Quando Isabel era mais nova, costumava esconder-se do pai na floresta, ocultando seus rastros e se enfiando como um esquilo dentro de uma árvore oca. Era uma forma de porto seguro, um jeito de ver-se, ainda que temporariamente, livre das correntes de Zahard, de seus monólogos depreciativos e de toda aquela carga de traumas mau resolvidos. Ela sabia que era uma solução temporária, que no fim do dia teria de encarar as consequências dos seus atos e lidar com a ira do pai, mas somente fazendo aquilo a garota conheceria algum segundo de paz.

Como se o presente espelhasse o passado, a kunoichi agora se escondia de toda uma nação estrangeira. Homens, mulheres, adolescentes e crianças; todos estavam ávidos pela recompensa imposta sobre sua cabeça. E por mais que se escondesse, a experiência lhe dizia apenas uma coisa: cedo ou tarde, o acerto de contas viria. A consequência dos seus atos teria um desenvolvimento, ainda que tardio. Esperava estar distante daquela terra quando isso acontecesse, mas bem sabia que aquilo era apenas o desejo de uma criança esperançosa, não a certeza de um shinobi treinado.

— Tudo ao seu tempo. Nem muito cedo, nem muito tarde. — Ela disse a si mesma, sentando-se sobre uma pedra lisa dentro da caverna. Já deviam estar ali a mais de um mês e, pelo andar da carruagem, talvez continuassem por no mínimo um outro mês. Ainda havia muito a ser descoberto sobre os planos do Nidaime Mizukage. Muito trabalho a ser feito se quisesse livrar o continente do oeste de uma guerra mundial. Mas agora era chegado o momento de sentar, descansar e aproveitar o silêncio umbral da caverna.


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Um timbre de voz familiar atraiu seu olhar à escuridão. Era Suzue Senju, sua cúmplice naquele perigoso e complicado ato de invasão. — Yo! — Isabel saudou, colocando uma das mãos rente a testa, quase como se estivesse prestando alguma forma de continência militar. A Uchiha continuava completamente inábil em ler a situação quando se tratava de amigos ou familiares.


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A marcha da kunoichi foi breve. Cada passo dado em direção à Uchiha era friamente analisado, observado no intuito de inferir seus objetivos. Ela vai me abraçar? Isabel questionou-se mentalmente por uma fração infinitesimal de segundo. Não que um gesto como aquele fosse ruim, mas daquele jeito, na madrugada, dentro de uma caverna escura era... droga, por qual razão seus pensamentos irradiavam tanto de um neurônio ao outro e se inflamavam em tantas ideias novas? Foco, ela pensou. Suzue já estava próxima e o braço parecia direcionado ao seu corpo, como se buscasse por alguma coisa entre seus cabelos. Pretende me tocar? Por que, será que há alguma coisa suja no meu rosto? Os muitos treinamentos com Caiaphas tornaram seus sentidos em armas de precisão afiadíssima, incapazes de sofrer com quaisquer fossem os movimentos surpresa. Mesmo assim, a atitude de Suzue era incontestavelmente uma incógnita.

Mas tudo foi respondido com um estralo firme e quente sobre a bochecha da Chunin. Sentiu os dentes rangendo dentro da boca, um calor abrasador que afastava a gelidez do inverno e, consequentemente àquilo, uma estranha náusea advindo do impacto. Quando terminou, pensou em dizer alguma coisa a Suzue, mas a língua foi logo acometida por um gosto metálico, viscoso e que com uma passagem do dedo médio descobriu ser vermelho. Sangue? Não costumava machucar-se tanto quanto a média dos ninjas, então aquilo certamente lhe trouxe surpresa. Surpresa esta que, em seu ápice, se transferiu às feições da menina, que olhava para Suzue com um olhar de confusão na medida em que uma sinuosa linha vermelha lhe escapava do canto da boca.


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Isabel finalmente compreendeu. O punho enraivecido da amiga era um desabafo, não um gesto de violência. A Uchiha tinha se despachado da caverna a alguns dias e Suzue provavelmente pensara em toda a sorte de coisas ruins que pudessem ter acontecido a ela. E ela mesma sabia que uma mente sem respostas tende a ficar solta para fantasiar as piores atrocidades. Ela abaixou-se juntamente à Suzue, sentando sobre o chão para que estivessem na mesma altura, e segurou suas mãos, alisando seus dedos como uma forma de provar que estava ali. — Desculpa. Eu causei problemas, não é? — Ela perguntou, dando um sorriso à amiga para garantir que não haveriam dúvidas sobre a sua integridade física. Estava ali, presente, viva e determinada como nunca. Mas sabia que muito mais do que isso deveria ser dito.

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A Uchiha aconchegou a cabeça da companheira sobre seu corpo, como uma mãe que afaga seu filho, e entrelaçou seus dedos entre os cabelos rosáceos dela. Seus fios eram, como sempre, sedosos e macios, e os dedos deslizavam entre eles como se os molhasse em um rio de águas cristalinas. Assim que se acalmasse, Isabel imaginou ser justo abrir o jogo e contar tudo o que tinha acontecido nos últimos dias. — Invadi um laboratório, lutei com um espadachim da névoa, destruí o laboratório, conheci uma ninja muito forte que me ensinou várias coisas legais sobre a natureza e me tornei procurada na vila. Foi basicamente isso. — Ela contou, sem detalhes, pausas ou explicações mais profundas, quase como se estivesse resumindo uma história que Suzue já conhecesse.

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A kunoichi dos cabelos negros alisou suas madeixas em resposta ao comentário elogioso. A princípio, não era favorável à adição da Genin ao corpo de membros da missão, mas sua astúcia em manter-se informada, ao passo em que não chamava atenção, era de um talento que não se via igual em nenhum outro lugar. Mesmo assim, o pronome "nós" implícito naquela frase ainda lhe causava certo incomodo. — Por enquanto, você continuará aqui. Se estão me procurando, não deve demorar muito para que descubram que não estou sozinha. E eu não posso... — Isabel interrompeu seu discurso, retomou o fôlego e só então continuou — Você não pode se por em risco, pelo bem da missão. — Terminou. Ela fuçou o fundo da bolsa com os dedos, tateando seus cantos até trazer dali um estranho dispositivo prateado, semelhante aos comunicadores que já usavam. Era o comunicador do Agente Duplo. — Preciso que fique com isso. Fiz uma aliança problemática enquanto estive fora e essa é a nossa forma de contato com ela. Não confie em quem lhe responderá através disso, mas se precisar de informações sobre o governo da vila, rotas e patrulhas shinobi, não hesite em utiliza-lo.

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Poucas coisas tiravam a serenidade do semblante de Isabel com tamanha facilidade quanto a ideia de colocar um aliado em perigo. Se esse aliado fosse Suzue Senju, a irritação se inflamava com dez vezes a velocidade. Ela franziu o cenho e encarou a garota com seriedade, procurando entender de onde tinha vindo tamanha insensatez. — A vila está em estado de alerta. Você ouviu, não? Estão todos procurando por mim, por nós. Se você se mover, fizer perguntas, for vista, serão dois alvos em vez de um. E você não pode se defender sozinha. — Isabel arrependeu-se de imediato da última sentença, mas já era fato consumado. A expressão irritada foi suavizando nos instantes seguintes e só então continuou — Também me aliei a um grupo antigoverno aqui em Kirigakure. Minha invasão ao laboratório de desenvolvimento tecnológico teve como objetivo conquistar a confiança deles. Eu consegui, destruí tudo e atrasei bastante o desenvolvimento do potencial bélico da vila. Se você ficar com eles, estará segura até que eu tenha resolvido todas as coisas pro aqui. Lá poderá trabalhar na inteligência e contribuir para nossa missão. Depois, podemos voltar para a vila.

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Isabel sorriu. Um misto de vergonha e felicidade acendeu em seu coração. Ver Suzue argumentar daquele jeito, interpondo contestações e recursos frente a decisão da kunoichi lembravam-na de que tinha um caminho de volta. Uma pessoa querida para quem retornar. E em posse daquilo, haviam muitas poucas coisas capazes de fazer frente à ela. Ou assim acreditava. — Sei que você me ama, mas tem que me deixar ir. — Isabel disse, sem rodeios. A frase não era de sua autoria. Ouvira-a tantas outras vezes sair dos lábios de Alice, sua irmã mais velha, sempre que partia para uma missão. Como uma menina de dez anos, não entendia e nem mensurava o peso daquelas palavras, mas enxergava-as como algo legal a ser dito.

— Zetsubo deve estar enviando suas tropas para a guerra neste exato momento. — Disse Isabel, colocando a mão destra sobre a boca, como quem analisa um quadro renascentista. — Isso significa que esse estado de segurança na vila ficará mais fraco com o tempo. É nossa oportunidade, Suzue, e eu preciso que confie em mim e me empreste sua força para vencermos essa batalha. — Ela pediu em um tom brando e bem compassado, encarando a kunoichi dos Senju nos olhos, externalizando para ela toda a determinação que fazia morada em seu coração.

Isabel  HP: 785/800, Chakra: 1900/1900

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— Eu prometo. — Isabel assegurou. — Nós vamos voltar para casa juntas. — Prometeu firmemente em um segundo período frasal. Por mais que se ferisse e falhasse, ainda que o Kirigakure no Sato inteira estivesse ao seu encalço e as chances não se mostrassem favoráveis, estava resoluta na tarefa de retornar em segurança com Suzue para casa, para a Vila da Folha. Em poucos meses, tudo aquilo seria um boa memória. Um passado para que novas histórias pudessem ser contadas no futuro.

Isabel  HP: 785/800, Chakra: 1900/1900

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