— Alinhe sua postura, Isabel. — Caiaphas advertiu Isabel com dureza. Evadindo-se de um chute alto, a kunoichi deu alguns passos para trás, mas perdeu o equilíbrio no meio do movimento. Tudo parecia muito mais difícil ao sentir na pele as lufadas de vento decorrentes dos golpes da mestra atingindo o ar onde estava momentos antes. Caiaphas não lutava como se estivesse ensinando. Com ela, era como se estivessem apostando a própria vida num jogo mortal. Apesar de não estar acostumada com um método tão brutal, Isabel se limitava a assentir e redobrar o foco. Não sabia quando enfrentaria um daqueles espadachins e nem quantos deles seriam na próxima. Tivera sorte na luta contra Arima Kishou e não queria depender de fortuna da próxima vez.

— Você está distraída! — Esse último aviso acompanhou um chute direto contra o rosto. Isabel interrompeu o golpeio com os antebraços, mas a pressão era demasiada ao seu corpo. Com a angulação do golpe, a kunoichi tombou em um dos joelhos. Caiaphas continuou com a perna erguida, forçando Isabel a encolher mais o corpo. — Se pensar demais na hora H, vai acabar morrendo.

A Uchiha fez uma careta e rolou para frente num impulso rápido, deixando que a perna da mestra explodisse no chão enquanto ela própria tomava distância. Infelizmente o movimento era por demais elaborado e não tardou para que Caiaphas estivesse novamente ao seu encalço. — Movimentos mínimos e precisos, Isabel. Há um motivo para que eu tenha lhe proibido de usar o Sharingan: precisa encontrar sozinha o balanço correto dos seus movimentos, sem depender tanto da sua técnica ocular. Se fizer isso, seu estresse ocular será aliviado e a acuidade visual terá espaço para se desenvolver. — Mas quem dera a mestra estivesse em silêncio explicando. A cada palavra, um novo golpe era desferido, propositalmente encurralando a mente da kunoichi a defender-se enquanto dava ouvidos aos conselhos.

Era um verdadeiro inferno. Mas Isabel não parecia desconfortável com aquilo. Se era daquele jeito que se tornaria forte o suficiente para vencer contra quem quer que ameaçasse Suzue, então mergulharia em mil outros infernos se fosse necessário. — Manda ver! — Ela disse com animosidade, antes que um soco lhe mandasse voando ao outro lado de um lago, onde seu corpo rolou numa carreira violenta e derrubou árvores no processo. Como havia sido ensinada, a kunoichi valeu-se do corpo diminuto para parar o rolamento com um impulso das mãos, pousando com um flexionar das pernas sobre a base de uma árvore.

Isabel  HP: 800/800, Chakra: 1900/1900

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— Hei! — Bradou a kunoichi quando um dos seus poderosos chutes estraçalhou uma árvore. A madeira foi esmigalhada com o impacto e sua estrutura afundou contra si mesma. Em um instante, a árvore ruía, com os galhos mais altos se quebrando sobre os mais baixos e levando toda a estrutura ao chão. Uma cortina de fumaça se interpôs entre Isabel e a relva, mas um balanço fugaz das mãos fez com que o fumo se assentasse mais uma vez sobre a terra. De longe, Caiaphas lhe observava com um olhar orgulhoso. Sua pequena menina estava se tornando uma mulher forte e assistir de perto àquele desenvolvimento era revigorante. Ela saltou do topo de uma árvore e pousou sobre um tronco caído, enquanto fitava a Uchiha nos olhos. Era chegado o momento de mais uma lição.

Ambas mestra e aprendiz se alinharam lado a lado. Era incomum que a jovem princesa Uchiha ficasse por tanto tempo na companhia dos próprios olhos azulados. Na maior parte do tempo, estavam maculados por um carmim brilhante e intimidador. Através da ausência do Sharingan, no entanto, Isabel mostrava-se capaz de acostumar em tempo real com o próprio corpo. Entendia melhor seus limites e isso lhe permitia ir mais além sem que perdesse de vista as suas próprias capacidades. Na medida em que a Dama da Coroa de Fogo deslizava as mãos no ar e socava a atmosfera, a kunoichi de Konoha mimetizava por si mesma cada um dos movimentos, entendo através da memória muscular como é que tudo aquilo funcionava. O movimento dos pés e do quadril serve para a transferência de energia aos punhos, ela percebeu, sem na necessidade de um mestre lhe repassando um mantra. A única coisa que Caiaphas dissera nos primórdios de seus treinamentos juntas era que a única capaz de conhecer o corpo da Uchiha em sua plenitude era ela mesma. Dito isso, não havia nenhum guia, ensinamento ou mantra que pudesse ser usado para dar-lhe força.

A força viria do seu próprio autoconhecimento.

De repente, quebrando o clima daquela calma e remansosa replicação de movimentos, a Dama de Fogo disparou contra ela com o punho ardentemente queimando o ar e se deslocando contra seu queixo. Isabel reagiu em tempo hábil, levando as mãos ao encontro do punho da mestra e deslizando os dedos através dele. Em um attossegundo, a Uchiha ergueu levemente o movimento da mestra, tirando dela o poder da terra e lhe reduzindo à mera velocidade terminal. Ato contínuo, a Uchiha posturou a perna esquerda um pouco mais atrás, como uma base, e permitiu que o corpo de Caiaphas passasse direto, como um touro ensandecido numa tourada. Era um movimento defensivo perfeito, sem pausas e sem rodeios.

Mas a mestra tinha outros planos reservados à kunoichi. Rolou assim que o corpo foi lançado para a frente, tomou postura da maneira como podia e girou com tudo, novamente, contra Isabel. Desta vez permitiu que o corpo se atirasse ao chão, deslizando na medida em que galhos e folhas se atracavam com sua pele. Uma rasteira. Isabel saltou no mesmo momento, mas Caiaphas se adiantou e conseguiu colocar-se de joelhos no meio da rasteira, segurando a menina pelas pernas e girando seu diminuto corpo como se não pesasse mais do que uma pena.

Quando Caiaphas soltou, Isabel voou como um cometa, atravessando galhos que pendiam das árvores e só conhecendo a segurança quando seu corpo alcançou uma árvore distante dali. Felizmente pôde movimentar-se graciosamente no ar, de maneira que quando pousou, uma das pernas estava esticada em base e a outra se recolhera para oferecer conforto, tudo possibilitado graças as valências do chakra. Sem tempo a ser perdido, Isabel desceu e avançou em corrida, dançando na selva e buscando se esquivar de todos os “empecilhos naturais” que sobrestavam a sua passada. Caiaphas, esperando pelo avanço, trouxe os punhos à beira do rosto e aguardou.

E o maior embate das duas finalmente se iniciou. A troca de golpes era firme e intensa, um amálgama de técnica afiada e furor implacável entre as duas kunoichi. Na medida em que os punhos se chocavam, ventos furiosos se afastavam, temerosos de que aquele combate rompesse com o firmamento que separava o céu e a terra. Isabel era menor, seu alcance mais limitado, mas aquilo não parecia impedir a garota de agir, nem tampouco era entrave para que Caiaphas aplicasse seus dolorosos golpes. Mesmo assim, a garota dos Uchiha permitiu que a carne sentisse cada rugido de dor, cada centímetro de ardor lacerante se espalhando por sua pele. E aprendeu com aquilo. Entendeu como a dor era apenas um detalhe passageiro, que podia ensinar muito se fosse aceita como parte de um processo. E a cada golpe dado, Isabel retornava com um propósito maior: o movimento seguinte.

Como duas bestas selvagens, mestre e aluna disparavam como cometas super sônicos entre as árvores, digladiando-se no que parecia uma batalha de mil dias. Infelizmente, todo aquele ímpeto cessou com o cair da noite, quando a fome se mostrou um oponente mais imbatível do que uma era para a outra.

Isabel  HP: 900/900, Chakra: 2050/2050

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Quando o zênite lunar alcançou sua cristalina plenitude, Isabel evadiu-se de fininho da caverna e foi procurar algum canto onde pudesse exercitar-se. Não era comum a Uchiha dever noites de sono à biologia do corpo, mas àquela altura, com sua cabeça a prêmio, era difícil relaxar e só deixar a consciência desligar.

Infelizmente não sabia para onde ia Caiaphas durante a noite. Se soubesse, já estaria ao encalço da mestra em busca de novas lições. Ainda lhe incomodava o fato de que aquela estranha e misteriosa viajante era tão poderosa e não servia a nenhuma das vilas shinobi, mas em razão da condição de vida ou morte em que a Uchiha estava metida, aquela não era nem mesmo remotamente a situação adequada para recusar ajuda. Principalmente se isso ajudaria a proteger Suzue.

Agora que estava de pé e só tinha alguns poucos coelhos, grilos, pássaros e corujas lhe acompanhando, decidiu a Uchiha por treinar algo que já a alguma altura não treinava: sua força. Atingira um estado de domínio corporal que beirava a perfeição com seus treinamentos tutorados por Caiaphas, mas havia um limite para o quanto podia ir sem força bruta.

Dito isso, a kunoichi iniciou seu trabalho amarrando os cabelos negros num coque e se dirigindo a um grande pedregulho estirado na terra, quase três ou quatro vezes o seu tamanho.  Abraçou o grande rochedo com os braços e pressionou sua superfície com os dedos, garantindo solidez à pegada. Após uma contagem de três segundos, Isabel cambaleou para trás, arrastando vários metros de cipós que mantinham a grande pedra presa à terra.  Juntamente aos cipós, a menina de algum jeito trouxera consigo o massivo pedregulho, mas não demorou mais do que alguns instantes para que sentisse a esmagadora pressão da gravidade lhe empurrando para baixo e ameaçando esmagar seus bracinhos. Merda, exagerei um pouco, a ninja reparou. Colocou a pedra no chão, para que pudesse tomar um momentâneo fôlego, e de pronto retornou-a novamente ao seu colo. Deu alguns passos por entre os arbustos baixos, sentindo espinhos e folhas lhe roçando a pele na medida em que avançava, mas não se sujeitou às súplicas do cérebro para que desistisse. Em outras ocasiões, corria uma dúzia de vezes mais rápido que o som, mas sentia que agora perderia até mesmo uma corrida vantajosa contra um idoso.

Enquanto carregava o pedregulho para o que percebeu ser uma estranha colina, Isabel aproveitou para descansá-la sobre um dos ombros. Daquele jeito mantinha o peso da pedra distribuído pelo corpo, mas não arriscava ter de decepar os dedos por ausência de oxigênio. Mesmo assim, carregar todo aquele peso sem o auxílio do Modo Sábio ou do Mana Burst era uma verdadeira prova de fogo.

Mas se ajudava de alguma forma, Isabel ao menos sentia-se à vontade para ter um pouco com seus pensamentos, organizando as muitas decisões tomadas ao longo da semana e tudo aquilo que se sucederia depois.

Na medida em que subia a colina, a menina foi se acostumado ao peso massivo da pedra. Infelizmente para ela, acostumar-se com um desafio era sinal de que não tardaria para que sua execução não tivesse mais efeito. Em razão disso, a kunoichi teve a brilhante ideia de arrebentar duas grandes árvores ao longo do caminho até o topo da colina, amarrá-las com toda a sorte de cipós aos próprios tornozelos e arrastar toda aquela massiva quantidade juntamente a pedra.

— É... agora eu estou realmente delirando. — A menina das madeixas artificialmente enegrecidas admitiu. Uma parte muito influente dentro de sua mente gritava com todo o furor e ímpeto que lhes restasse que aquilo era um absurdo. Mesmo assim, Isabel se limitou a continuar subindo, agora muito mais lenta em razão dos grandes e massivos troncos de madeira, mas igualmente determinada. Os músculos das cochas ardiam como se estivessem em chamas, os tornozelos pareciam a beira de partir e os membros superiores já não mais suportavam a passagem dos muitos minutos. Mesmo assim, a garota persistiu. Precisava de força para sobreviver. Força para proteger sua amiga e voltar em segurança para casa. Força para resolver os problemas daquela nação condenada e dar fim a uma guerra causada por um tirano. Pensar assim, de algum modo, lhe preenchia de forças que nem mesmo conhecia a procedência.

Ela nem mesmo sabia que precisaria de tudo aquilo num momento oportuno. Quando alcançou o topo da colina, um estrondo assustador fez-se presente quando a kunoichi derrubou a pedra no chão a sua frente. Os braços agora dormentes tremulavam, o peito inchava a cada respiração e a mente não parecia assim tão sã de que havia sobrevivido. Ela observou, naquele palácio natural de frente à lua, que muitas horas haviam se passado ao em vez dos minutos o qual planejava ter saído. A colina era provavelmente muito maior do que analisara a princípio e agora teria de fazer todo o percurso contrário, levando consigo as árvores e a pedra que a acompanharam até o fim da jornada.

Isabel  HP: 900/900, Chakra: 2050/2050

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O rastro fulgurante de um cometa vermelho podia ser visto muito acima das nuvens, num plano inalcançável aos homens.

— Desses tipos são raros. O que acha que significa, Senpai? — Perguntou Isabel em um misto de dúvida que logo virou deboche com a entonação do fim da frase.

— No Pais dos Demônios diriam ser o presságio de um bom ano sobre a regência do Rei dos Demônios. No País do Arroz, que provavelmente a safra não vingaria e os infantes morreriam de fome. Em Kirigakure não diriam nada... talvez que é muito bonito.

— E quem deles está certo? — Indagou a Uchiha.

— Todos e nenhum deles. — Caiaphas disse com certeza em sua voz. — Os homens acreditam naquilo que lhes trás um sono manso e sem pesadelos a noite. A crença tem poder e, se poder é realidade, talvez todos estejam certos.

A kunoichi deu um passo a frente. Diferente das muitas vezes em que fazia isso, agora não parecia intencionada a lutar.

— Hoje você treinará com um Kage Bunshin. Ou talvez vários deles, se estiver realmente inspirada. Por meio dessa técnica, você consegue absorver o conhecimento individual de cada uma das suas réplicas, como imagino que já deve ter descoberto. Usando essa habilidade para treinamento te fará evoluir mais rápido em proporção da quantidade de clones usada.

Isabel permaneceu em silêncio. Quando entendeu e se convenceu sobre a lógica por trás dos ensinamentos da mentora, um selo de mão em formato de cruz deu origem a quase quarenta kunoichis de cabelos negros. Aquele era o resultado de todas as batalhas, treinamentos e desafios enfrentados pela garota desde sua chegada ao País da Água. Incomparável à menina indecisa que um dia foi.

A Uchiha e suas muitas sócias dividiram-se em duplas e iniciaram um treinamento de combate físico. A paisagem era de um campo plano e de gramínea baixa, afastado da cachoeira onde treinavam ou do esconderijo de Suzue, de maneira que dificilmente seriam interrompidas por visitantes indesejados. Como forma de não desperdiçar seu chakra, Isabel recomendou que seus clones evitassem de usar força máxima, ainda que em velocidade ou destreza seus movimentos estivessem em seu auge.

E o que deveria ter sido um treinamento simples mais parecia um campo de batalha de guerra. Cada um dos clones observava com atenção os movimentos do outro, valendo-se do Sharingan para tal análise, e respondendo aos golpes das suas semelhantes com um poder neutralizante advindo de um movimento preciso. A magia do treinamento, no entanto, estava no fato de que cada uma delas adaptava seu estilo de ataque à análise da outra, buscando ludibriar sua percepção e garantir um acerto perfeito. A kunoichi original, por sua vez, observava com atenção os movimentos executados e memorizava aqueles que o Sharingan melhor identificava como coerentes com seu estilo de combate, ampliando seu acervo na media em que ia corrigindo os vícios de posicionamento e de ataque.

A Competitividade e o espírito esforçado da kunoichi se mostraram imprescindíveis àquela modalidade de treinamento. Nenhuma Isabel desejava perder para a outra e por isso colocava esforço redobrado no combate para a outra. Aos olhos de Caiaphas ou de outros shinobi, veriam dezenas de vultos colidindo uns com os outros em alta velocidade, se empurrando ao em vez de se socar e criando no improviso novas formas de defender-se. A cada êxito dos clones, era a própria original que aprendia por meio da visualização e da repetição, valendo-se ao máximo da capacidade de memorização do Sharingan.

Era uma corrente verdadeiramente sublime de aprendizado.

— Você sentirá uma absurda quantidade de cansaço mental quando desfizer os clones, mas seu cérebro também absorverá todo o conteúdo aprendido. Quando isso acontecer, ele irá pincelar e selecionar os movimentos repetidos, descartando-os para não lhe sobrecarregar, e então organizará tudo para que você tenha acesso exclusivo às melhores combinações. — Caiaphas explicou em um longo monólogo. Depois, sentou-se abaixo de uma árvore e aguardou o fim do treinamento.

Espera, eu acho que posso avançar um pouco mais do que isso. A kunoichi original pontuou mentalmente. Em vez de meramente observar e imotar, Isabel passou a movimentar-se em alta velocidade ao redor das sósias, observando seus movimentos e somando aquilo com uma observação precisa e detalhada dos arredores; plantas e seus detalhes mais minuciosos, ainda que num nível celular, o efeito dos ventos sobre a relva; as pegadas dos animais transitando pela área, o movimento muscular dos clones que se impulsionavam em ataque. Aquela era uma verdadeira tempestades de sensações sensoriais, extraindo do Sharingan e do corpo físico da kunoichi uma carga tão grande de energia que, ao fim dos seus intentos, Isabel meramente sucumbiu no chão, tendo exaurido com tamanha ostensividade a sua energia interna e os seus olhos que meramente abri-los lhe causava dor.

— Não se preocupe. Amanhã você colherá todos os frutos dessa atividade. Mas agora descanse, você merece. — Caiaphas recomendou, com um sorriso de orgulho no rosto.

Isabel HP: 900/900, Chakra: 2050/2050

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— Caiaphas, quem é você? — Isabel fez a fatídica e proibida pergunta com olhos determinados. A mentora lhe deu uma olhadela como se esperasse por aquela pergunta fazia muito tempo, mas não respondeu. A Uchiha triscou os dentes. Esperara por semanas para que a mestra colocasse as cartas na mesa, avançasse em direção ao assunto ou fosse sincera, mas quando percebeu que aquele delongoso silêncio perduraria por meses, quiçá anos, entendeu que era chegado o momento de agir. Aprendera com Caiaphas a ser uma mulher mais sincera para com seus anseios e sentimentos, afinal.

— Precisamos treiná-la. — A mentora limitou-se a dizer antes de acometer contra a Uchiha. Quando o punho fechado se chocou contra os braços erguidos em proteção, um estrondo foi seguido por uma curta onda de choque. Isabel já não era mais uma jovem fraca e inexperiente que seria arremessada para longe todas as vezes que perguntasse algo. E ela estava resoluta de que faria muitas mais perguntas a partir de agora. Quem era ela, porque aceitara lhe treinar de pronto e com tamanha naturalidade, porque constantemente mencionava fatos sobre o mundo os quais o cidadão médio não fazia nenhuma ideia e, acima de tudo, porque sabia o nome de sua mãe.

— O treinamento fica para depois, mestra. Primeiro as minhas resp- — O comentário foi cortado por um soco bem conectado diretamente contra o maxilar da Uchiha. A menina sentiu os dentes rangendo e a pressão sobre a gengiva, mas manteve-se firme em sua posição, devolvendo o presente com um potente soco arqueado contra as costelas da mentora. — Você é toda silenciosa e misteriosa. Me ensinou muito e me deu o poder para proteger os outros, mas nunca me disse nada sobre você. — Ela saltou sobre a mestra e a perna desceu num chute. Caiaphas segurou as pernas da criança, mas a pressão do golpe fez suas pernas se afundarem na terra, empurrando rochas e barro no seu caminho. — Por que esconde sua identidade de mim? Você é alguma foragida de Kirigakure? — A menina continuou perguntando.

Caiaphas arremessou-a como se fosse um boneco para o alto. — Não sou uma foragida. — Limitou-se a responder. Uma resposta, huh? Isabel pensou. Aquele tipo de resultado nas perguntas feitas não era comum. Na maioria das vezes, a kunoichi terminava nocauteada e na manhã seguinte não lembrava mais que havia feito alguma pergunta. Agora, no entanto, ela tinha a liberdade e o poder para conseguir suas respostas. Mas infelizmente precisaria de mais do que um soco conectado para fazer sua mestra se abrir. Quando caiu, Caiaphas saltou e girou o corpo como uma alavanca, deslizando a perna no ar e lhe atingindo em cheio. A morena se engasgou com o próprio ar na garganta e foi arremessada contra uma árvore, atingindo seu tronco em cheio e caindo de joelhos, arfando sem conseguir manter a concentração e sentindo um formigamento perigoso nas costas. — Você me conhecia antes? — Isabel indagou, sem resultados. Caiaphas permanecia em silêncio como se tivesse feito um voto. A Chunin cerrou os punhos. Disparou contra ela em carga e quando estava próxima saltou, entregando um chute com a sola dos sapatos direto contra o rosto da mentora. Noutra ocasião Caiaphas teria se limitado a desviar, mas ali permaneceu parada, recebeu o intenso golpe com tudo aquilo que tinha. E Isabel sentiu mais uma vez como a mulher era forte. Por mais que a pressão de seu movimento empurrasse e concedesse força à voadora, a misteriosa viajante permanecia estática, sem esboçar qualquer reação de dano.

— Você ainda é fraca. Não tem o poder para descobrir as respostas que precisa ou para sobreviver ao conhecimento. — As palavras eram frias como se uma lâmina de gelo atravessasse raspando o estômago da Uchiha. Os olhos de Isabel se inflaram em fúria como raramente faziam. O azulado era geralmente recheado de ternura ou frieza, mas agora parecia vivo e raivoso como um lobo ensandecido.

— É por isso que aceitou me ensinar? Por causa da minha fraqueza? — A garota perguntou. Pousou sobre a terra e arrancou mais uma vez, forçando os músculos superiores nos socos mais poderosos que podia encaixar. A cada movimento, a menina impunha mais de sua estamina nos golpes, energizando-os com velocidade e poder bruto.

— Sim, exatamente isso. Se você não ficar mais forte, nunca terá o direito de saber sobre seu passado, sobre quem eu sou e sobre quem sua mãe foi.

O comentário atingiu a kunoichi como se mil dardos se cravassem em sua carne. Ela cambaleou para trás, arrastando os pés, e os olhos outrora furiosos se transmutaram em um misto de confusão e temor. Mamãe? Ela perguntou a si mesma, buscando entender se era aquilo mesmo que havia ouvido. Caiaphas, por sua vez, continuou irredutível em seu dever de ensinar e, assim que a garota recuou, deu um passo a frente e afundou ambos os braços na direção de seu peito. E sua força era absoluta e incontestavelmente esmagadora. Isabel segurou os punhos assim que chegaram, mas logo descobriu que aquele era apenas uma fração infinitesimal do problema. Os punhos fechados da mentora continuaram descendo, afundando, empurrando e tomando espaço. Não era alguém que podia ser facilmente parada por uma menina sem vontade, por alguém que não entendia quem era ou o legado que carregava em seu nome. Não. Para vencê-la, Isabel teria que abraçar uma dúzia de conceitos que não entendia, abdicar de uma dezena de outros que pensava conhecer e se permitir enxergar o mundo sob uma nova ótica.

E era por isso que a Kunoichi não estava pronta. E naquele passo, ela nunca estaria. — GYAAAAAAAAH! — Os berros eram uma resposta instintiva e natural de uma menina em desespero e fúria fazendo o possível para conseguir força. Não era forte o suficiente. Não sabia a verdade. Não estava pronta para saber. Ela própria já sabia disso, não era necessário ser ensinada sobre o óbvio. Apesar disso, seu espírito continuava dando tudo de si para se interpor ao avanço de Caiaphas, mostrando à mentora que havia muito mais do que preto e branco, força e conhecimento, por trás de Isabel Uchiha.

E de repente. Um período em branco. Quando recobrou a consciência, a kunoichi continuava em pé, no meio da floresta, sem nenhum outro arranhão além daqueles já colecionados. Em uma olhadela preocupada pelos arredores, observou uma Caiaphas confusa e surpresa sentada sobre o chão. Os pulsos estavam vermelhos, marcados pelo que pareciam ser dedos, e a terra abaixo dela havia se rasgado em tantos rochedos menores envoltos em terra que era difícil saber se estavam no mesmo lugar de antes ou em um diferente. — Eu te contarei tudo.... em breve. Isto é, se você conseguir terminar o meu teste.


Isabel  HP: 900/900, Chakra: 2050/2050

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