o seu molde de Chakra Senjutsu.

Como Fukasaku tinha explicado em outro momento, a parte mais difícil de usar o Modo Sennin era equilibrar as três energias que formavam o Chakra Senjutsu. Trabalhando unicamente com chakra, as energias usadas eram a física e a espiritual, de forma que o cálculo certo se tratava de mero 50%, sem espaços para mais curvas ou desvios. Colocando-se três variáveis na conta, entretanto, a coisa ficava muito mais complexa: não havia como mensurar a infinidade dos 33% previstos para aquela técnica, e acaba que sempre era uma questão de sentir o equilíbrio e não necessariamente controla-lo para que existisse. Em vista disso, o treino passou a se voltar para melhorar a sensibilidade da menina para com a natureza, entrando e saindo do Modo Sennin com tanta frequência que o tempo lhe havia agraciado com a capacidade de se familiarizar com o equilíbrio requerido. Em prol dessa familiaridade, a menina decidiu ir afiando a velocidade com que atingia o equilíbrio e desenvolvia a habilidade, valendo-se de um duro processo de tentativa e erro que findou na diminuição do tempo necessário para entrar no Modo Sábio.

E como era comum após uma sessão de estudos de um aluno, Isabel chamou Caiaphas, que pescava para o jantar do outro lado da cachoeira, e lhe pediu que a observasse. A mentora acatou ao pedido e ativou o cronometro, para que pudesse avaliar seu empenho e o quanto havia melhorado desde então, de forma a apontar possíveis formas de melhorar seu desenvolvimento ou parabeniza-la pelos feitos até então angariados.

A criança da folha enlaçou-se em comunhão com a energia natural e gradativamente sentiu-se mais forte, mais rápida, mais poderosa do que nunca; os cabelos tingiram-se de um vermelho vivo e chamas multicoloridas crepitavam sobre sua pele sem causar danos. Um instante depois, o cronômetro tocou, para a surpresa de Isabel. Àquela altura, após horas a fio se esforçando e dando tudo de si para completar aquele maldito treinamento, a kunoichi encontrava-se fisicamente e mentalmente exausta, nos limites do que seu corpo era capaz de suportar. Por isso, caiu de joelhos, sentindo o suor escorrer pelas vestimentas e as energias escapando-lhe os dedos, lhe fazendo sentir aquela mesma sensação que já se tornara comum durante todo o treinamento: cansaço.

Caiaphas não podia estar mais orgulhosa de sua aluna. A menina havia prometido para si mesma que colocaria empenho e determinação naquele treino e, como ela mesmo podia ver de primeira mão, estava pagando em cada centavo a promessa realizada. Você realmente escolheu a pessoa certa, Fukasaku-sama., ela reconheceu, observando a menina caída apoiar-se sobre um tronco para se manter de pé, por mais que seu corpo não mais sustentasse tanto esforço sem descanso.

— Você tem se esforçado muito, mas é hora de descansar. — Ela criou uma pequena esfera de fogo na ponta dos dedos, ajuntou um punhado de galhos retorcidos e fez uma fogueira improvisada. Andou até o rio, pegou a cesta com os peixes pescados e montou tudo para que naquela noite comessem assado. Para Isabel, seu próximo treinamento era sentar, comer e descansar. Os dias tinham caminhado de forma bem pesada e Caiaphas sabia que se continuasse lhe pressionando mais, em dado momento a menina quebraria.
No fim, Isabel era apenas uma criança, e crianças não deveriam ser julgadas pelas suas capacidades. Ainda que de noite enfrentasse shinobi de elite e destruísse bases secretas, era em momentos como aquele, sentada à beira de uma fogueira aproveitando do calor e esperando pela comida, que ela conseguia ver que lá dentro ainda morava uma menina gentil, inocente e que ansiava por uma infância pacífica. A mulher nunca tinha tido um momento em que pudesse trata-la com uma menor carga de maturidade, e pensou que provavelmente já faziam meses desde que Isabel pudera se dar ao luxo de ser criança. Em Kirigakure, como uma infiltrada procurada por todo o estado militar de Zetsubo Hoshigaki, a menina tivera de amadurecer precocemente para equiparar-se às responsabilidades que lhe foram arroladas. Em razão disso, algo se perdera no caminho, e a mentora dos cabelos cacheados estava curiosa se talvez isso pudesse ser resgatado.

— Como você e a outra menina se conheceram? — Ela perguntou.

Isabel estava cansada e demorou um pouco para raciocinar uma resposta coerente. — A-ah, é... Estudávamos juntas na Academia Ninja. Na época não conversávamos muito, tínhamos o tratamento básico de estudantes da mesma classe, mas... bem, ela vivia me seguindo pela vila e tentando contato. Era como um... jogo para ela, talvez? Não, essas palavras são muito cruéis, não é o caso da Suzue. Ela só viu algo em mim, algo que escapava dos traumas dela, e imagino que por isso decidiu ser minha amiga. Tenho que credita-la pela maior parte do esforço, porque eu...  eu não sou muito boa com pessoas.

Caiaphas anotou mentalmente as respostas. Entre as duas parecia haver uma conexão um pouco mais saudável do que com o pai, e a andarilha sabia que aquilo era culpa de Jugram, ainda que não tivesse questionado a menina sobre isso. Mesmo quando Faye ainda estava viva, o homem era muito firme e militarista com a maneira como conduzia sua família. Ficava sempre na coleira de sua esposa, claro, que anulava grande parte desses impulsos destrutivos e soberbos, mas sem ela... era difícil imaginar o que viria dali.

— Feche os olhos, Isabel. — Ela pediu e a menina acatou.

Caiaphas caminhou ao lado dela e tocou seus cabelos. De súbito, a kunoichi abriu os olhos.  — O que é isso? — Ela perguntou.

— Você está sendo procurada como uma menina de cabelos prateados. Não acha que continuar assim pode ser perigoso para sua missão? Eu normalmente não me meteria, afinal não tenho muito interesse nesses... dilemas das Grandes Nações, mas não gostaria que você desperdiçasse todo o seu esforço aqui para morrer na praia.

— E o que você sugere? Corta-lo fora? — A menininha questionou. Uma idiota, claro.

— Podemos pinta-lo.

Os olhos de Isabel se encheram de luzes ante a proposta. Ela sempre havia tido interesse em cabelos coloridos e na pintura em si, mas nunca haviam lhe permitido faze-lo. Os cabelos prateados de sua família eram uma espécie de “honraria” dentro do Clã Uchiha e não se admitira que ofendesse as tradições por mero capricho. Mas ali, distante da vila e do jugo dos anciões, ela podia ser livre para tomar as suas próprias decisões. — Podemos mesmo? Digo, sim, sim, eu quero! — Seus olhos irradiavam animosidade.

— Aproveite para prestar bastante atenção no processo que farei. Usarei do meu controle da energia natural para alterar as propriedades moleculares da melanina no seu cabelo, aumentando a sua quantidade e por consequência tingindo seu cabelo para tonalidades mais escuras. Felizmente o prateado ajuda um pouco com o processo, então acho que vai ser rapidinho.

— Certo... e o que você quer que eu faça? — Indagou.

— Sua transformação sábia altera seu cabelo para um vermelho vivo, como se chamas escarlates formassem ele, e o processo é parecido. No entanto, como você vai ver, esse é definitivo como uma pintura, e só vai se esvair daqui a alguns meses. Tudo bem para você certo? Se sim, quero que se concentre no que farei, tente sentir minha energia natural e sincronize o seu poder interior com ela. Quero que seja capaz de sentir-me como uma usuária de Senjutsu, e se conseguir fazer isso, então seu treinamento estará concluído.

Isabel pensou por algum tempo, e então assentiu positivamente com a cabeça. Caiaphas lhe observou por um tempo e então disse:

— Mas... aproveita o momento. Sabe, não como ninja, mas como você mesmo. É a sua primeira vez pintando o cabelo, não é? Sente o feeling, querida. — Ela disse. Caia ajoelhou-se atrás de Isabel e tomou para si uma porção dos seus cabelos. — Muito bem, vamos começar...

A criança não precisou que mandassem-na fechar os olhos para que o fizesse. Imaginou que dessa forma seria muito mais fácil sentir as nuances energéticas que caminhavam vagarosamente pelos seus fios, sentindo o poder transmutando suas propriedades biológicas e garantindo-lhe uma nova tonalidade de cabelo. À princípio, era como se uma corrente de água fosse escorrendo pelos cabelos, mas assim que seus olhos correram para o alto ela entendeu a razão para aquele pequeno treinamento: diferentemente do habitual, onde a menina precisava concentrar-se por longos períodos de tempo para sentir a energia natural, agora a sua afinidade era tão afiada que conseguia sentir de forma “tangível” o poder da natureza, como se fosse algo sólido, material, a interagir com seu corpo.

Por meio dessa sensação, a menina se obrigou a desenvolve-la com mais afinco, trabalhando na própria sensibilidade e destrinchando aquele sentimento em tudo o que significava para a sua pessoa. Era fria, úmida, gelada, como a cascata da cachoeira para onde outrora fora atraída. Um verdadeiro líquido, ela diria, escorrendo por seu corpo e energizando partes específicas dele. Sentada às costas da menina, sua mentora continuava meneando os fios, concentrando-se em seu trabalho, à medida em que aquelas madeixas prateadas iam se tornando gradativamente mais escuras, beirando a negritude completa em certas partes.

Mas por mais que se concentrasse na maneira como o poder da natureza se comportava e sentisse as mãos de Caiaphas lhe tocando, a menina ainda não havia visto como ela estava agora. Era como uma profunda sensação de ansiedade, em que se imaginava de uma forma e somente podia ansiar para que a vista imaginada fosse semelhante a real. Seu corpo pareceu reagir a energia e, em doses homeopáticas, acabou absorvendo uma parte da energia natural, amalgamando-a como uma valsa sobre o próprio corpo, conectando-se a sua carne a sua alma, os dois polos que formavam o poder que brandia. Era como voltar a ser uma criança inteira novamente — porque embora ainda fosse, lhe faltava a ausência de responsabilidade e a bonança —, pois sentia-se forte, capaz de realizar tudo e atingir quaisquer objetivos, mas ao mesmo tempo quedava-se ansiosa, consumindo a si mesma em excitação e um êxtase profundo, animada para alguma coisa que inevitavelmente viria.

E assim, recebendo da mentora um último presente, Isabel sentiu quando ela soltou suas madeixas e sussurrou em seus ouvidos. —Vá até o lago, observe quem você é agora.

A menina foi andando em meio ao bosque, e então a caminhada transformou-se numa longa arrancada, tirando galhos do caminho, se esgueirando em arbustos e saltando sobre os troncos mais altos para que pudesse chegar mais rápido. Ela continuou, com um sorriso nos lábios e uma pequena lágrima a escorrer do canto do olho, ansiosa para o que veria, para o resultado de tantos dias de treinamento. Certo, não era realmente o resultado dos seus treinamentos, mas que diferença fazia? Era uma recompensa por seus esforços, e nada valeria mais do que aquilo. Ela pousou a beira do rio de maneira desengonçada e continuou em frente, até que se deparou com a borda da água, que refletia o brilho lunar em sua plenitude. Ela seguiu, colocando os pés descalços sobre a água — como fizera no passado, mas agora consigo mesma e com a natureza ao seu lado — e avançando contra o rio, até que, num ultimato, quando a água já lhe alcançava a cintura, ela olhou para baixo.

— Você está contente, menina da folha? É isso que queria? — Caiaphas questionou. — Esse é o resultado da sua busca.

Ela se esforçou para limpar as lágrimas antes que a mulher notasse, esfregando os olhos e se ocultando na penumbra, mas um único cristal de água escorreu do canto e brilhou na luz da lua, lhe entregando à Caiaphas. — Obrigado. Muito, muito, muito obrigado. Eu não sei como agradecer e nem como te pagar, então só... obrigado. Isso é simples, mas... significa... tanto... — ela falava enquanto passeava com as mãos pelo cabelo, sentindo-se verdadeiramente livre das amarras do pai, do clã e do destino.



Isabel; HP: 800/800, Chakra: 1600/1900

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Isabel
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Suzue
Jonin de Konohagakure

Re: [RP] Omnis LacrimaSeg maio 10, 2021 4:24 pm



Omnis Lacrima

Muito bem, gostaria de começar parabenizando pela profundidade e maestria do desenvolvimento durante toda a narração; Todos os temas e tópicos foram apropriadamente desenvolvidos de forma compreensível, tornando a profundidade da personalidade inexplicavelmente bela.

Assim, chegamos á partes que eu pessoalmente amei: Durante a imersão da personagem em si mesma, o cuidado em representar temas que se atam muito bem a caracterização feita antes e também a psique humana. A delicadeza, mas ao mesmo tempo clareza, ao falar por exemplo sobre como a personagem via seu próprio orgulho, e ao personificá-lo, adicionar ainda mais camadas mostrando como esses sentimentos se portavam e agiam dentro dela. Tudo isso se une nessa imagem única, e traz essa lucidez e deixa muito certo os delineados de como Isabel pensa e vê o mundo.

E então, as conversas entre Caiaphas e Isabel, que apresentam uma fluidez natural e muito fácil de acompanhar. Ela apresentar valores importantíssimos e conceitos pesados, que correm muito o risco de parecerem rasos, mas graças a naturalidade do diálogo, os pontos se apresentam com a profundidade devida, o suficiente para Isabel realmente aprender e sair com mais conhecimento, assim como até o leitor entende e aprende com ela. Essa conexão e trabalho tornam toda a peça realmente incrível, por isso, parabéns.

Para notas finais, posso falar sobre o cuidado para com os detalhes importantes para a personagem, levando em conta suas experiência e amados e conhecidos, e em nenhum momento deixando de levar a sério o que ela viveu e como isso afeta ela.  

— Recompensa final: — Modo Sennin Perfeito
— +2 Pontos de Força



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Suzue
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Re: [RP] Omnis Lacrima