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Motto Motto Motto

Outono de 1243
Em alguns lugares, Kirigakure no Sato

Espaço reservado para as narrações de uma RPFB, ou seja, uma narrativa no passado estritamente fechada. A postagem de terceiros só será aprovada em caso de avaliadores.

Motto Motto Motto pode ser traduzido livremente para "mais, mais, mais";

Mais rápido. Isso era tudo o que a jovem Hiaru pensava, em ir mais rápido. Em fazer os pés, assim como todo seu corpo, reagir mais depressa. Mais ágil. Mesmo que isso significasse ultrapassar seus limites com todas aquelas armadilhas espalhadas no ambiente que passaria. Saraivadas de galhos, cascalhos, e troncos grandes em movimento constante. Um centro de treinamento complexo aquele que a morena se encontrava, porém, era a única forma de conseguir ficar mais rápida. De aguçar os reflexos ainda mais. A jovem avançou forçando as solas dos pés contra o chão com tamanha força que teve a impressão de que poderia voar. Estava mais rápida, conseguia notar isso gradativamente, mas longe do ideal. Pois ela não havia nascido para ficar atrás de ninguém. Ninguém. Não importava quem fosse, ela precisava superar. Mesmo que a superação fosse contra si mesma.

A primeira saraivada de obstáculos a forçou a mover-se para os lados em uma sequência confusa, mas precisa. Não havia espaço para falhas, e a velocidade dos dardos de madeira era impressionante, então os da morena tinham de ser ainda mais incríveis. Saltitou de um lado para o outro, formando esquivas rápidas, sem usar nenhuma técnica adicional, apenas tudo o que tinha dentro de si. As pernas se balançaram como penas flutuando no ar, mas o corpo também tinha de se mexer entrando em harmonia com os pés, exatamente como numa dança. Uma dança potencialmente fatal, mas uma dança.

Terminou as esquivas e continuou correndo. Tinha um tempo para fazer aquele percurso, e queria se aprimorar ainda mais. O relógio deixado ao lado da marmita indicaria se ela poderia ou não comer o almoço. O disparo seguinte foi com pedras, recebe-las contra o corpo não apenas doeria, mas poderia causar lesões importantes, até mesmo membros quebrados. A chuva caiu de cima, em espaçamentos propícios a fazê-la desviar rápido e encontrar os espaços vagos onde não se machucaria. O espaçamento de tempo entre as quedas era breve e ia diminuindo, forçando-a a acelerar.

Para a esquerda, para a direita, frente e trás. Na última leva, pensou que não daria tempo. Havia recém mudado a posição, os pés ainda se firmavam no solo, mas se aproveitou do estado da grama para resvalar um pouco os pés e lançar-se para a direção mais segura naquele momento. Os pulmões se esforçaram um pouco além da conta, mas ela estava bem. Estava a salvo. E começava a correr para os últimos obstáculos, os troncos amarrados a cordas que avançariam contra Naoko.

Ali, porém, não se tratava apenas de esquivas. Era uma escalada. O primeiro veio rapidamente, bastou a ela o ato de subir nele e então os outros, um pouco menores, passaram em sequência a forçando a continuar saltando um pouco mais rápido entre cada golpe para subir no tronco seguinte e escapar de um golpe fatal que a lançaria contra o além ou pior, contra outro tronco. Mas, por fim, ela tinha conseguido. Naoko alcançou o relógio que cronometrava e o interrompeu. Ainda não estava tão bem como gostaria, mas era um começo.

Considerações:

“Ainda não, ainda não”, ela resmungava para si mesma, mas a voz era de seu pai dentro de sua mente. Porque ela ainda não estava pronta, ainda não estava rápida como gostaria. Ainda não era a kunoichi que deveria ser. “Mais, mais, mais”, repetia se esforçando. As panturrilhas começavam a doer a cada salto entre os galhos que ela recém tocava e já estava avançando para outro ponto. Mantendo-se em movimento o tempo inteiro para conseguir apressar-se, para fazer com que seu corpo se acostumasse. De verdade, sem maiores problemas. Pois a morena sabia que se continuasse lenta como estava, acabaria morrendo eventualmente e seu corpo seria deixado ao relento.

Jogou-se em queda livre até cair numa clareira, o cronômetro foi batido. “Ainda não”, repetiu para si mesma e tocou nele novamente para recomeçar a contagem e saiu tornando-se um rastro escuro no ar. Precisava contornar as árvores pelo solo, movimentando-se com cuidado para não tropeçar em nenhuma raiz exposta, e permanecer avançando mesmo que a dor começasse a ficar insuportável. Se não ultrapassasse meros limites físicos, como poderia crescer e ficar forte?

Terminou o trajeto por entre as árvores, afastando-se boas centenas de metros do cronômetro e então iniciou a segunda etapa do treinamento. Correu escalando uma árvore como se não fosse nada, apenas usando os pés, sem aplicar mais força e chakra do que o necessário, mas mantendo a velocidade máxima que conseguia. Chegou ao topo da árvore e esgueirou-se até um dos galhos, recomeçando aquele jogo de arremessar-se pelos demais galhos no menor tempo possível. Para isso, não eram somente as pernas que se mexiam, mas tudo. Os braços se apoiavam nos troncos quando necessários e se empurravam, as pernas saltitavam em golpes rápidos evitando ficar mais do que um instante sobre a natureza.

Uma de suas pernas estremeceu num dos saltos e ela perdeu o equilíbrio. Foi o momento de testar se seus reflexos e suas habilidades físicas estavam evoluindo tanto quanto ela esperava. A mão direita se agarrou ao tronco, os dedos forçaram-se e a morena embalou-se atirando-se na direção do centro da clareira. Bateu os pés no chão e um choque percorreu seu corpo inteiro, mas ela não se importou, apenas se forçou a ficar em pé e cambaleou em direção ao cronômetro acertando-o. De novo, não tinha conseguido.

Mas não conseguiria continuar mesmo se quisesse, pelo menos não ainda. Sentou-se no chão para descansar um pouco. Não adiantaria nada se arrebentasse sua perna e ficasse impedida de continuar sua jornada. Com fome, pegou a marmita e aproveitou para aliviar a fome que começava a assolá-la. O clima agradável até podia fazê-la relaxar um pouco após terminar de comer, mas ela estava ocupada demais pensando em como fazer para melhorar seu tempo assim que a perna aliviasse o incômodo.

Considerações:

Naoko se esticou fazendo o aquecimento básico antes de começar o treino. Os músculos descansados precisavam acordar para que ela corresse no seu novo trajeto, algo dessa vez mais simples. Bastava capturar alguns peixes. Simples assim, uma atividade de pesca. O único problema é que não teria equipamentos, faria isso apenas usando a velocidade do seu corpo. Para isso foi até um dos lagos com os peixes mais velozes da região. Era difícil capturá-los até mesmo com todos os itens normais e avançados de pesca. A morena sabia da dificuldade, mas sabia que isso ajudaria a ganhar mais agilidade e ela precisava muito ficar mais ágil. Fosse para o uso das espadas ou simplesmente para se movimentar melhor.

Chegando no local ela observou com nostalgia o horizonte. Não era sua primeira vez ali. Mas queria que fosse a primeira em que sairia com a recompensa que buscava, capturado enfim um dos peixes. Ainda não tinha decidido exatamente o que faria ao capturá-lo, além de comemorar a conquista. Não tinha muitas habilidades culinárias para fazer alguma coisa saborosa com aquilo, mas também não devia ficar pensando naquelas coisas antes mesmo de conseguir algo. Revirou os olhos para si mesma, incomodada com a procrastinação batendo na sua porta. Terminou os alongamentos com uma sensação estranha no peito e na boca do estômago. Alguma coisa lhe dizendo: agora vai dar certo.

Entrou aos poucos na água que estava fria por causa da estação. Deixou-se entrar até estar com a água batendo nas coxas, e então olhou em volta na translucidez das águas, encontrando seu próprio reflexo e alguns feixes passando em serpenteadas corriqueiras. Despreocupados, os peixes não pareciam se importar com a presença daquela humana, como se a morena fosse insignificante para eles. Ela fez seu movimento, enfiando a mão na água na tentativa de agarrar um deles, mas não se aproximou um centímetro sequer. A dança aquática do animal era mais veloz e a obrigaria a usar mais do corpo. Moveu-se no próprio eixo, enfrentando a força da massa da água contra as pernas, mas evitando perder velocidade – exigindo mais de si mesma, ao máximo.

Começou a atacar mais vezes, mais depressa em cada novo golpe. A água se espalhava para o alto em cada estocada, mas a mão voltava cheia apenas de água doce. Afiando os olhos, ela mexeu as pernas ficando um pouco mais dentro, o nível d’água alcançou seus quadris. Os peixes começaram a rodeá-la como se estivessem provocando a morena. Ela respirou fundo e fez dois movimentos rápidos, um com cada mão, mirando aqueles malditos peixes. A Hiaru errou o primeiro, mas o segundo alcançou a cauda do peixe e com um pouco de força e astúcia, os dedos se fecharam enquanto o braço se recolheu rapidamente, antes que fosse tarde.

O peixe estava em suas mãos, e ela teve até vontade de sorrir, mas conteve-se.

Considerações:

Criar uma sequência de golpes era complexo, mesmo quando se mirava em bonecos de treinamento ou troncos de árvore. A Hiaru não estava se queixando, longe disso, apenas tentava encontrar os melhores golpes para desenvolver. Assim, começou do básico com alguns socos diretos, alterando sutilmente a direção e velocidade deles contra o boneco de madeira que era utilizado. Apesar de não ter a mesma dose de realismo do que seria praticar com alguém, mas era suficiente para alguém com as habilidades ainda tão baixas na prática do Taijutsu. Aquilo estava prestes a mudar, o aquecimento mostrava no rosto dela que estava pronta para melhorar e pensar em novas formas de atacar.

Os socos eram bastante simplórios, e nem acertavam diretamente o boneco, a morena estava pensando em métodos de confundir os inimigos através dos golpes. Se ela acertasse em cheio seria mais rápido, é claro, mas Hiaru reconhecia que golpes indiretos podiam ser assustadores. Conhecia alguns métodos de outras épocas de treinamentos. Então acelerou o movimento dos braços, movendo o corpo para não aplicar meros socos de punhos fechados, mas também ser capaz de girar o corpo acertando os cotovelos e antebraços na estrutura de treinamento forjada para os membros da vila seguirem evoluindo.

Cada golpe provocava um estalo alto no ar. A marca vermelha deixada na pele tão pálida quanto a neve era apenas um dos sinais de que a morena se esforçava de verdade. O outro sinal era como ela começava a transitar ao redor do boneco, aplicando os golpes como se fosse algo cada vez mais costumeiro. Ainda não era muito elaborados, e nem saberia como fazê-los evoluir tanto assim. Ainda tão novata em conhecimentos sobre o estilo de luta físico dos ninjas, Naoko precisava primeiro se adequar ao nível mais básico, ainda que colocasse um pouquinho de sua essência singular em cada soco desferido ou cotovelada acertada. A Hiaru só precisava se acostumar, mesmo que isso doesse-lhe os membros.

E continuou acertando e mantendo o movimento, gerando uma harmonia entre as pernas e braços, ajustando a postura sempre antes e depois de aplicar um ataque, exatamente como fora ensinada. Numa luta, a morena não poderia ficar parada em hipótese alguma, então não ficaria ali também, mesmo na frente de um ser inanimado com uma expressão tão feia esculpida em madeira e retalhos de panos. Acertou um golpe com a parte de fora do punho fechado, acertando onde seria a orelha de um humano convencional e terminou esticando o braço com a respiração entrecortada, ofegante e suando mais do que imaginava ser possível. Recolheu o braço e deixou-se cair sentada no chão com uma careta frustrada. “Que bicho feio”, pensou analisando aquele rosto falso naquele corpo falso. Ainda tinha mais algumas horas para seguir treinando então levantou-se num salto prestes a recomeçar.

Considerações:

Depois de ter feito uma série de socos, a Hiaru decidiu mudar a postura e treinar seus chutes, que deviam melhorar uma vez que eram membros valiosos em possíveis combates futuros uma vez que sua altura auxiliava em aplicar rasteiras e outras espécies de ataques envolvendo as pernas. Começou de forma semelhante a anterior, mas com chutes rápidos e diretos. Erguendo a perna direita, depois a esquerda, interrompendo o golpe pouco antes de acertar a lateral da cabeça do manequim, trocando a perna de apoio e a postura e refazendo o golpe na sequência, e fazendo assim durante alguns minutos como forma de se aquecer. Depois, era a hora de recomeçar os golpes em movimento, exatamente como antes.

Era mais complicado do que os socos, pois as pernas precisavam fazer uma sintonia totalmente diferente, ao invés de só precisarem se mexer para manter a constância, agora também tinham de se interromper, golpear e voltar a locomover-se, sem que perdesse muito tempo nessa lacuna de tempo, pois em combate isso podia ser fatal. Então a morena fez o primeiro movimento, começando a circundar o manequim de treinamento, parando sobre a perna direita e aplicando um golpe com a canhota diretamente no tronco do objeto. Precisou prestar muita atenção para não acabar perdendo o equilíbrio ao retornar a perna e iniciar o movimento, o timing tinha de ser perfeito.

Continuou dando a volta no alvo, mas dessa vez trocando a perna de apoio e aquela a acertar o material duro. Sentiu a canela arder com o golpe, mas continuou, porém, ao colocar o pé próximo ao chão tentou se mover e cambaleou, agindo pela adrenalina firmando-se no chão e ficando imóvel. Por frustração, deu um salto breve e chutou as costas do manequim, voltando a se mover em seguida, mas agora em pequenos pulinhos, apoiando um pé e acertando o outro no alvo, e refazendo trocando os pés de apoio, alternando a postura entre algo mais suave para o movimento rápido e algo completamente firme ao ponto de forçar os músculos das coxas para fixar-se no chão com precisão antes do ataque.

Terminou de dar a primeira volta e saltou dando um giro, a perna acertou a cabeça daquela peça e o peito do pé dela estalou. Não tinha machucado, apenas aplicado bastante força, talvez pela frustração, ou porque estava cansada. O golpe foi suficiente para ela se dar por satisfeita. Voltou a ficar sentada no chão com as mãos para trás apoiando-se e respirando lentamente, retomando o fôlego e repensando seus movimentos na esperança de achar como melhorar. Ainda tinha mais uma rodada de tentativas e ainda não tinha decidido como faria para ser diferente. Sabia que não dominara totalmente os movimentos das pernas e as trocas de chutes e apoios, mas também sabia que não podia ficar estagnada.

Considerações:

Era a última rodada de treinamento antes de voltar para casa – ou comer alguma coisa. Levantou-se se esticando toda até os cotovelos estalarem e um bocejo escapar sem querer pelos seus lábios. A jovem Hiaru estava tão cansada quanto frustrada. Começou a circular o manequim pensando como faria naquela rodada. Os socos estavam relativamente melhores que os chutes, mas não estavam perfeitos. Nada estava realmente perfeito. Ainda estava muito atrás de ninjas mais fortes, tinha plena consciência daquilo, e por isso se frustrava. Acertou um soco tímido às costas do manequim e continuou se movimentando. Imitando um animal feroz se preparando antes de atacar sua presa. A diferença é que sua presa estava imóvel, não retrucaria nenhum ataque e era dura demais para continuar sem parar e sem se machucar superficial ou profundamente. Acertou então um chute, focando em não se desequilibrar ao retornar ao ponto inicial e terminou de dar a volta no manequim, olhando sua cara inexpressiva com desdém.

Teve uma ideia por fim, mas era um pouco fora do padrão. Faria sequências intercaladas enquanto se movimentava. Era muito mais complexo e difícil, mas começava a achar que se não fosse assim, não teria êxito em melhorar. Primeiro realizou um soco e iniciou os passos, depois, ao recolher o braço, acertou um chute e girou nos calcanhares ao retornar a perna para trás, virando-se num golpe com o cotovelo contra o que seriam as costelas do manequim. Empurrou-se com o mesmo antebraço e voltou a girar para acertar um chute direto. O suor começou a se acumular escorrendo nos cantos do rosto. E os movimentos não pararam, empurrou-se com a sola do pé contra o manequim e deu uma pirueta no ar parando com os joelhos levemente flexionados e avançou num soco direto às costas do objeto. Respirou um pouco mais fundo antes de saltar dando uma joelhada e agarrando-se ao pescoço do alvo para dar uma volta por cima dele e acertar outra joelhada, agora em seu peito, jogando-se para trás na sequência e batendo as pontas dos pés no queixo da cabeça de madeira.

Parou no chão tocando uma mão no chão para não cair de vez. A respiração se mostrava um pouco cansada. Intercalando as coisas pareciam fazer mais sentido, embora ainda não estivesse no ponto ideal. Mas naquele momento era suficiente, precisava guardar energia para outras atividades ainda naquele dia, e nem mesmo tinha comido ainda e seu estômago já começava a se revirar prestes a reclamar. Ficou em pé, observando o manequim de mais perto, e passou os dedos onde mais havia lhe acertado. Os danos eram suaves, não tinham provocado grandes ranhuras naquele objeto de treinamento. Mesmo que tivesse aplicado uma dose considerável de sua força…  

Considerações: