Em meio às incertezas externas de uma guerra escalonando, escondido por debaixo de um pequeno alçapão de madeira naquela morada simplória de Kirigakure, protegido da chuva incessante e dos sons da vida, estava Darkshine. Sua mente trabalhava como um relógio e suas engrenagens. Seus milhões de neurônios conversando entre si e processando aquilo que seus olhos captavam. O livro aberto no momento buscava criar paralelos entre a Matemática e a Filosofia, criando lógicas interessantes para o raciocínio do garoto.

- Iori?! – A voz feminina e calma cortou a atenção do garoto por um instante. – Filho? Está com fome?! – Sua mãe falou do último degrau da escada de madeira, enquanto segurava um sanduíche nas mãos.
- Iori não, mãe! Darkshine. – Respondeu o garoto de bate-pronto.
- Que Darkshine o quê, menino... Deixa de maluquice... – Ela falou, imóvel.
- Ahhh mãe... Tá tá... Deixa o sanduíche aqui na mesa, tô com fome sim... –
- E eu lá tenho cara de sua empregada, menino?! Venha pegar! – O tom de voz da mulher poderia fazer tremer o mais destemido dos Shinobis.
- Ahhhhh... – O garoto bufou. – Tá bom, tá bom. – Caminhou com passos pesados, que faziam um som abafado ecoar por todo o ambiente. Pegou o prato com o sanduíche das mão dela e começou a retornar para a sua mesa.
- Não está se esquecendo de algo, garoto?! –
- Obrigado, mãe... –
- De nada... – Ela sorriu. – Darkshine... – Respondeu para agradar ao filho. Como um dono dando biscoito para seu cachorro comportado

Mastigava pedaços do lanche enquanto se mantinha com a leitura constante do livro. – Tudo é número... – Refletia diante das palavras. – Harmonia e ordem... – Repetia um trecho do livro sorrindo, enquanto as palavras desenhavam o sentido na sua consciência.

Sentiu-se inspirado e abriu a gaveta da mesa a sua frente. Dentro delas algumas pequenas ferramentas e um relógio de pulso. Colocou-o sobre uma bancada pequena ao lado e se aproximou, com uma lupa e uma pequena chave estrela. – Senhor Relógio de pulso, sou o Darkshine, cirurgião do dia, tudo bom?! – Com uma brincadeira, o garoto continuou. – Soube de uma condição esquisita aqui no seu ponteiro dos minutos. – Ele se mantinha animado, enquanto a chave retirava os pequenos parafusos, revelando o interior das engrenagens do relógio. – Calma, calma... Sou o melhor cirurgião de relógios de toda a Kirigakure! Deixe-me te ajudar... – Com alguns movimentos e um pequeno desprender de um líquido viscoso, o garoto começou a “futucar” o acessório. Retirava algumas sujeiras que pareciam estar impactando a engrenagem e observava um possível funcionamento no ponteiro, porém as custas do não funcionamento do outro, responsável pela indicação das horas. – Pô... Vamo lá de novo... – Não existia nenhuma chateação naquelas palavras... Falhas eram degraus para a escada do conhecimento.

Voltou mais uma vez a atenção para o relógio e suas engrenagens. Um ajuste aqui, outro acolá e aos poucos as coisas pareciam começar a funcionar, de fato. – Se sentindo melhor, senhor relógio?! – Tentou mover o ponteiro mais uma vez, mas este se mostrou um tanto rígido. – Quase né?! Tá quase! – Direcionou a mesa num reflexo inconsciente para o prato e se deparou com uma surpresa. – Deu ruim... MÃÃÃÃE! – O grito poderia ser escutado até pela morada vizinha.

- O QUE FOOOOI MENINO?! – A mulher respondeu com um grito na mesma altura.
- QUERO OUTRO SANDUICHE! – A sequência de berros continuou.
- VEM BUSCAAARRRR! –
- PÔ MÃE! TRÁS AQUI! –
- IOOOOORIIII! – A mulher encerrou, deixando claro com aquilo, que ele deveria subir para buscar o seu lanche.

Darkshine aceitou a derrota e se direcionou para a cozinha, sussurrava algumas palavras de insatisfação, garantindo que fosse impossível para que alguém conseguisse ouvi-lo. – Cadê o lanche, mãe... – Questionou, enquanto caminhava de cabeça baixa. A mulher apenas apontou o indicador para o outro prato e o garoto o buscou. – Obrigado... –

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- Pronto Senhor Relógio... Vamos resolver isso de uma vez por todas... – Sentou-se no banquinho de madeira a frente da bancada, estralou os dedos e deu uma mordida no novo sanduíche. – Vamos mexer aqui um tiquinho... – Folgou um pouco uma das engrenagens. – Sentiu isso?! – Perguntou ao relógio. – Agora mais uma volta aqui para alinhar tudo... Acho que tô te entendendo Senhor relógio... Finalmente ESTOU TE ENTENDENDO! – O garoto elevava a voz com a crescente animação que o acometia.

Se o Senhor Relógio fosse uma pessoa, ele sorriria aliviado. Estava curado. Darkshine olhou animado por alguns segundos para os ponteiros movimentando-se em sinergia. Era notável a satisfação na resolução daquele problema e enquanto dava a última mordida no sanduíche, deu dois pulos de alegria. – Consegui! –

O garoto respirou fundo e pragmaticamente começou a arrumar as coisas em seu cantinho. As ferramentas voltavam para a gaveta, os dois pratos eram empilhados. Pegou uma flanela e despejou um liquido claro na mesma, limpando por completo o agora consertado relógio de pulso. Seguiu com o acessório em uma mão e na outra, os dois pratos que a algum tempo transportaram seus sanduíches.

- Ô mãe! – Gritou, enquanto colocava os pratos na pia. – O Papai tá em casa?! –
- Não, filho! Deu uma saída! –
- Avisa que consertei o relógio dele! Vou deixar lá no quarto!
- Viu! Ele vai adorar! -        

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